O Brasil passa hoje por uma fase na qual empresários que se notabilizaram pelos conglomerados que construíram a partir das últimas décadas do século passado se afastaram do dia a dia corporativo e decidiram canalizar seu empreendedorismo em projetos cujos lucros rendem mais dividendos ao país que às suas empresas, algo parecido com o que já acontece há muito tempo nos Estados Unidos, com as fundações criadas por bilionários com objetivos benemerentes – ainda que apoiados numa legislação mais favorável que a brasileira nesse aspecto.
Pode-se alegar que, depois de ganhar tanto dinheiro, esses empresários estariam expiando algum tipo de culpa ao criar instituições que pesquisam a prevenção de moléstias letais, financiam ajuda a populações desamparadas, mantêm escolas de prestígio, etc.
Também pode-se interpretar nessas atitudes uma forma de associar a marca das empresas de sua propriedade a causas capazes de angariar a simpatia do mais incrédulo consumidor existente na face da Terra.
É bem possível que essas suspeitas não sejam infundadas. Ter atitudes de responsabilidade social, algo que deveria ser inerente ao ser humano, passou a ser encarado como um instrumento de marketing porque grande parte das empresas faz isso mesmo – marketing – quando resolve investir tempo e dinheiro num projeto dessa natureza, bate bumbo para anunciá-lo e o joga ao ostracismo quando os holofotes da mídia se apagam.
É possível, igualmente, que empresários bem-sucedidos que se recolheram aos aposentos de sua casa de campo não conseguem deixar de lado seu espírito empreendedor e se autodesafiam a aplicá-lo em metas mais difíceis de alcançar que as do mundo corporativo, como, por exemplo, desenvolver métodos de ensino inovadores.
Na página 4 desta edição de Brasil Econômico, a repórter Regiane de Oliveira descreve uma iniciativa da Fundação Lemann com essa finalidade e a ambição de formar os futuros ministros do governo brasileiro.
A entidade é mantida por Jorge Paulo Lemann, fundador do Banco Garantia e acionista de colossos industriais como a Anheuser-Busch Inbev – fabricante da cerveja Budweiser – e da rede de restaurantes de comida rápida Burger King. A fortuna de Lemann tem a dimensão do apreço que o empresário demonstra pela discrição.
A ribalta da imprensa não faz parte do seu show. (Um índice que mede quão avesso é a entrevistas são as raras fotos que se publicaram dele.)
Dinheiro e projeção socioeconômica não são mais necessários a Lemann. Se pelo menos um pouco de seu êxito como empresário migrar para sua contribuição no sentido de melhorar a educação brasileira e a administração pública, o país contará com profissionais pelo menos mais comprometidos com o país.
Costábile Nicoletta
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