segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O Império e a Sociedade




Como império tinha o Brasil uma corte, mas esta corte nunca foi suntuosa, muito menos dissoluta: foi sempre singela e tão virtuosa quanto pode caber na fragilidade humana, ao
ponto de ser modelar. Não tinha a severidade militar prussiana antes ou mesmo depois do Império, porque Guilherme I não mudou com ser “ plus que roi “


No seu paisanismo, visto as veleidades guerreiras nutridas por Dom Pedro I findarem com a desastrada campanha do
Sul e a pouca inclinação do país pelas aventuras belicosas, foi simples e frugal, com seus ressaibos de intelectualismo. Aliás, o exemplo do primeiro imperador frutificara. 


Sua abdicação foi tanto a expiação dos seus erros de soberano constitucional, educado num meio absoluto, como de suas faltas de particular. Elevando a concubina acima da soberana, determinou uma precoce decadência do regime monárquico e justificou muitos ataques que lhe foram assacados. 


Foram precisas toda a sabedoria e todas as virtudes do seu sucessor, além do melancólico espetáculo das lutas civis da Regência, para permitir que o Império se prolongasse por meio século nas suas mãos. O quadro seguinte evocado por Sales Torres Homem no seu Libelo do Povo - já por um título revolucionário que relembra Hebert e Marat – não se afigurou exagerado a espíritos que cultivavam o ideal republicano e aos quais não eram antipáticas as cores vermelhas do jacobinismo. 


Ouçamos o futuro conservador monárquico: 


“Preocupado da sua pessoa, dos seus direitos, das suas paixões e dos seus prazeres, ele (Dom Pedro I) não estabeleceu relação alguma entre a ventura dos seus súditos e a sua própria, e isolou-se no meio da nação a mais dócil e a mais reconhecida. Como Luís XIV, fez do seu Eu o Estado, sem entretanto imitar o grande Rei a não ser no despotismo, na pompa, nos validos e nas amantes. 


Para suprir o apoio moral da opinião que se esquivava, promoveu mais do que nunca o espírito militar, forçando o caráter pacífico e industrioso que deve convir a um
povo agrícola, habitando um território enorme, deserto e sem vizinhos formidáveis.


Com as mesmas vistas fez consistira a prosperidade do Brasil, não no progresso das suas artes e da sua agricultura, mas no esplendor fofo de uma corte aparatosa, para o que era mister fomentar por seduções enganadoras a paixão de um luxo destruidor e recompensar por meio de distinções honoríficas aqueles que reduziram à miséria a rica herança de seus pais. 


Nada faltou ao espetáculo dessa grandeza inerte, aparente e ridícula, nem sequer uma aristocracia de chinelos, alimentada pelo orçamento e cujos brasões heráldicos o povo não podia contemplar ser rir. 


De tudo isto nem a fumaça se enxergou no dia 7 de abril: Dom Pedro I estendendo os braços em redor de si, só deparou com a solidão, o vazia, as trevas e o desespero.”


As catilinárias são um gênero literário fácil e de infalível popularidade. Eram os marqueses de primeiro reinado que assim ridicularizavam o titular do segundo reinado. O Libelo data de 1838. 


Em 1853 Timandro ii, convertera-se à conciliação: seria diretor do Tesouro, Ministro da Fazenda indicado pelo Imperador, Visconde de Inhomirim, por fim senador, rompendo o monarca com o seu gabinete por motivo dessa escolha que constitucionalmente cabia nas suas atribuições soberanas. 


Dom Pedro II dava neste caso um dos exemplos mais flagrantes da sua superior tolerância, a qual foi constante para as faltas políticas, absoluta para as convicções ou opiniões mesmo adversas, e apenas reservada para as faltas de moralidade e os atentados contra a probidade. 


A honestidade era de rigor. Os homens de estado do Império, exceção feita dos que eram proprietários rurais, não dispunham na sua quase totalidade de fortuna”.


Brasil Imperial

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