"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A Democracia dos Poucos

A democracia não pode ser empurrada goela abaixo, deve ser aprendida, dizia Winston Churchill, um dos maiores estadistas do Século XX. 


É algo que ainda não está bem compreendido, internalizado, no Brasil, que sequer conhece o verdadeiro sentido da Liberdade, a responsabilidade que isso tudo traz. 


Essa situação ocorre por conta do modelo de (des)organização do Estado Brasileiro, que engessou a prática democrática em um sistema que se diz representativo. De quem? É uma boa pergunta, cujas respostas não agradam. 


Com raras exceções, a maioria dos eleitos representam interesses corporativos ou financeiros, que viabilizam a legitimação dos mesmos nos parlamentos. É óbvio que os eleitos prestarão contas a quem pagou a conta da eleição. Os pagadores da conta toda serão sempre os cidadãos... 


Esse modelo criou a democracia dos poucos, que dizem representar os muitos. Dentre as diversas conseqüências muito ruins, é a imposição destes poucos, de regras que a maioria absoluta não quer. 


Nos últimos tempos, com o aumento da pressão da Sociedade, que está redescobrindo a passeata - física e virtual – algumas regras que estavam prontas para serem aprovadas foram abortadas. Isso se chama de democracia de pressão. 


Mas e quando os eleitos, especialmente os que têm a chave do cofre e a caneta dos alvarás e licenças, têm também poder sobre a mídia, querem impor suas teses? 


Goebbels, gênio da propaganda nazista inventor da máxima de que uma mentira repetida mil vezes se transforma em verdade, estaria ruborizado com forte sentimento de inferioridade ao ver o que está acontecendo no Brasil e em boa parte do planeta. 


Para se manter no poder, criam condições sociais antes impensáveis, provocando rachaduras que levarão muitos anos para serem desfeitas. Questões raciais, questões de gênero, questões sócio-econômicas, questões de foro intimo, questões relacionadas à legalidade comportamental, tudo foi jogado no ventilador acionado pelos que detém o poder para dividir a sociedade. 


Afinal, Maquiavel ensinou que melhor se governa quando se divide a oposição. Ou a quebra completamente, como no caso brasileiro. 


A democracia não é perfeita, está bem longe disso. Mas os modelos que mais se aproximam de algo que se poderia chamar de justo são os que se praticam em células, no máximo, em pequenos corpos. 


Às células, poderíamos nos referir aos municípios ou distritos e aos “pequenos corpos” os estados ou províncias. Quanto mais próximo dos cidadãos, maior a possibilidade de se praticar uma boa democracia. 


Mas nem todas as decisões devem ser dadas aos cidadãos. Algumas cláusulas tidas como pétreas, mais relacionadas aos direitos naturais, como os da propriedade, por exemplo, nunca podem ser submetidas ao sufrágio popular, exatamente para se evitar que eventual manipulação de massas possa retirar tão caros direitos. 


Política é emoção, competição, raramente se joga frescobol, no mais das vezes, é guerra mesmo. Por isso, alguns cuidados.

 

Mas isso também não significa o fim do processo representativo. Este pode ser redimensionado, ressignificado até, com parlamentares tendo poderes para pensar e produzir projetos e soluções para a sociedade, mas com poderes de decisão direcionados para o setor administrativo e fiscalizador. 


As decisões tidas como polêmicas e que afetem as vidas das pessoas devem ser tomadas por estas. 


Ou seja, a democracia moderna, com o avanço do acesso cada vez mais rápido à informação e a construção de redes sociais virtuais cada vez mais impressionantes, deve merecer atenção, substituindo o arcaico e corrupto modelo, ainda em vigor. 


Só assim, a democracia dos poucos passará a ser dos muitos. Com todos os cuidados e justas divisões de poder.  


Thomas Korontai

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