S.A.I.R. o Príncipe Dom Rafael Antonio do Brasil concedeu uma
entrevista ao jornal alemão FAZ.NET - Frankfurter Allgemeine Zeitung.
Sua
Alteza falou sobre sua formação, carreira profissional, seus deveres enquanto
Príncipe do Brasil e futuro Chefe da Casa Imperial, de sua intenção de dar
continuidade às tradições da Família Imperial e de fazer um casamento
dinástico, além das perspectivas de restauração da Monarquia no Brasil.
Segue a tradução da entrevista para o português
A FAMÍLIA IMPERIAL DO BRASIL
“Nós estamos com as pessoas nas ruas.” - Dom Rafael Antonio do Brasil.
O Brasil já foi um Império. Em tempos de instabilidade
política, alguns buscam trazer a Monarquia de volta. Dom Rafael, tetraneto do
Imperador Dom Pedro II (1825-1891), sabe como reinaria pelo bem de seu País.
Dom Rafael trabalha, há seis anos, na maior produtora de
bebidas do mundo, a Anheuser-Busch Inbev [AmBev], inicialmente no Rio de
Janeiro e, já há dois anos, em São Paulo.
Entre os produtos produzidos pelo
grupo e consumidos no mundo todo, estão a americana Budweiser e a mexicana
Corona, além de bebidas não-alcoólicas, como o brasileiro Guaraná Antarctica,
produzido com as sementes da fruta amazônica de mesmo nome. Dom Rafael se
formou em Engenharia de Produção pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro, em 2010. Na AmBev, o jovem de trinta anos é o Pricining Manager,
responsável por gerenciar os preços dos refrigerantes.
Há vinte e três anos, os brasileiros tiveram a chance de
restaurar a Monarquia. Na época, Fernando Collor de Mello foi forçado a
renunciar à presidência. O tio de Dom Rafael tentou convencer os brasileiros a
votarem pela Monarquia. No fim, o resultado do Plebiscito foi: 86,6% dos votos
pela República, 13,4% para a Monarquia.
A mãe de Dom Rafael, Dona Christine de Orleans e Bragança, é
nascida Princesa de Ligne. A mãe dela, Alix de Luxemburgo, é irmã do antigo
Grão-Duque Jean e, portanto, tia do atual Grão-Duque Henri de Luxemburgo.
Frankfurter Allgemeine: Dom Rafael, como os seus colegas de
trabalho te chamam? De Vossa Alteza?
Príncipe Dom Rafael: Definitivamente não no trabalho. Lá,
sou apenas Rafael. Oficialmente, alguns me chamam de “Königliche Hoheit”, que
em português significa "Sua Alteza Real”; mas, na maior parte das vezes,
apenas de Dom Rafael.
Frankfurter Allgemeine: Seu nome completo é Rafael Antonio
Maria José Francisco Miguel Gabriel Gonzaga de Orleans e Bragança e Ligne. É um
monte de nomes.
Príncipe Dom Rafael: Sim. Os nomes são parte de nossa
tradição familiar e da nossa fé católica. Meu nome próprio é Rafael Antonio.
Maria e José representam a Santíssima Virgem e São José; Francisco é o nome do
meu padrinho, irmão do meu pai. Miguel e Gabriel, assim como Rafael, são os
três Arcanjos. Orleans e Bragança e Ligne é a combinação dos sobrenomes de meus
pais.
Frankfurter Allgemeine: Como é a vida de um membro da
Família Imperial do Brasil?
Príncipe Dom Rafael: Eu levo uma vida bastante normal.
Obviamente, tenho certas responsabilidades, e represento, regularmente, minha
Família em eventos. Mas, de qualquer maneira, tenho que conseguir o meu
sustento como qualquer outro brasileiro. E tenho um patrão, que me diz o que eu
posso e o que eu não posso fazer.
Frankfurter Allgemeine: Tradições familiares são
importantes para o senhor?
Príncipe Dom Rafael: Sim. Muito.
Frankfurter Allgemeine: Atualmente, o senhor é o quarto na
Linha de Sucessão. Seu pai, Dom Antonio, tem dois irmãos mais velhos, Dom
Bertrand e Dom Luiz, o Imperador do Brasil por direito, Dom Luiz I, como alguns
o chamam. Quando foi que o senhor se deu conta de que não é um brasileiro
comum?
Príncipe Dom Rafael: Quando criança, eu acompanhava meu pai
em eventos. Assim sendo, cresci conhecendo a história da Família. Mas houve um
momento na escola, do qual me recordo em particular; falávamos sobre a história
do Brasil Império, e a professora me chamou na frente da sala e me pediu para
falar sobre a minha Família. Aquilo não foi particularmente prazeroso, já que,
obviamente, eu sabia um pouco mais sobre os meus ancestrais do que os outros
alunos. Mas sempre fui tímido e, já naquela época, ficava nervoso ao ter que
falar diante da turma.
Frankfurter Allgemeine: Hoje em dia, o senhor tem que se
manter determinado a falar bastante.
Príncipe Dom Rafael: Sim. Especialmente no Encontro
Monárquico anual, no aniversário do meu tio Luiz.
Frankfurter Allgemeine: Quantos irmãos o seu pai tem?
Príncipe Dom Rafael: Sete irmãos e quatro irmãs.
Frankfurter Allgemeine: De fato, originalmente, o senhor
não estava destinado a suceder como Chefe da Casa Imperial.
Príncipe Dom Rafael: Isso é verdade. Mas meu irmão mais
velho, Pedro Luiz, veio a falecer em 2009, na queda do vôo Rio-Paris da
AirFrance.
Frankfurter Allgemeine: O senhor cresceu como o segundo
filho, um tipo de Príncipe Harry do Brasil.
Príncipe Dom Rafael: De fato, algumas vezes nós éramos
comparados com os Príncipes britânicos, que são só alguns anos mais velhos. Mas
eu também sei o quão a sério meu irmão levava a tradição. Mais de uma vez, ele
me disse: “Você não pode deixar de levar a sério, você não sabe se algo pode
acontecer comigo”. Meu pai me alertava para estar preparado para tudo.
Frankfurter Allgemeine: O que mudou com a morte do seu
irmão?
Príncipe Dom Rafael: Subitamente, eu passei a estar na
linha de frente. Especialmente nestes tempos de instabilidade política, em que
se discute se o sistema presidencialista é bom para o nosso País, tenho que
estar disposto a assumir as minhas responsabilidades.
Frankfurter Allgemeine: O senhor vê isso como uma honra?
Príncipe Dom Rafael: Sim. Mas como um fardo, também.
Frankfurter Allgemeine: Qual sistema de governo o senhor
prefere?
Príncipe Dom Rafael: Uma democracia parlamentar com uma
Monarquia hereditária.
Frankfurter Allgemeine: Assim como em muitos países
europeus?
Príncipe Dom Rafael: Exato. Um Imperador ou um Rei não
pertenceriam a nenhum partido político ou grupo econômico. Ele seria
completamente independente. Ele garantiria a continuidade e a ordem, enquanto
um Primeiro Ministro, eleito pelo voto popular, cuidaria do Governo.
Frankfurter Allgemeine: O senhor realmente acredita que o
Brasil pode voltar a ser uma Monarquia?
Príncipe Dom Rafael: Sempre existiram forças lutando pela
Monarquia. Eu acredito que muito poucos brasileiros sabem que existe essa
alternativa. Nós poderíamos, assim, retornar à forma de governo que existia
anteriormente. O Brasil foi criado como uma Monarquia.
Frankfurter Allgemeine: O que impede o senhor de entrar
para a política?
Príncipe Dom Rafael: Como político, eu perderia minha
independência. Eu me juntaria a um partido ou criaria um partido. E o Monarca
deve permanecer imparcial – especialmente na atual situação.
Frankfurter Allgemeine Seu tio, Dom Bertrand, estava
presente nas manifestações contra Dilma Rousseff, que pediam o impeachment.
Príncipe Dom Rafael: Eu também fui para as ruas. Mas nós
não estávamos protestando contra Dilma ou Lula, mas contra a corrupção. É
inaceitável, irresponsável e desrespeitoso como os governantes se comportam com
relação à população. Eles não têm moral e ética.
Frankfurter Allgemeine: A Família Imperial leva uma vida
modesta; o senhor tem um pequeno apartamento aqui, no Itaim Bibi, e seus tios
moram juntos em uma casa em São Paulo. O que aconteceu com as propriedades do
passado?
Príncipe Dom Rafael: Após Dom Pedro II ser exilado na
Europa, em 1889, o Governo confiscou todas as propriedades. Há muito tempo,
corre um processo na justiça, para reaver algumas propriedades; é, pelo que eu
sei, a mais longa batalha legal do Brasil. Mas se tratam de um ou dois
palácios, que não são muito grandes. Nós fomos criados para sermos modestos.
Modestos como Dom Pedro II, que dizia que seu salário era muito alto; então,
ele doava metade para a caridade.
Frankfurter Allgemeine: Há dois anos, sua irmã mais velha
se casou com um plebeu e, portanto, teve que renunciar ao seu título e direitos
ao Trono. Como Príncipe do Brasil e futuro Chefe da Casa Imperial, o senhor
deve se casar com uma Princesa de sangue.
Príncipe Dom Rafael: Isso faz parte da tradição da nossa
Família. Eu ainda estou procurando pela noiva certa.
Frankfurter Allgemeine: Não existem opções no Brasil. O
senhor terá de ir à Europa para encontrar uma esposa.
Príncipe Dom Rafael: Isso é verdade.
Frankfurter Allgemeine: Sua mãe descende da Família
Grã-Ducal de Luxemburgo, sua avó era neta de Ludwig III, o último Rei da
Baviera. O quão próximo o senhor é de seus parentes da nobreza européia?
Príncipe Dom Rafael: Sou especialmente próximo dos meus
primos de Luxemburgo e da Baviera. Somos amigos, mas ainda não tenho planos de
me casar.
Frankfurter Allgemeine: Na Europa, muitos Príncipes
Herdeiros se casaram com plebéias. Por que sua Família permanece firme com
relação a exigir casamentos dinásticos?
Príncipe Dom Rafael: Porque faz parte da nossa tradição
dinástica.
Frankfurter Allgemeine: O senhor mudaria essa regra antiga,
quando for Chefe da Casa Imperial?
Príncipe Dom Rafael: Eu não posso dizer que mudaria.
Precisaria do consentimento de toda a Família para mudar nossas regras
dinásticas.
Frankfurter Allgemeine: O senhor se sente forçado, por sua
família, a fazer algo que não quer?
Príncipe Dom Rafael: Não, não sou forçado. Meu pai acredita
que devemos ser felizes, antes de tudo. Mas ele também diz que seria bom para
mim e para o nosso País, se eu pudesse encontrar uma Princesa.
Frankfurter Allgemeine: Esse seria parte do fardo ao qual o
senhor se referiu mais cedo?
Príncipe Dom Rafael: Sim, não é muito fácil.
Frankfurter Allgemeine: Poderia ser uma Princesa alemã?
Príncipe Dom Rafael: Talvez, por que não?
Frankfurter Allgemeine: O senhor fala alemão?
Príncipe Dom Rafael: “Ein bisschen” (“um pouco”, em
alemão). Estou tentando aprender.
Frankfurter Allgemeine: Quais outras línguas o senhor fala?
Príncipe Dom Rafael: Português, francês e inglês, e
espanhol o suficiente para ser compreendido.
Frankfurter Allgemeine: Com que frequência o senhor vai à
Europa?
Príncipe Dom Rafael: Antes de entrar para a faculdade, vivi
por seis meses com minha tia, em Paris. Agora, passo minhas férias na Europa,
todos os anos. Uma das minhas irmãs vive em Madri, a outra, em Bruxelas, onde
mora a minha avó. Em meados de junho, fui ao casamento de minha prima, Alix de
Ligne, na Bélgica.
Frankfurter Allgemeine: O senhor é do Rio de Janeiro. O que
pode ser visitado na cidade em apenas um dia?
Príncipe Dom Rafael: Há tanta coisa. Você deveria pegar um
táxi para a estátua do Cristo Redentor, no Corcovado, ir ao bondinho do
Pão-de-Açúcar e, claro, deveria ir a Copacabana.
Frankfurter Allgemeine: O que há de tão especial sobre o
Rio de Janeiro?
Príncipe Dom Rafael: Os moradores do Rio, chamados de
cariocas, têm um estilo de vida único. Principalmente com relação às praias e
ao sol, todo carioca gosta de estar ao ar livre.
Eles vão nadar em Ipanema,
jogar vôlei em Copacabana e correr na Lagoa. Em São Paulo, a capital econômica
do País, as coisas são bem diferentes; aqui, nós estamos trabalhando, gerando
dinheiro e construindo carreiras. Uma ou duas vezes por mês, eu vou visitar
meus pais, no Rio de Janeiro.
Frankfurter Allgemeine: Como é viver em cidades onde os
assaltos e homicídios são constantes?
Príncipe Dom Rafael: Em São Paulo, eu não tive nenhuma
experiência ruim; no Rio, já fui assaltado uma vez. Um homem queria meu
celular, e eu o dei para ele. Foi isso. Mas é assim em qualquer cidade grande;
você tem que estar atento a que lugar vai e a que horas. Em Nova York, você não
anda na rua à noite, ainda mais no Bronx.
Frankfurter Allgemeine: Como o número de crimes no Brasil
pode ser explicado? Seria, principalmente, por que no seu País há alguns que
são muito ricos, enquanto outros são muito pobres?
Príncipe Dom Rafael: Não acho que seja por isso. A
rivalidade entre ricos e pobres é mantida viva de forma artificial. Os
brasileiros são um povo gracioso, que se dão muito bem.
Ainda assim, é claro
que os menos privilegiados têm direito a uma vida melhor; deve haver
oportunidades iguais. No entanto, eu acredito que alguns nascem para conduzir,
enquanto outros nascem para serem conduzidos. Mas dizer que nossa sociedade é
dividida entre duas classes, e que os pobres são criminosos, está errado, em
minha opinião.
Frankfurter Allgemeine: Mas parece que muitos dos ricos por
aqui são criminosos. O Brasil conseguirá por a corrupção sob controle?
Príncipe Dom Rafael: Eu estou convencido de que sim. O que
está acontecendo é pelo bem do País; ninguém acha que isso é ruim. Agora estão
mostrando o tamanho real da corrupção, e as pessoas estão indo às ruas.
Frankfurter Allgemeine: Mas, por outro lado, os protestos
estão ocorrendo há anos. Antes da Copa do Mundo de 2014, centenas de milhares
tomaram as ruas.
Príncipe Dom Rafael: Mas não se tinha, provavelmente, a
menor ideia do quão ruim a situação realmente era. Agora, pela primeira vez,
chega-se a conclusões. Eu acredito que a corrupção em nosso País será cada vez
menos tolerada, com o passar dos anos. E isso vai levar a menos corrupção – na
política, mas também nos esportes.
Frankfurter Allgemeine: O senhor está ansioso para os Jogos
Olímpicos em sua cidade natal?
Príncipe Dom Rafael: Ah, sim. Eu sou um grande fã do
esporte.
Frankfurter Allgemeine: O senhor vai aos estádios?
Príncipe Dom Rafael: Vou tentar. Na Copa do Mundo, assisti
a alguns jogos ao vivo.
Frankfurter Allgemeine: Incluindo o 7 x 1 da seleção alemã
contra a brasileira?
Príncipe Dom Rafael: Não. Eu assisti esse pela televisão,
com amigos. A cada gol da Alemanha, meus primos da Baviera me mandavam
mensagens de texto, perguntando: “O que está acontecendo com os jogadores
brasileiros?”
Frankfurter Allgemeine: O senhor considera aquele jogo uma
humilhação?
Príncipe Dom Rafael: Foi realmente embaraçoso, mas o
futebol é assim. O que nos surpreendeu foi como os alemães se comportaram;
todos os jogadores foram respeitosos, havia piadas sobre o jogo, mas nenhuma
animosidade entre as duas Nações. Entre o Brasil e a Argentina, no entanto, a
rivalidade tem sido mais agressiva; tal como foi, por exemplo, na Copa do
Mundo, quando Neymar foi gravemente ferido por um jogador colombiano, e os
argentinos comemoraram abertamente.
Frankfurter Allgemeine: O senhor joga futebol?
Príncipe Dom Rafael: Todo bom brasileiro tem que jogar
futebol. Eu jogo toda semana.
Frankfurter Allgemeine: E o que mais?
Príncipe Dom Rafael: Golfe, tênis e squash. Quando eu era
pequeno, cavalgava com os meus avós.
Frankfurter Allgemeine: O Rio de Janeiro está preparado
para os Jogos Olímpicos?
Príncipe Dom Rafael: Eu diria que estamos indo bem. Os
brasileiros, comparados aos alemães, adotam uma postura mais tranquila, quando
se trata de planejamento e organização. Aqui, algumas coisas ficarão prontas a
tempo, outras serão concluídas mais tarde; mas, no final, tudo vai ficar bem.
Eu tenho certeza.
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