"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

País medíocre


A expressão “post hoc ergo propter hoc” - que significa “depois disso, logo por causa disso” - foi considerada válida durante séculos, apesar de ser uma falácia lógica, porque os fatos que se sucedem no tempo não são conseqüência necessária dos que os antecedem.

Se fosse válida, deveríamos dizer que o Brasil é um país medíocre porque findou a monarquia e interrompeu o ciclo de mais de 40 anos de progresso e ordem que antecedeu a Proclamação da República, caracterizado pela honestidade dos dirigentes na condução dos interesses da Nação.

É, todavia, difícil compreender por que, até o fim do reinado de Pedro II, o Brasil era um país mais promissor que os EUA, mais importante que a China, a Índia, o Japão, a Coréia e quase todos os países europeus - de onde vieram muitos imigrantes - e hoje ocorre o oposto: o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA é cerca de 13 vezes maior que o nosso e essa nação possui o maior poderio científico, tecnológico, econômico e militar do planeta; a Coréia do Sul, há 40 anos, era um dos países mais atrasados do mundo e hoje é mais desenvolvido que o nosso.

No Brasil, após 118 anos, o regime republicano mantém uma legião de analfabetos, oferece educação da pior qualidade e exames feitos por instituições internacionais comprovam que seus alunos se classificam entre os mais despreparados do mundo. Os sucessivos governos republicanos não foram capazes de resolver as questões mais elementares de educação, saúde, transporte, saneamento e segurança.

Custa a acreditar que a República tenha sido instituída de forma provisória, apoiada por um partido que tinha apenas dois deputados e que o decreto de sua criação estabeleceu: “Art. 1º - Fica proclamada provisoriamente e decretada como forma de governo da nação brasileira a República Federativa.”

Sem ironia e com respeito ao personagem, convém lembrar que o maior responsável pela queda da monarquia foi o diretor de uma escola de cegos. A condição provisória durou até 1993, quando um plebiscito confirmou o regime republicano, a respeito do qual Ruy Barbosa afirmou:

“O mal gravíssimo e irremediável das instituições republicanas consiste em deixar exposto à ilimitada concorrência das ambições menos dignas o primeiro lugar do Estado e, desta sorte, o condenar a ser ocupado, em regra, pela mediocridade.” Desiludido com o regime republicano, Ruy pronunciou a famosa frase no Senado, em 17/12/1914: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”

Passados 118 anos da Proclamação, o legado republicano é essa nação pobre, com uma legião de analfabetos, doentes e inválidos, com criminalidade infrene e miséria generalizada; um sistema educacional vergonhoso, a agricultura em permanentes sobressaltos, a indústria pouco competitiva e perdendo espaços para países emergentes. Não tem estradas, ferrovias, hidrovias e navegação de cabotagem e suas Forças Armadas estão à míngua. Mas nesse mesmo período, e apesar das duas guerras mundiais que quase os dizimaram, o Japão e a Europa passaram a apresentar índices de desenvolvimento muito superiores aos nossos.

Sempre aguardando a confirmação do vaticínio de Stephan Zweig, que garantiu ser este o “país do futuro”, o Brasil espera o dia de amanhã e vive à procura de quimeras, a última das quais é inundar o planeta com etanol. Entretanto, talvez por ignorância, deixou de construir os reatores nucleares previstos há três decênios e que supririam a energia que faltará nos próximos anos, sem a qual não haverá crescimento. As reformas se repetem, como se leis e decretos bastassem para resolver problemas. “Corruptissima re publica plurimae leges”, lembrou Tácito - ou, quanto mais corrupta é a República, mais leis ela possui. Qual é o resultado da reforma da educação do governo passado, que instituiu a “década da educação” e criou a biblioteca básica para o primeiro e o segundo graus, que não tinha livros de Matemática, Física, Química, Biologia e Geociências?

Os recentes episódios envolvendo ocupantes de cargos no Executivo e no Legislativo, denunciados por corrupção e delitos diversos, enxovalham a Nação, expõem-nos à execração pública, ao ridículo internacional e nos elegeram valhacouto de megatraficantes e bandidos de todos os matizes.

Esses graves desvios de conduta, que não existem apenas na órbita federal e refletem a decomposição moral e ética generalizada, são conseqüência natural da falência da educação, da incompetência, do descaso e da inoperância de órgãos públicos e dos maus exemplos de integrantes das classes dirigentes.

As reformas do ensino são feitas sem critério e os cursos de Direito e Medicina proliferam atendendo a interesses políticos e financeiros; o governo federal cria universidades sem necessidade real e sempre sem contar com professores capazes disponíveis e infra-estrutura adequada; os alunos do ensino fundamental são submetidos a uma pletora de disciplinas ornamentais, supérfluas e até inúteis, mas nem conseguem falar e escrever de forma compreensível. O desastre é generalizado.

Há muito tempo, entretanto, as escolas ensinavam o que era necessário à formação intelectual e profissional e nos incutiam valores morais e éticos permanentes; nessa ocasião, ensinavam-nos Latim e líamos os textos menos difíceis, o livro das Metamorfoses de Publius Ovidius Naso, por exemplo, que tanto tem que ver com os dias de hoje nesta Terra dos Papagaios: “Vivitur ex rapto; non hospes...”, ou seja, “vive-se do roubo; amigos não estavam seguros com amigos, nem parentes com parentes e a bondade era rara entre irmãos...”
Pobre Brasil.

*José Carlos Azevedo*

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