Homens de terno e mulheres de saia com a Bíblia na mão vão
enchendo o auditório. Alguém regula o som do violão e dos microfones. A música
que celebra “júbilo ao Senhor” estoura nos alto-falantes, e a audiência canta
junto. Em um púlpito no palco, os pastores abrem o culto com uma oração
fervorosamente acompanhada pelos fiéis.
Uma descrição comum de um culto evangélico não fossem os
pastores, deputados, falando de um o púlpito improvisado no Plenário Nereu
Ramos da Câmara dos Deputados de um país laico chamado Brasil. E se o (até
então) presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), anunciado do púlpito ao
entrar no recinto pelos pastores João Campos (PSDB/GO) e Sóstenes Cavalcante
(PSD/RJ), não tivesse deixado de lado a agenda oficial para participar da
celebração e tirar selfies com pessoas que se amontoavam ao seu redor.
Certamente seria bem menos estranho se logo atrás de mim, no
fundo do auditório, assessores de parlamentares não estivessem fazendo piadas
de cunho homofóbico e rindo alto durante boa parte do evento, que se tornou
show com a chegada da aclamada cantora gospel Aline Barros, vencedora do Grammy
Latino 2014 e um dos cachês mais altos do mundo gospel brasileiro. Ela tinha
viajado do Rio a Brasília com o marido, o ex-jogador de futebol e hoje pastor e
empresário gospel Gilmar Santos, especialmente para cantar e orar naquela manhã
de quarta-feira no Congresso. Ao final do culto/evento, todos receberiam um CD
promocional de Aline.
Aline Barros entoou alguns de seus sucessos com o auxílio de
um playback, antes da pregação do marido. O tema é a luta do profeta Elias
contra Jezebel, a princesa fenícia que se casou com o rei de Israel e, uma vez
rainha, perseguiu e matou profetas israelitas. A imagem da mulher poderosa de
alma cruel é usada por dezenas de sites religiosos, que comparam Jezebel à
presidente Dilma Rousseff, ameaçando-a de acabar como a rainha, comida por
cães.
“Em Tiago capítulo 5, versículo 17, está escrito que Elias
era um homem como nós. Ele orou e durante três anos e meio não choveu. Depois
ele orou de novo e Deus manda vir a chuva”, diz o pastor Gilmar, dirigindo-se
aos parlamentares. “Muitas vezes a gente tem orado ‘Deus sacode esse país, traz
um avivamento, faz algo novo’. Deus está fazendo. Mas a forma que Deus está
fazendo nem sempre é do jeito que a gente quer, da nossa maneira. Muitas vezes
a gente queria que Deus fizesse chover dinheiro do céu, que fizesse anjo
carregar a gente no colo pra levar a gente pra todos os lados e queria pedir
pra Deus pra sentar numa rede, pra ele trazer um suco de laranja e operar,
trabalhar. ‘Manda fogo, destrói aquele endemoniado, aquele idólatra.’ Mas Deus
não faz dessa forma.” Por que Deus escondeu Elias? Por que Deus tem escondido
muitos de vocês e ainda não estão nos jornais como sonharam ou não tiveram
reconhecimento como sempre sonharam? […] Deus está te escondendo, querido. No
momento certo tudo vai acontecer, você vai ser exaltado. Deus sabe como honrar.
[…] Pode ser o momento mais difícil do seu mandato, mas continua confiando.
Muitas pessoas podem estar vivendo uma seca nesse país. Nosso país pode estar
vivendo o momento mais seco da história. Vidas secas. Mas o céu nunca vai estar
em crise. Nunca tem crise, nunca tem crise.”
Sem crise
O número de evangélicos no Parlamento cresceu, acompanhando
o aumento de fiéis. Segundo os últimos dados do IBGE, que são de 2010, o número
de evangélicos aumentou 61% na década passada (2000-2010). Por sua vez, a
Frente Parlamentar Evangélica (FPE), encabeçada pelo deputado e pastor João
Campos, agrega mais de 90 parlamentares, segundo dados atualizados da própria
Frente – os números podem variar por causa dos suplentes – o que representa um
crescimento de 30% na última legislatura.
A mistura de política e religião é a marca da atuação dos
pastores deputados. Campos, por exemplo, é presidente da Frente Parlamentar
Evangélica, autor do projeto de lei apelidado de “cura gay” e defensor
destacado da redução da maioridade penal, como a maioria da chamada “bancada da
bala” – em 2014 ele recebeu R$ 400 mil de uma empresa de segurança para sua
campanha. Cavalcante ex-diretor de eventos do pastor Silas Malafaia, seu
padrinho na fé e na política, é presidente na Comissão Especial que trata do
Estatuto da Família.
Encorajada por Eduardo Cunha, que assumiu a presidência da
Câmara dizendo que “Aborto e regulação da mídia só serão votados passando por
cima do meu cadáver”, a bancada evangélica tem conseguido levar adiante
projetos extremamente conservadores, como o Estatuto da Família (PL
6.583/2013), que reconhece a família apenas como a entidade “formada a partir
da união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou de união
estável, e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus filhos”, que deve
seguir para o Senado nos próximos dias. A PEC 171/1993, que usa passagens
bíblicas para justificar a redução da maioridade penal, também foi aprovada na
Câmara e aguarda análise do Senado, sem previsão de votação. O próprio Eduardo
Cunha é autor do PL 5.069/2013, que cria uma série de empecilhos para o direito
constitucional das mulheres vítimas de violência sexual realizarem aborto na
rede pública de saúde. Esse está na Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania da Câmara. Também foi nesta legislatura que a bancada conseguiu
barrar o trecho que trata do debate sobre identidade de gênero nas escolas no
Plano Nacional de Educação.
Ainda segundo os dados fornecidos pela FPE, a maioria dos
parlamentares pertence a igrejas pentecostais: a Assembleia de Deus é a que
mais congrega esses fiéis, seguida pela Igreja Universal do Reino de Deus, que
tem como figura de destaque o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ). Também tem
representantes no Congresso as igrejas Sara Nossa Terra e a Igreja
Quadrangular.
Como acontece com os partidos na política, os membros também
trocam de denominação. Eduardo Cunha recentemente trocou a Sara Nossa Terra
pela Assembleia de Deus, onde já estavam os colegas João Campos e Marco
Feliciano. Entre os membros das protestantes históricas estão Jair Bolsonaro
(batista) e Clarissa Garotinho (presbiteriana).
O sociólogo e escritor Paul Freston, professor catedrático
em religião e política da Wilfrid Lauries University, do Canadá, explica que as
igrejas pentecostais se diferenciam das protestantes históricas principalmente
pela ênfase da crença nos dons do Espírito Santo, como “falar em línguas” e
agir em curas e exorcismos. “Por ser uma forma mais entusiasmada de
religiosidade, depende menos de um discurso racional, elaborado. Você pode não
saber ler ou escrever, pode ser alguém que não ousaria fazer um discurso
racional em público, mas sob influência do Espírito você fala. Por isso pode-se
dizer que a igreja pentecostal também tem esse poder de inverter as hierarquias
sociais”, explica o professor. E destaca: “Por ser mais próxima da cultura do
espetáculo e menos litúrgica, também são as igrejas pentecostais que se dão
melhor com as mídias”.
Nos gabinetes
“A Frente Parlamentar Evangélica [FPE] tem exercido um papel
muito importante em contribuir com o processo legislativo porque ela priorizou
algumas bandeiras que são relevantes para a sociedade brasileira como, por
exemplo, a defesa da família tradicional”, diz João Campos, que recebeu a
Pública em seu gabinete de número 315 no anexo IV da Câmara, após muitos dias
de negociação com seu assessor. “Outra bandeira nossa é a defesa da vida desde
a concepção, os direitos do nascituro, a proibição do aborto, do infanticídio,
os direitos da mulher também, mas principalmente os direitos do ente humano que
está sendo gerado”, continua o deputado.
O segredo do sucesso? “A gente atua a partir desses temas, e
isso faz com que a Frente seja ouvida no Parlamento. A Frente nem é a que
congrega o maior número de parlamentares, mas é uma das mais ouvidas. Porque
não é a quantidade, é a atuação dela”, diz com orgulho. Pergunto sobre sua
trajetória política e religiosa, em que momento as duas se misturam. Ele me
conta que aos 16 anos já era líder de jovens em sua igreja (Assembleia de Deus)
e há quase 20 foi ordenado pastor. Também fez carreira na Polícia Civil de
Goiânia. Começou como escrivão de polícia, se tornou delegado, participou de
greves – “sempre fui muito ativo”, diz. Passou a atuar na classe, foi
presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, até que
“naturalmente” se candidatou a deputado federal. “Eu sempre exerci liderança na
igreja e na segurança pública. E essas duas vertentes apoiaram minha
candidatura e me elegeram”, resume Campos, 53 anos, atualmente no quarto
mandato como deputado federal. Quando pergunto se a igreja tem sido um ambiente
fértil para a formação de líderes políticos, ele desconversa: “A igreja tem
ocupado um espaço e se colocado mais na política tendo ela própria como
referência”.
Sua colega de bancada evangélica, Clarissa Garotinho (PR), é
uma jovem deputada federal que tem política e religião no pedigree. A filha dos
ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho é da Igreja Presbiteriana, como
todos de sua família. E, como fez a mãe, todas as vezes que seu pai, Anthony
Garotinho, mudou de partido, ela o acompanhou “mesmo a contragosto”, confessa.
E não foram poucas vezes: o radialista de sucesso começou a carreira política
no PT, depois foi para o PDT, para o PSB, PMDB e PR.
Clarissa fala do jogo da política com a naturalidade de quem
viveu isso em casa desde pequena, mas faz questão de dizer que nunca foi pedir
voto em igreja. “Visitei algumas igrejas quando me convidaram, mas não foi o
foco da minha campanha.” Descreve o início de sua carreira política como a de
líder estudantil que se tornou diretora da UNE e foi eleita vereadora – a
contragosto do pai, sublinha. “Nessa época, eu tinha me formado em jornalismo e
fiz estágio com a Xuxa no programa dela a convite da Marlene Matos. A Marlene
me convidou para ir para um programa na rádio Globo, eu já era gerente
comercial da empresa dos meus pais, e ele não queria que eu entrasse na
política. Dizia que a vida dos políticos ficava muito exposta, que dava muita
dor de cabeça. Comecei a campanha sozinha, eu e a juventude do partido.
Pensava: ‘Meu pai foi governador, minha mãe foi governadora, eu não posso
perder uma eleição de vereadora porque, se eu perder, eu vou estar
comprometendo o nome deles”, conta.
De vereadora Clarissa passou a deputada estadual e em 2014
foi eleita deputada federal com a maior votação obtida entre as mulheres. Sobre
sua atuação na bancada evangélica, ela diz que só participa das atividades
quando acha necessário. “Quando houve algumas manifestações na parada gay que
satirizaram a imagem de Cristo. Nesse ponto, a bancada reuniu inclusive
católicos. Quando tem alguma causa que a gente entende que precisa se unir, eu
participo das reuniões.”
Pergunto sua opinião sobre o aborto, e sua expressão se
fecha: “Tem temas que para nós não são negociáveis. Eu sou contra o aborto”.
Sem que eu pergunte, emenda: “Mas você quer saber do Cunha? Eu não apoiei o
Eduardo Cunha para presidente da Câmara só porque ele era evangélico. Não basta
ser evangélico e eu presbiteriana para eu votar se acho que a postura dele como
político não é boa pra representar a Câmara e não é boa para o Brasil. Fui uma
das poucas deputadas evangélicas que não votou nele. Fizeram reuniões com os
membros da bancada pra apoiar, mas eu não participei. Não gosto do estilo dele
de fazer política. Ele usa chantagem pra conseguir vantagens, é o chanteageador
geral da República. O Eduardo é considerado um deputado muito temido aqui.
Dizem que ele é vingativo, que tem um temperamento difícil. E ele ainda tem
muito apoio aqui apesar dos escândalos”.
Eduardo Cunha
Quando estive no Congresso, cada vez que Eduardo Cunha
entrava em uma sala da Câmara dos Deputados era cercado por um séquito e não
raramente aplaudido de pé. Isso apesar dos escândalos, e não apenas os mais
recentes. Cunha começou sua carreira como tesoureiro do comitê eleitoral de
Collor e chegou à presidência da Telerj, de onde saiu em 1993 quando foi
descoberto que ele havia assinado um aditivo de US$ 92 milhões a um contrato da
Telerj com a fornecedora de equipamentos telefônicos NEC do Brasil (então
controlada pelo empresário Roberto Marinho). Foi quando se aproximou do então
deputado mais votado do Rio de Janeiro e dono da rádio evangélica Melodia,
Francisco Silva. Por indicação de Silva, tornou-se presidente da Companhia
Estadual de Habitação na gestão de Anthony Garotinho, da qual também foi
afastado em meio a denúncias de irregularidades em contratos sem licitação e
favorecimento a empresas fantasmas. A passagem pelo rádio, onde tinha boletins
diários que acabavam com o bordão “O povo merece respeito”, tornou sua voz
conhecida e ele se candidatou a uma cadeira na Câmara dos Deputados nas
eleições gerais de 2002. Foi eleito com o apoio de Garotinho e 101.495 votos
nas urnas. Em 2003, entrou no PMDB e
hoje cumpre seu quarto mandato consecutivo como deputado federal. Em
2014 foi o terceiro candidato mais votado do Rio de Janeiro, com 232.708 votos.
O sociólogo Paul Freston, que estuda as relações entre
política e religião, pesquisou a biografia de Cunha e de seu mentor, Francisco
Silva. “Ele começa politicamente pela mão do Francisco Silva, que já era uma
pessoa estranha porque tinha uma identidade evangélica pessoal muito tênue. O
que ele tinha era uma rádio evangélica. E basicamente usou a força da mídia
para se lançar politicamente. Ele se dizia membro da Congregação Cristã, o que
não fazia muito sentido porque é a igreja mais arredia, que não se envolve com
política, com mídia, não paga pastor. E a própria Congregação fez uma
declaração na época dizendo que desconhecia esse cidadão.”
O polêmico pastor, escritor e psicanalista Caio Fábio –
fundador e ex-presidente da Associação Evangélica Brasileira (AEVB), líder e
mentor da igreja Caminho da Graça – acrescenta outras informações ao perfil de
Cunha: “Eu o conheço há 20 anos, desde que o pessoal o chamava de ‘Eduardinho’.
Desde quando ele trabalhava para o deputado Francisco Silva. Esse indivíduo de
crente não tinha nada. Francisco comprou a rádio Melodia, criou uma igreja
radiofônica chamada Cristo em Casa que não congregava ninguém, não reunia
ninguém, não tinha relacionamento com ninguém. Era tudo no rádio e você dava o
dízimo para esse ente abstrato. O Eduardo era o assessor dessa figura. Ele teve
função importante na loteria esportiva do Rio de Janeiro, em autarquias
diversas até chegar ao governo Garotinho. Ele dá nó em pingo d’água. O mais
inteligente deles é burro perto do Eduardo Cunha. Ele é um dos caras mais
ardilosos, mais jogadores, mais sutis que eu já conheci”.
Recentemente, Cunha trocou a igreja Sara Nossa Terra, para
qual foi levado por Silva, pela Assembleia de Deus. A primeira tinha pouco mais
de 1 milhão de fiéis, enquanto sua igreja atual tem mais de 13 milhões de
seguidores, segundo o IBGE. A ramificação da igreja escolhida por Cunha foi a
Madureira, cujo presidente é o bispo Manoel Ferreira, acusado de coronelismo
por membros de sua igreja por ter tornado seu cargo vitalício, e também
denunciado por um pastor de sua igreja em uma matéria da revista IstoÉ por usar
laranjas para abrir a Faculdade Evangélica de Brasília, dar golpe nos sócios e
sonegar milhões em impostos (ele nega as acusações). Em agosto deste ano, o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusou Eduardo Cunha de indicar a
igreja do filho de Manoel, Samuel Ferreira, para receber parte da propina de ao
menos US$ 5 milhões destinada a ele referente aos contratos para viabilizar a
construção de dois navios-sonda usados pela Petrobras.
“Eu estou dizendo há 25 anos que Manoel Ferreira já se
envolveu com tudo. É um gângster religioso. E curiosamente é para onde o Cunha
foi”, acusa o pastor Caio Fábio.
O começo de tudo
A igreja pentecostal começou a se envolver na política
brasileira na década de 1960 através da Brasil para Cristo, que elegeu um
deputado federal em 1961 e um estadual em 1966. Depois disso, porém, a igreja
só voltaria a eleger candidatos na década de 1980, como explica Paul Freston:
“A maior participação vem em 1986, no fim do regime militar, com a Assembleia
Constituinte. A Assembleia de Deus é o motor disso inicialmente, e se organiza
desde a cúpula para ter um candidato oficial em cada estado, um deputado. Eles
se organizam e tentam apresentar esse candidato nas igrejas, falar pras pessoas
votarem nele. É o que dá origem à bancada evangélica, é a primeira vez que se
fala nisso. E a grande novidade é que a maioria é pentecostal”.
Os pentecostais deslancharam na política com a Igreja
Universal do Reino de Deus, que criou um plano político mais estruturado dentro
da instituição, segundo a autora da tese “Religião e política: ideologia e
ação da ‘Bancada Evangélica’ na Câmara Federal”, Bruna Suruagy (leia a
entrevista completa aqui). “No início da década de 1990, a Igreja Universal
começou a atuar com um plano político estruturado”, explica. Em sua pesquisa,
Bruna chegou ao seguinte desenho do plano político da Universal: “A cúpula da
igreja, formada por um conselho de bispos da confiança de Edir Macedo, indica
candidatos em um procedimento absolutamente verticalizado, sem a participação
da comunidade. Os critérios para a escolha desses candidatos geralmente têm
base em um certo recenseamento que se faz do número de eleitores em cada igreja
ou em cada distrito. E cada templo, cada região, tem apenas dois candidatos que
seriam o candidato federal e o estadual. Ela desenvolve uma racionalidade
eleitoral a partir de uma distribuição geográfica dos candidatos e a partir de
uma distribuição partidária dos candidatos. Isso mudou um pouco agora porque
existe um partido que é da Universal, o PRB, que fica cada vez mais forte no
Congresso”, explica, destacando também a importância da mídia religiosa como
interface entre a igreja e a política.
A Pública fez contato com a assessoria de imprensa da Igreja
Universal e obteve como resposta a que a instituição não se pronunciaria a
respeito “porque não se envolve com política”. Ao insistir para obter a
entrevista, a assessoria pediu que as perguntas ao bispo Edir Macedo fossem
feitas por e-mail e não respondeu mais. Mesmo o site do PRB, que tem grande
parte dos filiados ligados à Universal, incluindo o presidente do partido,
Marcos Pereira, não deixa clara essa conexão entre o partido e a igreja. Mas,
entrevistado pelo deputado federal Celso Russomanno ao vivo durante a festa de
dez anos do PRB, no dia 25 de agosto, diante da plateia do auditório Nereu
Ramos, Pereira revelou que sua carreira e o PRB caminharam de braços dados com
Edir Macedo. Ele contou que é bispo da igreja desde 1999, foi vice-presidente
da Rede Record de Televisão em 2003, ano em que também se tornou sócio da LM
Consultoria Empresarial – holding que controla todos os negócios da Igreja
Universal do Reino de Deus – e então se tornou presidente do PRB em 2011.
Modelo brasileiro
Ainda segundo a pesquisadora Bruna Suruagy, a Universal se
tornou um modelo para outras igrejas brasileiras justamente porque a cada novo
mandato havia um aumento significativo dos parlamentares. Ela explica que isso
não significa que o funcionamento institucional da Assembleia de Deus, por
exemplo, seja igual ao da Universal. “A Assembleia é uma igreja com muitas
dissidências e muitas divisões internas, por isso não é possível estabelecer
hierarquicamente os candidatos oficiais. As igrejas têm fortes lideranças
regionais e uma fragilidade do ponto de vista nacional. A sede não tem tanta
força e, por isso, eles criam prévias eleitorais. As pessoas se apresentam
voluntariamente ou são levadas pela própria igreja, e ainda há a ideia de que
alguns são indicados por Deus porque mobilizam grandes multidões, ou contagiam,
como dizia Freud, o que também termina sendo um critério. Então tem uma lista,
depois uma pré-seleção que passa por um conselho de pastores – isso em cada
ministério, porque a Assembleia é uma igreja que tem várias subdivisões
internas. É interessante que os que pretendem se candidatar assinam um
documento se comprometendo a apoiar o candidato oficial caso ele não seja escolhido,
para evitar candidaturas independentes e para manter a fidelidade que se tem na
Universal.”
O sistema de escolha de candidatos é confirmado pelo pastor
Caio Fábio, enquanto conversamos no belo jardim de sua casa, em Brasília. “A
maioria dos políticos que temos hoje foi produzida em berço pentecostal.
Portanto, eles nascem do único poder que habita esse ambiente que é o do
carisma pessoal. E esse carisma não tem absolutamente nada a ver com
inteligência, instrução ou cultura. Por carisma entende-se a capacidade de
comunicação popular intensa, tanto mais poderosa quanto menos escrupulosa seja.
São em geral pastores, bispos e apóstolos. A Universal é um caso à parte, assim
como as igrejas neopentecostais, que são igrejas pós-macedianas, porque o projeto
político lá é totalitário, vem do Macedo a determinação de quem é e quem não
é”, critica. “As igrejas reformadas [também conhecidas como protestantes
históricas] são democrático-representativas. A cada cinco anos no máximo, tem
uma eleição de pastores. As episcopais [pentecostais] são mais por sucessão,
indicação do bispo. E, se os demais acolherem, eles são afirmados. Nas
pentecostais, os pastores vão colocando seus filhos na linha sucessória na
igreja e na política. Aconteceu assim com Malafaia, por exemplo. O pai dele era
pastor e o filho também é. Os protestantes históricos são mais silenciosos, mas
não quer dizer que não sejam homofóbicos, por exemplo. O Bolsonaro frequenta
uma igreja batista e é… O Bolsonaro.”
Freston, por sua vez, não vê influência do modelo americano,
como os chamados cinturões bíblicos, na política brasileira. Para ele, o
crescimento da bancada evangélica tem mais a ver com nosso modelo político.
“Quando a imprensa e os acadêmicos começaram a notar a presença dos
pentecostais na política, houve algumas interpretações sobre ser cópia dos
Estados Unidos, que já tinha a direita cristã, e a ideia de que isso estava
surgindo no Brasil, incentivado por esse modelo. Mas eu sempre achei que
correspondia muito mais às peculiaridades do sistema eleitoral brasileiro.
Porque você tem o crescimento pentecostal em muitos países do mundo, na América
Latina toda, em muitos lugares na África, em alguns lugares da Ásia. Mas só no
Brasil você tem esses fenômenos de bancadas nos Congressos.
Essa aproximação com a direita é mais recente e tem a ver
com essa nova direita, que não tem medo de se chamar de direita”, diz o
sociólogo.
Outra característica de nosso sistema eleitoral, a de
representação proporcional com listas abertas, favorece os candidatos
carismáticos, os “puxadores de voto”, que passam a ser cobiçados pelos
partidos. “Eles dizem ‘vamos por o pastor candidato que ele traz mais 2 ou 3
mil votos para a gente’. Mas esse cara traz 60 mil votos e se elege sozinho!
Esse sistema favorece a eleição desses pentecostais. E muitos países que tem
crescimento pentecostal não têm isso. No Chile, por exemplo, onde o
pentecostalismo também cresceu muito, você quase não teve políticos evangélicos
porque é outro sistema eleitoral. Aqui os líderes pentecostais souberam
maximizar suas possibilidades dentro desse sistema.”
E o que querem os políticos evangélicos?
Mais do que os temas morais como aborto, violência, drogas e
sexualidade, são os interesses institucionais que unem a bancada evangélica
segundo os pesquisadores. “A conquista de dividendos para as igrejas como a
manutenção de isenção fiscal, a manutenção das leis de radiodifusão, a obtenção
de espaços para a construção de templos e a transformação de eventos
evangélicos em culturais para obtenção de verbas públicas estão nesse páreo”,
explica Bruna Suruagy. Paul Freston dá um exemplo: “Na época da Constituinte,
teve a questão do mandato do Sarney, do quinto ano. Para conseguir esse quinto
ano, ele comprou muita gente no Congresso. A moeda de troca para muitos
pentecostais era uma rádio, coisas ligadas à mídia”.
Um estudo realizado pelo Instituto de Estudos da Religião
(Iser) em 2009 mostrou que de 20 redes de televisão que transmitiam conteúdo
religioso, 11 eram evangélicas e 9 católicas. Apenas a Igreja Universal
controla mais de 20 emissoras de televisão, 40 de rádio, além de gravadoras,
editoras e a segunda maior rede de televisão do país – a Rede Record.
Larissa Preuss, autora da tese de doutorado “As
telerreligiões no telespaço público: o programa Vitória em Cristo e a
estratégia de mesclar evangelização e preparação política”, destaca a enxurrada
de pastores eletrônicos na televisão brasileira nas décadas de 1980 e 1990. “O
RR Soares é o mais antigo, está no ar desde o fim dos anos 70, e o Silas
Malafaia entra em 1982. Ele é quem fala mais explicitamente sobre política na
televisão, apesar da maior articulação política ser da Universal”, lembra.
A pesquisadora conta que estudou os programas de Malafaia de
2014 para entender a relação de seus discursos com as eleições. “Ele assume que
existe uma briga política e deixa claro que quer influenciar e por isso não se
candidata. Ele fala diretamente ao público, mas também fala muito aos líderes
religiosos, tanto que Malafaia dá cursos de formação de pastores em locais como
a Escola de Líderes da Associação Vitória em Cristo (Eslavec) e está
construindo um império, hierarquizando igrejas dentro da Assembleia de Deus,
que não tem essa cultura. O Malafaia se coloca no lugar do profeta, que é
aquela autoridade que unge o rei e denuncia o sacerdote, e isso é muito forte.
Ele incentiva os líderes a influenciar seus fiéis para que Deus possa agir na
política.”
A hipótese de Larissa é que os pastores midiáticos migram
para a política justamente para garantir as concessões de radiodifusão. “Porque
as outorgas são ratificadas ou podem ser abolidas pelo Congresso. Então é uma
retroalimentação: eles estão na televisão, influenciam a eleição de certos
candidatos que vão garantir sua permanência na televisão. A informação hoje é
poder. A imagem é uma moeda valiosa. E os evangélicos estão na política como
nunca. Basta dizer que o tema da última Marcha para Jesus foi ‘faxina ética’”.
Municipal
E não é só em âmbito federal que a bancada evangélica tem se
fortalecido. O número de projetos de leis temáticos também tem crescido entre
os vereadores e deputados estaduais evangélicos, que recentemente também
barraram a discussão de gênero em planos municipais de educação em várias
cidades, incluindo a capital paulista. E não é só isso. A pastora e deputada
estadual Liziane Bayer, do PSB do Rio Grande do Sul, protocolou em abril o PL
124/2015, que prevê o ensino do criacionismo nas escolas públicas e privadas do
estado. Liziane, cujo slogan de campanha foi “compromisso com a fé, a família e
a vida”, conta que começou a se interessar por política e a conversar sobre o
assunto no grupo de mulheres de sua igreja. Ela diz que sabe que o projeto é
polêmico, mas defende o ensino do criacionismo para dar uma opção aos alunos.
“Eu acho o comunismo ruim, mas ele é ensinado nas escolas. O criacionismo pode
ser visto da mesma forma, mas, até pra que tu digas que não é correto, tem que
saber”, opina.
Em Cuiabá, o vereador Marcrean dos Santos (PRTB) criou um
projeto que virou lei instituindo um feriado evangélico na cidade (Lei n°
5.940/15); em Itapema (SC), o vereador Mouzatt Barreto (DEM) também criou um PL
para obrigar a leitura da Bíblia nas aulas de história das escolas públicas e
particulares; em São Paulo, o vereador Carlos Apolinário, que em 2011 conseguiu
que a Câmara aprovasse o “Dia do Orgulho Heterossexual”, vetado pelo então
prefeito Gilberto Kassab, apresentou um projeto de lei para criar banheiros
públicos em restaurantes, shoppings, cinemas e em casas noturnas para gays,
lésbicas, bissexuais e transexuais. Chegou a declarar: “não é possível minha
mãe entrar em um banheiro e encontrar um homem vestido de mulher”.
Em Manaus, a vereadora Pastora Luciana (PP), que prefere ser chamada de pastora –
“vereadora é só uma promessa, pastora é pra eternidade” –, é autora de três
projetos temáticos: o PL 125/15, que visa autorizar por lei manifestações
religiosas como palestras e pregações nos terminais de ônibus da capital com o
uso de caixas de som; o 075/15, que propõe a instituição de uma capelania na
Guarda Civil Metropolitana, e o PL da Cristofobia, que prevê multas para quem
tiver “atitudes discriminatórias em face da religião cristã, palavras e
práticas agressivas contra a figura de Jesus Cristo, ameaças, estereótipos
pejorativos, induzir ou incitar a discriminação contra a Bíblia Sagrada”. Mas o
projeto de lei mais bizarro é do vereador de Santa Bárbara do Oeste Carlos
Fontes (PSD). O PL 29/2015 proíbe a implantação de microchips em seres humanos,
comparando-os à marca da besta prevista no livro de Apocalipse (veja a
entrevista em vídeo que gravamos com o vereador).
“Se a presença de um evangélico na política melhorasse a
política, humanizasse a política, as igrejas seriam édens, oásis, paraísos de
bondade humana, altruísmo, inclusão, tolerância, misericórdia, de amor de
verdade, equidade, solidariedade. Mas, enquanto o diabo continuar a existir pra
eles da forma como existe, eles podem continuar roubando porque o diabo pagará
a conta das acusações. Em nome de Deus, a canalhice é santificada”, conclui
Caio Fábio.
O SABER LER A SI:
ResponderExcluir(ES.12.1)
(AP.13.18) – AQUI ESTÁ A SABEDORIA: AQUELE QUE TEM ENTENDIMENTO CALCULE O NUMERO DA BESTA, POIS É NÚMERO DE HOMEM: ORA ESSE NÚMERO É SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS: (AR.119.9)
(ISRAEL é o nome do Homem que sabe LER A SI no Espírito Bíblico: Aqui o saber acaba com as cogitações infundadas que existiam acerca do número 666 do Apocalipse, pois o que está escondido nas 131 letras e 10 sinais que compõem o texto acima, é isto):
ARNALDO RIBEIRO É ISRAEL: É O HOMEM QUE NASCEU NO CÉU, QUE AMA E SABE TESTAR AS ALMAS NO SEU NOME: E ELE ENTENDE QUE CRISTO TESTA DEUSES E DIABOS NESSE MESMO ESPÍRITO. (IL.131.7)
O SÉTIMO DIA
(DN.4.2) Pareceu-me bem fazer conhecidos os sinais e maravilhas que Deus, o Altíssimo, tem feito para comigo,; (EF.2.7) para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça em bondade para conosco em Cristo Jesus; (1CO.15.45) pois assim está escrito:
(GN.2.3) – E ABENÇOOU DEUS O DIA SÉTIMO, E O SANTIFICOU; PORQUE NELE DESCANSOU DE TODA A OBRA QUE, COMO CRIADOR, FIZERA: (AR.85.6)
E o que o Senhor quer dizer com as 85 letras e 6 sinais acima é isto:
SOU O ESPÍRITO QUE DESCEU DO CÉU, CRIANDO A SUA FÉ; E FAÇO SANTO O QUE É BATIZADO COM NOME DE ARNALDO RIBEIRO: (IL.85.6)
(Lc.12.50 – Tenho, porém, um batismo com o qual hei de ser batizado; e quanto me angustio até que o mesmo se realize; (IS.21.16) porque assim me disse o Senhor: (1RS.18.31) Israel será o teu nome, (LS..9.6) porque ainda que algum seja consumado entre os filhos dos homens, se estiver ausente dele a tua sabedoria, será reputado como nada.(LC.4.21) Hoje se cumpriu a escritura que acabais de ouvir: (LC.6.5) O Filho do Homem é Senhor do sábado:
E agora José? Ou melhor, Chico?...