O Rei e o Príncipe Herdeiro em meio a parentes das vitimas.
O terrorista norueguês que ensanguentou seu pacífico país, praticando com requintes de crueldade um suposto ato de protesto, teve a veleidade de escrever considerações sobre pureza racial, num documento imbecil, sob o título de “Declaração de Independência Europeia”.
Nesse texto, entre um amontoado de tolices, fez apreciações sobre o Brasil, apontando nosso país como exemplo de como a mistura de raças é catastrófica para as nações.
E fala numa imaginária “revolução marxista brasileira”, que seria responsável por essa mistura.
Está claro que esse personagem, que Hitler talvez escolhesse como um reprodutor de arianos puros, não conhece o Brasil, nem faz ideia de nossa formação histórica.
Trata-se, aliás, de um louco perigoso, cujas opiniões não mereceriam uma linha de comentário, se não tivessem sido divulgadas mundialmente pela mídia.
A saudável mistura racial do Brasil começou já no século 16, quando os Caramurus desposaram Paraguaçus, e nosso antepassado Tibiriçá confiou sua filha Bartira ao Capitão João Ramalho.
Os casamentos mistos, de portugueses com índias, foram tão frequentes, que a população brasileira, especialmente a de São Paulo, logo abdicou de qualquer pureza étnica. Sabe-se que os paulistas foram bilíngues, de português e tupi, durante todo o século 17.
E Sérgio Buarque de Holanda admite que esse bilinguismo só tenha desaparecido no princípio do século 18.
Mais adiante, a entrada maciça do contingente africano acentuou a mistura racial e cultural, que se completaria nos séculos 19 e 20 com o ingresso de imigrantes de todas as pelagens e religiões, desde islâmicos a budistas.
O Brasil deve ser, a esta altura, a maior nação multiétnica do mundo. E isso jamais foi motivo de embaraço para o desenvolvimento cultural ou econômico. Tanto que São Paulo, palco da mais intensa mistura, é o Estado mais desenvolvido da nação.
Os fatores que frearam nosso desenvolvimento terão sido a morosa eliminação do trabalho escravo, a permanência de uma estrutura agrária obsoleta em vastas áreas do território, as carências da educação e o tardio desenvolvimento capitalista.
Nada que se relacionasse com a mistura racial ou étnica. Ao contrário de outros países, em que houve graves conflitos de caráter racial ou religioso, nenhuma das guerras civis ou rebeliões internas derivou de questões desse gênero.
As próprias sedições de escravos, que foram raras, tinham motivações socioeconômicas e não étnicas, dado que havia mestiços e libertos que eram senhores de cativos.
Entre os mestiços, teve o Brasil algumas de suas melhores personalidades. Basta lembrar o maior dos escritores nacionais, Machado de Assis. E seria impossível enumerar os caboclos e mulatos, de ambos os sexos, que integram a galeria de nossos heróis.
Talvez esse norueguês imbecil e ignorante não possa compreender o clima de tolerância e receptividade que caracteriza este país, onde se concedeu, em 1890, naturalização e cidadania coletiva aos imigrantes que a desejassem, onde já tivemos generais nascidos no estrangeiro e agora uma filha de búlgaros, presidente da República.
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