"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O Império e a Sociedade




Como império tinha o Brasil uma corte, mas esta corte nunca foi suntuosa, muito menos dissoluta: foi sempre singela e tão virtuosa quanto pode caber na fragilidade humana, ao
ponto de ser modelar. Não tinha a severidade militar prussiana antes ou mesmo depois do Império, porque Guilherme I não mudou com ser “ plus que roi “


No seu paisanismo, visto as veleidades guerreiras nutridas por Dom Pedro I findarem com a desastrada campanha do
Sul e a pouca inclinação do país pelas aventuras belicosas, foi simples e frugal, com seus ressaibos de intelectualismo. Aliás, o exemplo do primeiro imperador frutificara. 


Sua abdicação foi tanto a expiação dos seus erros de soberano constitucional, educado num meio absoluto, como de suas faltas de particular. Elevando a concubina acima da soberana, determinou uma precoce decadência do regime monárquico e justificou muitos ataques que lhe foram assacados. 


Foram precisas toda a sabedoria e todas as virtudes do seu sucessor, além do melancólico espetáculo das lutas civis da Regência, para permitir que o Império se prolongasse por meio século nas suas mãos. O quadro seguinte evocado por Sales Torres Homem no seu Libelo do Povo - já por um título revolucionário que relembra Hebert e Marat – não se afigurou exagerado a espíritos que cultivavam o ideal republicano e aos quais não eram antipáticas as cores vermelhas do jacobinismo. 


Ouçamos o futuro conservador monárquico: 


“Preocupado da sua pessoa, dos seus direitos, das suas paixões e dos seus prazeres, ele (Dom Pedro I) não estabeleceu relação alguma entre a ventura dos seus súditos e a sua própria, e isolou-se no meio da nação a mais dócil e a mais reconhecida. Como Luís XIV, fez do seu Eu o Estado, sem entretanto imitar o grande Rei a não ser no despotismo, na pompa, nos validos e nas amantes. 


Para suprir o apoio moral da opinião que se esquivava, promoveu mais do que nunca o espírito militar, forçando o caráter pacífico e industrioso que deve convir a um
povo agrícola, habitando um território enorme, deserto e sem vizinhos formidáveis.


Com as mesmas vistas fez consistira a prosperidade do Brasil, não no progresso das suas artes e da sua agricultura, mas no esplendor fofo de uma corte aparatosa, para o que era mister fomentar por seduções enganadoras a paixão de um luxo destruidor e recompensar por meio de distinções honoríficas aqueles que reduziram à miséria a rica herança de seus pais. 


Nada faltou ao espetáculo dessa grandeza inerte, aparente e ridícula, nem sequer uma aristocracia de chinelos, alimentada pelo orçamento e cujos brasões heráldicos o povo não podia contemplar ser rir. 


De tudo isto nem a fumaça se enxergou no dia 7 de abril: Dom Pedro I estendendo os braços em redor de si, só deparou com a solidão, o vazia, as trevas e o desespero.”


As catilinárias são um gênero literário fácil e de infalível popularidade. Eram os marqueses de primeiro reinado que assim ridicularizavam o titular do segundo reinado. O Libelo data de 1838. 


Em 1853 Timandro ii, convertera-se à conciliação: seria diretor do Tesouro, Ministro da Fazenda indicado pelo Imperador, Visconde de Inhomirim, por fim senador, rompendo o monarca com o seu gabinete por motivo dessa escolha que constitucionalmente cabia nas suas atribuições soberanas. 


Dom Pedro II dava neste caso um dos exemplos mais flagrantes da sua superior tolerância, a qual foi constante para as faltas políticas, absoluta para as convicções ou opiniões mesmo adversas, e apenas reservada para as faltas de moralidade e os atentados contra a probidade. 


A honestidade era de rigor. Os homens de estado do Império, exceção feita dos que eram proprietários rurais, não dispunham na sua quase totalidade de fortuna”.


Brasil Imperial

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