quarta-feira, 4 de maio de 2011

Príncipe de Paraty



NÃO TEMOS UMA REPÚBLICA COMO MANDA O FIGURINO’


Dom João de Paraty elogia a monarquia e critica nações pouco democráticas.



Na semana em que o mundo parou para reverenciar a monarquia britânica, com o casamento de Kate e William, volta-se a discutir o papel da realeza. Dom João de Orleans e Bragança, na condição de trineto do último imperador do Brasil, Dom Pedro II, considera existir hoje “monarquias mais republicanas do que algumas repúblicas na América Latina”. 

Joãozinho Príncipe, como é conhecido no Rio de Janeiro, é fotógrafo – com mais de dez livros publicados – e dono da Pousada do Príncipe, em Paraty. Ele falou à coluna.

Na sua opinião, o que o casamento de William significou para o povo britânico?

Entre outras coisas, demonstrou que a monarquia vem se modernizando juntamente com a sociedade. A união de Charles e Diana ainda seguia uma adequação social. Mesmo não estando apaixonado, ele avaliou que ela seria uma rainha melhor para seu país. Isso ratifica a dedicação que uma família real deve ter com seu povo. Está aí um exemplo nítido do senso de dever cívico. 

Em 30 anos, o casamento só por adequação parece ter mudado. Kate e William formam um casal moderno e apaixonado. E é sensacional ela ser plebeia. Mas tem de estar à altura para representar o país.

E por que esse frisson ecoando no mundo todo?

Há milênios, reis e rainhas estão no imaginário de todos nós. Castelos, palácios, o rei à cavalo… Mas fica fútil quando só se fala de casamentos e fofocas. Temos que compreender a importância da monarquia.

Qual é a importância da monarquia para o mundo hoje?

Antes de tudo, precisamos deixar claro que falarei de monarquias democráticas que atuam em sistema parlamentarista. Como, por exemplo, Dinamarca, Suécia e Inglaterra. Não estou falando de ditaduras como as da Arábia Saudita ou Kuwait. Isso posto, o papel da família real hoje é, antes de tudo, diferenciar Estado de governo. 

Nos sistemas presidencialistas da América Latina, as duas instituições são representadas na mesma figura do presidente, o que muitas vezes é até conflituoso. Porque o Estado não deve ter partido político e ideologia. Mas, sim, representar a identidade, a cultura, a união territorial de um país. É para isso que servem hoje as monarquias em parlamentarismo democrático.

O senhor acha a monarquia um sistema democrático?

Já viu maiores democracias que Suécia, Dinamarca e Holanda? São monarquias com princípios republicanos: igualdade e altos índices de desenvolvimento humano. Em alguns países ainda são conservadas algumas tradições antigas que deveriam ser modernizadas. Mas essas democracias não gastam dinheiro à toa. 

Não investiriam em algo que não achassem útil. Enquanto a monarquia for necessária para o equilíbrio político, eles vão usar. E não tenha dúvida de que quando este modelo não for mais eficiente, acabarão com ele. E de forma pacífica.

Acharia viável a restituição de uma monarquia no Brasil?

O País tem um histórico monárquico muito positivo. Funcionou bem no período de Dom Pedro I e II. E se o Brasil tem hoje o tamanho continental em uma América Latina fragmentada com países de língua espanhola, deve-se à vinda de D. João VI e a sua visão de unidade nacional. Agora, se poderia dar certo resgatar um modelo que há cento e tantos anos não está mais aqui? É complexo, mas poderia.

Como é o engajamento político de sua família?

Tenho minhas escolhas políticas, mas pertencendo a esta família não acho que devo participar de disputa partidária. Minha luta é pelo País, pela democracia. Já fui convidado para ser candidato ao Senado. Até o Brizola me chamou, mas não dá. Esta deve ser a postura das famílias reais.

O que acha da República atual?

Eu prefiro o parlamentarismo democrático. Mas ainda não temos uma República como manda o figurino. Quando políticos assumidamente mensaleiros são recebidos de braços abertos em cargos públicos só me faz pensar que trata-se de uma “República das Bananas”. Não se respeitam valores de igualdade, cidadania, liberdade, punição para quem quer que seja. A máxima de que punições não valem para “amigos do rei” se aplica para “amigos do governo”. E isso não é de hoje.

Está a questão dinástica brasileira? Ainda há disputas entre o ramo de Petrópolis e o de Vassouras para definir qual parte da família imperial detém os direitos sucessórios?

Isso é uma questão menor. Não tem nem valor jurídico, é só uma questão histórica. Quem é o sucessor? Não é ninguém, quem manda é o povo. Se por acaso houvesse uma monarquia no Brasil, num modelo moderno com rei de terno e gravata, acho que estaria mais alinhado ao ramo de Petrópolis, do qual eu pertenço, que é mais sintonizado com o Brasil de hoje. 

Existe uma discussão com uns primos meus, mas eles têm um discurso pouco atualizado, muito menos adequado a uma monarquia moderna.

É mais uma questão de ser porta-voz da família imperial?

Não. Eu sou porta-voz da minha família e dos ideais que foram de Dom Pedro I e II, baseados em respeito ao País. Mensaleiros não respeitam a nação e não merecem segunda chance para a vida pública. É uma traição.

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