sábado, 21 de junho de 2008

A Redentora

A PRIMEIRA MULHER CHEFE DE ESTADO DAS AMÉRICAS
por: Nelson Ricardo

Isabel II da Espanha, também era rainha em Cuba, São Domingos e outras colônias espanholas do Caribe; Vitória da Inglaterra, também foi rainha no Canadá. Qualquer das duas, porém, jamais pisou o solo das Américas.

Dona Isabel I, Imperatriz "de jure" do Brasil, após a morte de D. Pedro II (1891) foi a primeira mulher nas Américas a assumir a Chefia de Estado. Chefiou o Estado brasileiro durante períodos de Regência (maio de 1871 a marco de 1872, marco de 1876 a setembro de 1877; junho de 1887 a agosto de 1888), num total de três anos e meio, que foram o suficiente para marcar sua passagem na nossa história.

Depois dela, a primeira mulher a chefiar um Estado em terras do Novo Mundo, foi a presidente da Nicarágua, Violeta Chamorro, desde 1988. Um século depois! Os Estados Unidos, "paraíso da democracia", não elegeram até hoje, sequer uma vice-presidente, tamanha a resistência a idéia de uma mulher assumir tal condição. 0 Brasil Império alem de mostrar um caminho social, revelou as Américas que a mulher e capaz de liderar uma nação com sabedoria e capacidade.

A figura impoluta e capaz da Princesa Isabel, como sucessora do Imperador e como Regente, não foi suficiente para que os políticos e a elite machista permitissem que ela viesse a exercer em caráter definitivo o Poder Moderador. Num país onde a mulher não devia se imiscuir em assuntos de política, as únicas atividades femininas permitidas eram as lides domésticas, ou servir aos desejos e luxurias dos homens. Por isso, as elites dirigentes apenas a suportaram na Regência, por ser uma chefia de Estado temporária.

Uma das causas mais certas do golpe que derrubou o Império foi esse machismo. Somava-se ainda a circunstancia de Dona Isabel ser casada com um estrangeiro (mas, que se naturalizou brasileiro), o Príncipe Gastão de Orleans, Conde D'Eu. Meras desculpas!

Rui Barbosa, no auge de sua emoção republicana, chegou a afirmar que a Princesa Isabel e o Conde D'Eu já "governavam o Brasil num inadmissível consorcio bragantino-orleanista" com a decadência da saúde do Imperador, que sofria de diabetes. Mais tarde, "depois de tanto ver triunfar as nulidades", o grande Águia de Haia iria se lamentar e pedir desculpas por tudo o que havia feito para acabar com a monarquia no Brasil!

Além disso, os escravocratas também não perdoavam a Princesa Isabel por ter ela inspirado e assinado a Lei Áurea. 0 Barão de Cotegipe, contrário a lei, disse em ameaça a Princesa-Regente; "Vossa Alteza redimiu uma raça, mas perdeu o trono!" Cotegipe fora afastado da Presidência do Conselho de Ministros pela própria Regente, em razão de ter se oposto a extinção da escravatura. Idosa e já no exílio, Dona Isabel disse que nunca hesitou em inspirar ou temeu em assinar a Lei Áurea, mesmo sabendo que este seu ato colocava em risco a continuidade da monarquia.

São valores que os senhores da aristocracia brasileira não poderiam ver exibidos por uma mulher, principalmente como Chefe de Estado. Significaria mudar conceitos e abrir novos horizontes na cultura nacional. 0 papel da mulher brasileira dentro do contexto social teria sofrido mudanças sensíveis já a partir daquele momento. Dona Isabel não seria apenas Imperatriz, mas também filha, esposa e mãe.

Sua atuação na Chefia do Estado inspiraria uma transformação nas atitudes das mulheres brasileiras e o machismo típico dos latino-americanos começaria a perder terreno. 0 reinado de Dona Isabel teria durado até 1921,data de sua morte. Como autentico espelho de seu pai, tudo indica conduzisse o País a um estado privilegiado de tranqüilidade social, como foi o Segundo Império. A nação estaria mais preparada para enfrentar os desafios que o Pós-Segunda Guerra iria trazer para o mundo contemporâneo.

Esse espirito foi sintetizado por Rui Barbosa, quando se penitenciava de seu erro histórico. Sua sobriedade lhe permitiu avaliar a situação e dizer:
"Havia uma sentinela vigilante, cuja severidade todos temiam, e que, acesa no alto, guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justica e da moralidade. Era o Imperador Dom Pedro II."
(Discurso ao Senado Federal, dezembro de 1914)

No exílio, a Princesa Isabel continuou usando todo o seu prestígio internacional em favor dos interesses de brasileiros residentes na Europa, sobretudo na Franca; e também fazendo valer a sua influencia interna, através de intensa correspondência com monarquistas que ocupavam postos no Poder Público republicano.

Na medida das possibilidades que lhe deixava a distância, ate o fim da vida prosseguiu fazendo particularmente o que fora preparada para fazer publicamente.

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