“Diante dos senadores e deputados que temos, o mais
conveniente é manter o presidencialismo e adotar medidas para melhorar a
representação parlamentar, com o fortalecimento de partidos autênticos e
sistema de votação que aproxime eleitores e eleitos e reduza os custos das
campanhas”, avalia Hélio Doyle
Como não está hoje em discussão se o Brasil deva ser uma
República ou uma Monarquia, e se essa República deva ser federativa ou
unitária, há uma questão que deveria ser básica quando se fala em reforma
política: o sistema de governo. Ou seja, é preciso decidir se o Brasil continua
presidencialista ou adota o sistema parlamentarista. O sistema de governo
precede, em tese, a organização política e as normas eleitorais.
Por duas vezes, em 1963 e 1993, os eleitores já se
manifestaram, em plebiscito, a favor do presidencialismo. Mas, diante de novas
circunstâncias que se impuseram nos últimos anos – e, inclusive, diante do
traumático impeachment – seria bom retomar esse debate de maneira mais
aprofundada antes de definir as demais questões.
Há quem defenda, por exemplo, que no presidencialismo um
parlamentar só possa assumir cargo no Executivo se renunciar ao mandato, como
nos Estados Unidos. No parlamentarismo isso não teria sentido, pois o governo é
exercido pelo Parlamento e é natural que deputados e senadores sejam ministros,
que exerçam funções no governo que constituíram. No presidencialismo há eleição
direta do presidente. No parlamentarismo o chefe de Estado pode ser eleito
diretamente (França, Portugal) ou indiretamente (Alemanha, Itália).
O chamado voto distrital misto – que na verdade assegura uma
representação legislativa proporcional e não majoritária – funciona muito bem
no sistema parlamentarista da Alemanha. Lá, como em outros países
parlamentaristas, ao votar em uma lista partidária fechada o eleitor sabe que
está indiretamente votando no chanceler, denominação que se dá ao
primeiro-ministro. O líder do partido mais votado será o chefe do governo, a
não ser que partidos menos votados se unam em coalizão e formem maioria no
parlamento.
O parlamentarismo, porém, tem alguns pré-requisitos para
funcionar bem e um deles é a existência de partidos fortes e com clara
identidade política e ideológica. Assim o eleitor sabe em quem está votando
para comandar o governo e que projetos serão executados. Os parlamentares que
formam a coalizão têm responsabilidade pelo sucesso do governo e não se limitam
a falar e votar sem compromisso, como no presidencialismo. Isso favorece a
composição de um Congresso mais representativo e preparado do que o que temos
hoje no Brasil.
No momento, diante dos senadores e deputados que temos, o
mais conveniente é manter o presidencialismo e adotar medidas para melhorar a
representação parlamentar, com o fortalecimento de partidos autênticos e
sistema de votação que aproxime eleitores e eleitos e reduza os custos das
campanhas.
O parlamentarismo pode esperar e, se for o caso, ser
implantado quando o ambiente político estiver menos contaminado pelo poder
econômico, pela corrupção e pela demagogia e o Congresso estiver sintonizado
com a população.
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