"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

sábado, 5 de junho de 2010

A Amazônia não é a Antártida!



A opinião de Cristovam Buarque sobre a Internacionalizacao da Amazonia:

O Globo - 23/10/2000 Opinião - O mundo para todos


CRISTOVAM BUARQUE



Durante debate recente, nos Estados Unidos, fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro.



Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para uma resposta minha.



De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade. Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada,
internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.


Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da Humanidade. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo . O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado .


Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.


Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola.


Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.



Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.

CRISTOVAM BUARQUE é professor da UNB, autor do livro \"A cortina de ouro\"


A AMAZÔNIA NÃO É A ANTÁRTIDA!
Contraponto - por Thomas Korontai

Lendo o artigo de Cristovam Buarque, professor da UNB, em recente publicação, considerei importante uma reflexão. Aliás, o tema parece que vem ganhando cada vez mais importância sendo debate na rádio CBN por estes dias, envolvendo um Senador da República (não me lembro o nome) e o Vice Governador do Amazonas. Ele propõe que enquanto humanista, se a Amazônia deve ser internacionalizada, assim deve ocorrer também com o Museu do Louvre, os arsenais nucleares, o capital financeiro do mundo, o petróleo, as crianças abandonadas, etc. e enquanto for tratado como brasileiro, a defesa intransigente da Amazônia como nossa.

Analisando o assunto, não fica difícil perceber que a ameaça internacional é mais uma conseqüência da desorganização política e administrativa que assola o país, causado pelo modelo equivocado de federação adotado. Segundo o Vice-governador do Amazonas, a Amazônia brasileira ocupa cerca de 45% do território nacional e tem apenas 10 milhões de habitantes. Proporcionalmente à Europa, esta área teria 500 milhões de habitantes. O vazio demográfico e o vazio econômico propiciam a rapinagem e a cobiça de terceiros, sejam contrabandistas, traficantes ou diplomatas estrangeiros.

Considerando estes aspectos, há que se pensar que alguns estados como o Amazonas, Acre, Roraima, Amapá e talvez Rondônia e Pará, devessem voltar a ser Territórios Federais sob o controle da União. Se analisarmos a Constituição dos Estados Unidos, há um artigo que trata da transformação de territórios da União em novos estados, mencionando condições que possibilitem a habilitação do estado pretendente, tais como, população mínima, taxa de ocupação, governos organizados, auto-sobrevivência, etc.

Em uma federação plena de estados autônomos (www.federalista.org.br), com um Congresso formado por deputados e senadores menos preocupados com as barganhas políticas e clientelismos regionalizados (típicos de disputas por verbas centralizadas em Brasília por um modelo de tributação e orçamento totalmente equivocados) e mais ocupados com as questões da Nação e da globalização, com certeza teríamos projetos de integração dessas ricas e cobiçadas áreas brasileiras ameaçadas pela tese da soberania relativa e internacionalização. Aliás, duas providências deveriam ser tomadas de imediato:

a) posicionamento das Forças Armadas nas fronteiras incluindo operações de caça à contrabandistas e narcotraficantes, junto com o auxílio e proteção às populações locais, integrando-as à Nação;
b) federalização dos estados citados, tendo como interventores os próprios governadores de cada um.

Posto isto, início de projetos de viabilização econômica e integração efetiva com planejamento cuidadoso quanto à preservação do meio-ambiente. Apenas um exemplo dentro do campo econômico: na Suíça existem 2 plantas medicinais que só crescem lá; na Alemanha, 7 plantas e na Amazônia, 20 mil! Não fica difícil imaginar que temos a maior bioreserva do planeta...e qual é o próximo paradigma da Humanidade pós-Internet? A Biotecnologia.

Se não adotarmos providências urgentes e pragmáticas, não só nessa questão, mas quanto ao Brasil como um todo, os problemas, aqueles que são do tipo \"não é comigo\", serão...

Aliás, não se deve esquecer em eliminar a causa disso tudo: o modelo político-administrativo brasileiro muito centralizado, cuja sistemática redistributivista proporcionou o gigantismo estatal cuja gordura sufoca a sociedade ao tributar a produção, burocratizando o dia a dia dos agentes sociais, encarecendo e emperrando o país, distanciando-o cada vez mais da conquista do conceito de Nação. Se o movimento de internacionalização da Amazônia é capitaneado pelos Estados Unidos, é porque a nação americana organizou-se, politica e administrativamente em uma federação de estados autônomos que os levou a se transformar no maior império econômico e militar do mundo. Cumpre-nos inspirarmos-nos - benchmark na boa técnica de administração empresarial - neste modelo vencedor. Para isto estamos formando em diversos estados, o Partido Federalista (já fundado em Brasília e publicado no Diário Oficial da União de 16.04.99) e iniciamos nossa participação nos debates nacionais, buscando promover um novo foco, distanciando-nos das falácias e falta de objetividade que inundaram o cenário do País. O foco é o de objetividade, racionalidade e agilidade com propostas concretas e coerentes para a realidade de um território de 8,5milhões de km2. O modelo que propomos em sua essência já foi testado e aprovado com certificado de 230 anos de uso com resultados bem conhecidos...

O texto publicado por Cristovam Buarque, humanista por excelência, pode ser encarado, na minha modesta opinião e com a devida vênia, como uma boa peça de retórica mas eu pergunto: você trocaria a Amazônia pelos poços de petróleo? Pelas pirâmides, pelo Museu do Louvre, pelos arsenais nucleares?

Quem sabe, a Amazônia, com bilhões de metros cúbicos de oxigênio produzidos diariamente, cada vez mais valioso como elemento vital, com as mais de 20 mil plantas medicinais já catalogadas (fora o que não sabemos ainda), com muitas outras riquezas ainda não descobertas, e de quebra ainda, o potencial eco-turístico, possa valer mais, em um mundo que dará cada vez mais valor para o que nunca foi dado valor até agora, face ao estágio de desenvolvimento tecnológico da Humanidade, do que todo o capital financeiro que troca de mãos, diariamente, nas bolsas de todo o mundo. Se usarmos nossa inteligência e nosso direito à soberania, (que ainda temos) estaremos dentro do III Milênio como país vedete, não apenas como celeiro valioso, mas como centro tecnológico mundial. Pérsia, Roma, Espanha, Portugal, Inglaterra já tiveram suas fases. Estados Unidos têm a sua. Se quisermos e agirmos (\"federalisticamente\") será a nossa vez. Sem deixarmos de ser humanitários...

Escrito em 24.10.2000

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