segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Corrupção e o limite da tolerância


Todos os países do grupo BRICS são considerados opacos e de elevada incidência de corrupção. Tal fato é identificado nos principais indexadores que acompanham a questão.
Para informar, cito os seguintes relatórios: Global Integrity; Opacity Index de 2009; e o mais conhecido, Transparência Internacional, lançado recentemente. Nossa situação – como era de esperar – não é nada boa.
Para quem acompanha o noticiário, o desempenho do Brasil não é novidade. Desde a redemocratização, para não ir muito longe, temos colecionado escândalos de todos os tipos. A mesma Receita Federal que persegue os contribuintes mortais com o peso de uma carga tributária excessiva parece não se importar com as riquezas injustificadas de muitos que habitam o noticiário político nacional.
Aparentemente, apesar de resultar em perdas que equivalem ao tamanho econômico da Bolívia, de acordo com matéria especial da Folha de S.Paulo de 4 de setembro, o tema não desperta o interesse do brasileiro. As marchas da maconha e as paradas gay atraem muito mais a atenção e pessoas do que as manifestações contra a corrupção.
Fernando Rodrigues, um dos mais argutos observadores da política nacional, diz que a corrupção é resultante, entre outras coisas, do fato de que o Estado chegou primeiro que a sociedade em Brasília. É verdade.
Embora cause indignação, a corrupção, bem como o tamanho e a ineficiência do Estado no Brasil, ainda não incomoda. Só incomoda quando a televisão aberta, de forma consciente e direcionada, resolve aplicar doses cavalares de informação na nossa complacente sociedade.
O caderno especial sobre corrupção da ‘Folha de S.Paulo”, apesar da abundância de fatos e exemplos, não esgota o tema.
De certa forma, chega a ser superficial, ao deixar de abordar o universo das falcatruas que ocorrem ou podem ocorrer com o mau uso do dinheiro público. Por exemplo, os convênios com ONGs; as compras com dispensa de licitação; o uso de empresas laranjas; o desvio puro e simples de verbas com obras fantasmas. O repertório é tão vasto que poderia ilustrar uma enciclopédia.
Faltou explicar que a corrupção interessa a muitos na sociedade e que não há corrompido sem corruptor. E que, muito além da esfera das relações público-privadas, existem desvios nas relações entre entes públicos também.
O que fazer? As soluções são simples, mas de implantação quase impossível. Pelo simples fato de que a moralização absoluta do Estado significa destruir vacas sagradas e destituir poderosos de plantão. O que, sem uma revolução, jamais vai acontecer.
Caso houvesse interesse, o custo seria a destruição do modelo político brasileiro e a emergência de uma nova ordem no país.
Os avanços devem ocorrer na margem, aos poucos, e dependentes do acaso, das investigações e do fato de que existem homens e mulheres públicos dispostos a melhorar a qualidade da política no Brasil. Sobretudo a expansão da conscientização política do povo.
Nesta semana está prevista, em Brasília, uma marcha contra a corrupção. Veremos se representará um ponto de inflexão no tema para a sociedade brasileira ou se será mais um episódio isolado.
Murillo de Aragão

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