"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

sábado, 28 de novembro de 2009

Como Passa por Cima do Estado de Direito




Existem diversas formas de se fazer isso e pelo jeito, no Brasil, muitas delas são utilizadas.
Antes de qualquer coisa é preciso relembrar as funções de cada um dos Três Poderes, pelo menos de forma básica e cremos que cada cidadão tem uma boa idéia do que se trata. Ainda mais quanto a separação e independência harmônica de cada um.

A busca de argumentos jurídicos para “construir” uma fundamentação jurídica com o objetivo de se negar a extradição de Battisti para que ele cumpra a prisão perpetua na Itália, por seus crimes hediondos, é uma delas. Com a decisão final nas mãos do Presidente da República, em uma verdadeira atitude de Pilatos tomada pelo STF, fica clara a interferência – quem sabe até o comando, se não estivermos exagerando – da Suprema Corte nacional pelo Executivo, que, afinal, indicou oito de sue onze ministros. Mesmo que dois deles não tenham votado. Se a decisão é do Presidente então porque o STF foi acionado? Porque se buscar uma “orientação” da mais alta corte, se cabe à esta a defesa do Estado de Direito? Se, na dúvida entre o Direito e a Justiça se deve praticar a Justiça, não seria justo que o criminoso fosse extraditado de nossas terras para seu país de origem, cumprindo tratados legais e morais?

Outra maneira de se passar por cima de outro Poder, o Legislativo, é a convocação da chamada “Sociedade Civil Organizada”. Para se “construir” novo corpo de regras que subvertam o que está estabelecido, o Poder Executivo organizou um conjunto de “conferências estaduais” em assuntos diversos, como direitos humanos e agora, comunicação, a tal da Confecom, no próximo dia 14.12. Tudo sob o eufemismo da “necessidade de democratização” disso ou daquilo. Nessas conferências comparecem delegados de todo o País, que dizem representar grupos sociais diversos, organizados cada um por meia dúzia de participantes alimentados com verbas federais e até estrangeiras, discutindo e votando assuntos que terão documentos diligentemente redigidos dentro dos interesses maiores do Poder Executivo e dos que o apóiam.

Antes que isso possa parecer uma acusação leviana, basta analisar via Google, o formato de cada conferência regional, estadual e a grande apoteose da “representatividade de movimentos sociais” na conferência nacional, composta por milhares de delegados pagos com recursos não se sabe bem de onde. Infelizmente poucos perceberam que tal ato, tido como democrático, é na verdade, um by pass no Congresso, no Poder Legislativo. Os deputados e senadores da República é que são os portadores da representatividade do Povo e não delegados que dizem representar uma tal de “sociedade civil organizada”.

E, para não deixar pedra sobre pedra, o Poder Executivo utiliza muito bem o modelo redistributivista que é delineado sob a prática da extorsão de recursos do Povo em todo o País, centralizando 75% de tudo que é arrecado em tributos na esfera federal, para controlar o Congresso, barganhando liberação de verbas com parlamentares, ampliando sobremaneira a tal “base de apoio” no lugar do que se faz em países civilizados, a conhecida “coalizão para governar”, no interesse da Nação.

Com os poderes amplamente dominados pelo Poder Executivo, acrescido do já comprovado aparelhamento de todas as instituições de Estado, vai se fechando o cerco da centralização que terminará em algo que será difícil de ser desmontado, graças à força do processo plutocrático que sustenta toda a operação. São as conseqüências da centralização. Considerando que o uso da força para manter a sociedade afivelada no cinto de segurança pode não funcionar em razão da interdependência econômica e a conseqüente insegurança no fluxo de investimentos, resta a esperança de que o sistema imploda em dado momento, graças a impossibilidade de se cooptar a todos por todo o tempo. A reação, quando chegar a ser considerada de escala, será calcada mais na inteligência, comunicação, estratégias e táticas. Será uma guerra assimétrica composta de novos elementos, isso se a internet, último baluarte da livre comunicação, não for controlada “democraticamente”.

A descentralização dos poderes teria evitado isso tudo...

sábado, 14 de novembro de 2009

Imperatriz Mãe do Brasil



Maria Elisabeth Franziska Theresia Josefa von Wittelsbach und Croy-Solre, Princesa da Baviera, nasceu aos 9 de setembro de 1914, no Castelo de Nymphenburg, em Munique, capital do então Reino da Baviera, na Alemanha.


É a segunda filha de S.A.R. o Príncipe Real Franz da Baviera (*1875 †1957), filho de Ludwig III, último Rei reinante da Baviera, e de S.A.S. a Princesa Isabelle de Croy (*1890 †1982). Sua madrinha era sua tia-avó, a Princesa e Duquesa Marie Salvatrix de Arenberg (*1874 †1957), Princesa Étienne de Croy.


A Princesa Maria nasceu no início da I Guerra Mundial. Grande parte de seus parentes, inclusive seu próprio Pai, o Príncipe Franz, que era General do Exército Real bávaro, tiveram que lutar nesse terrível fratricídio. Ela teve uma infância e juventude bastante problemática, em virtude dos regimes que se foram estabelecendo na Alemanha, após o desastroso fim da Guerra. Em 1918, seu avô, o Rei Ludwig, teve que abdicar ao trono e partir para o exílio, juntamente com a Família Real, pois um bando de comunistas instalou-se no poder em Munique, proclamando uma república. Ele morreu em 1921, na Hungria.Sua segunda infância e adolescecência a Princesinha Maria a passou toda no Castelo de Sarvar, na Hungria, propriedade herdada por sua Avó, a Rainha Maria Theresia, que era nascida Asburgo-Este (Princesa de Módena, Arquiduquesa da Áustria, Princesa da Hungria, etc.)


A Família Real retornou à Baviera nos anos 30. Contra a popularidade dos Wittelsbach nada se podia fazer e o governo republicano se viu obrigado a lhes devolver os castelos e bens confiscados, ou pelo menos grande parte deles. Aliás, até no governo da República, existiam monarquistas!


Os tempos na Alemanha do pós-guerra foram sombrios, sobretudo na Baviera; o famoso putsch dos nazistas ocorreu em Munique. Preocupado com a ascensão dos ideais totalitaristas, pela sua extremada fidelidade aos princípios da Religião Católica, contrária a qualquer regime opressivo - e especialmente no caso do nazismo, anti-semita -, o Príncipe Senhor Rupprecht (*1869 †1955), Chefe da Casa Real da Baviera, a quem em 1933, ofereceu-se a restauração do Trono, logo desarticulada pelo temor às gigantescas fileiras extremistas que vinham se formando, desde a morte de seu Pai em 1921, decidiu declarar-se publicamente adversário de Adolf Hitler e seus comparsas. Tal bravura custou caro a ele e aos seus. Os membros da Família Real tiveram de fugir para a Itália; sua segunda esposa, a Princesa Senhora Antonia (*1899 †1954), nascida Nassau-Weilburg (Princesa de Luxemburgo), foi interceptada pela milícia nazista, que aprisionou-a em Buchenwald, e lhe torturou impiedosamente. Em decorrência disso, ela faleceu anos depois.


A Princesa Maria recebeu dos Pais esmerada educação. Fala fluentemente o Alemão, o Francês e o Português. De suas preceptoras inglesas, pôde ainda adquirir uma prática invejável nessa Língua, a qual infelizmente perdeu-se com o tempo. É pintora, especializada em porcelanas, arte tradicional da Baviera.Em 19 de agosto de 1937, pouco antes do início da II Guerra, ela foi desposada, tendo oficiado a cerimônia Sua Eminência o Cardeal Faulhaber, Arcebispo de Munique, na Capela do Castelo de Nymphemburg, por S.A.I.R. o Príncipe Senhor D. Pedro Henrique (*1909 †1981), Chefe da Casa Imperial do Brasil... e a bela Princesa bávara tornou-se a Imperatriz do Brasil no exílio!


O casamento serviu de pretexto ao Duque da Baviera para enfrentar o Governo Nazista; afinal, compareceram dois Soberanos e diversos Chefes de Casa da Europa, entre os quais o Rei exilado de Espanha, D. Alfonso XIII e a Grã-Duquesa de Luxemburgo, Charlotte I; os altos comandantes alemães não foram convidados...


Na França, onde residia nossa Família Imperial, nasceram seus quatro primeiros Filhos: o Príncipe Imperial D. Luiz (*1938), o Príncipe D. Eudes (*1939), o Príncipe D. Bertrand (*1941) e a Princesa D. Isabel (*1944).Em 1945, findada a Segunda Grande Guerra, o Casal Imperial finalmente chegou ao Brasil. Aqui, foram primeiramente instalados no Palácio do Grão-Pará, em Petrópolis, logo partindo porém a uma casa no bairro do Retiro, onde nasceram o quinto e o sexto Filhos: o Príncipe D. Pedro de Alcantara (*1945) e o Príncipe D. Fernando Diniz (*1948).Na Cidade Maravilhosa vem ao mundo mais um Imperial Infante, o Príncipe D. Antonio João (*1950). Em 1951, o Senhor D. Pedro Henrique adquire uma propriedade agrícola, a Fazenda Santa Maria, na cidade de Jacarezinho, interior do Estado do Paraná, onde a Família irá residir até 1964.No Paraná, nascem os últimos cinco filhos de Dom Pedro Henrique e Dona Maria: a Princesa D. Eleonora (*1952), o Príncipe D. Francisco (*1955), o Príncipe D. Alberto (*1959) e as Princesas gêmeas D. Maria Thereza e D. Maria Gabriela (*1959).


Em 1965, a Família Imperial já está morando em Vassouras, cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro, cuja fama é remanescente do Império, quando era um polo cafeeiro. Em 5 de julho de 1981, o Príncipe Senhor D. Pedro Henrique falece em Vassouras. Seus funerais, aos quais comparecem centenas de monarquistas de todo o Brasil, foram uma grande demonstração do encanto, da magia, que o antigo regime ainda exerce sobre nós. O Príncipe, a quem seu primogênito e sucessor costuma denominar "Condestável das Saudades e da Esperança", foi pranteado por figuras ilustres das sociedades civil e militar brasileiras.


Seu filho mais velho, o Príncipe Senhor D. Luiz, ascendendo à Chefia da Casa Imperial, Dona Maria tornou-se a Princesa Mãe (ou Imperatriz Mãe) do Brasil. Ela, que sempre recorda docemente o carinho com que foi recebida pelos brasileiros, ao desembarcar aqui em 1945, continua a cumprir, embora numa escala bem menor, suas obrigações sociais, não desleixando nunca das religiosas. É sobretudo prazeroso à Princesa Mãe o auxílio na educação dos netos, que já beiram a casa dos trinta.


Ela é considerada uma "mulher do Evangelho", nas palavras do Bispo D. José Carlos de Lima Vaz SJ (atual titular da Diocese de Petrópolis): os exílios, revoluções, perseguições e privações de toda ordem pelos quais passou, resignando-se e orando, desde o seu nascimento, confirmam esta idéia.


"Dona Maria da Baviera", como é chamada pela sociedade brasileira, tem dividido seu tempo entre o Sítio Santa Maria, em Vassouras, onde seus netos lhe cercam aos fins de semana, o Castelo de Beloeil, na Bélgica, onde reside a Princesa D. Eleonora e seus filhos, os Castelos de Berg e Leutstetten, na Baviera, onde ela revê seus irmãos, sobrinhos e primos reunidos e, finalmente, Tervuren, no interior da Bélgica, onde agora reside a Princesa D. Maria Thereza de Orleans e Bragança.


Sua Alteza é Dama das Veneráveis Ordens de Santa Isabel e Santa Teresa, da Baviera e é Dama Grã-Cruz de Justiça de todas as Imperiais Ordens do Brasil e da Ordem Constantiniana de São Jorge, das Duas Sicílias.


fonte: Imperial e Real




terça-feira, 10 de novembro de 2009

Congresso Monárquico !!!!


Acontecerá em Santo Antônio de Pádua - RJ


Dia 05 de dezembro de 2009 um Congresso Monárquico com a presença de D. Antônio e D. Rafael.


Todos são convidados a participar! Maiores informações pelo e-mail:



Andréa Caldas


Chanceler do Círculo Monárquico de Santo Antônio de Pádua - RJ






segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Passado que não passa, futuro que não chega


Centenário das mortes de Machado de Assis e de Artur Azevedo traz reflexões sobre o fim do século 19, se é que ele findou.


Por: Flávio Aguiar
01/07/2008


O século 19 brasileiro só terminou em 1910. Já sob o governo do marechal Hermes da Fonseca, foi deflagrada a Revolta da Chibata, liderada pelo marinheiro João Candido, que graças ao episódio ganharia a alcunha de “O Almirante Negro”. Na Marinha os castigos corporais com chibata foram abolidos em 1889, com a proclamação da República. Mas foram restabelecidos em 1890. Diante da marinhagem, na maioria constituída por negros, mulatos, caboclos, a oficialidade, predominantemente de ascendência européia, só se sentia segura se tivesse tal instrumento para impor disciplina.


As penas falavam em pelo menos 25 chibatadas em público. Ao fim de novembro daquele ano um marinheiro recebeu 250. O castigo deflagrou a revolta.
Os amotinados apoderaram-se de alguns navios em frente à capital federal e ameaçaram bombardeá-la. Pediam o fim da chibata, melhorias na alimentação e nas condições de trabalho. Enquanto o restante da esquadra preparava-se para atacar os amotinados, o Parlamento votou uma anistia e o fim dos castigos corporais. Mas o triunfo dos revoltosos foi breve. Muitos foram confinados na Ilha das Flores, onde a pretexto de nova rebelião foram atacados e massacrados mesmo depois de se terem rendido. Centenas foram deportados para províncias do norte, onde nunca chegaram, mortos que foram pelo caminho. Quase uma vintena foi jogada num calabouço subterrâneo e sufocada com cal viva. Apenas dois não morreram, um deles João Candido, que, expulso da Marinha, viveu de pequenos expedientes até a década de 1960.


O episódio é baliza da vida brasileira, esse contínuo choque de um passado que não passa e de um futuro que não chega. É verdade que pôs fim à última cicatriz formal da escravidão. O Brasil comprara modernos cruzadores e couraçados na Europa. Os marinheiros, muitos ex-escravos ou filhos de escravos, adestravam-se na Europa para lidar com o maquinário. Por outro lado, mostra como o pacto surdo entre as elites brasileiras logo se reafirmou na perseguição e extermínio dos que ousaram “ir além do seu galho”, reivindicando com as armas de que dispunham um tratamento mais humano.


Mas o término do século 19 (se é que se completou até hoje...), na verdade, dera sinais um pouco antes. Dois deles em Paris: em 1901 Santos Dumont fez a primeira circunavegação da Torre Eiffel com seu balão dirigível; e em 1906 fez o vôo do 14-Bis no Campo de Bagatelle. Transformou-se num dos personagens que o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes chamava de “Bodes Exultórios” da brasilidade, e foi saudado pela marchinha que fez história: “E a Europa curvou-se ante o Brasil...”.


Tudo ainda sob o clima da belle époque parisiense que antecedeu a Primeira Guerra Mundial.


Letras e palcos


Mas como “sentimento do tempo” mais propriamente o século 19 começou a terminar em 1908. É que nesse ano dois representantes eminentes do “espírito do século”, tão grandes quanto contrastantes, desapareceram da vida carioca e brasileira. Em 29 de setembro morria Machado de Assis, aos 69 anos, já reconhecido como primeiro nas letras brasileiras, presidente da Academia. E em 22 de outubro desaparecia o dramaturgo maranhense Artur Azevedo, aos 53 anos, reconhecido como o primeiro nos palcos brasileiros. Eram amigos. Artur dedicara a Machado seu primeiro livro de contos, de 1889. Juntos, participavam das rodas literárias da capital e fundaram a Academia Brasileira de Letras, modelada pela francesa, entre 1896 e 1897. Machado de Assis ocupava a cadeira de número 23, cujo patrono era José de Alencar, e Artur Azevedo a de número 29, e o seu patrono era Martins Pena.


Eram e foram dois escritores muito diferentes, no temperamento e no destino, durante suas vidas e depois de suas mortes. Mas tiveram em comum a faceta de reinar em seus respectivos domínios, embora a fortuna crítica de ambos seja muito diversa. Machado de Assis vinha de família muito pobre, do subúrbio carioca. Começou a vida intelectual como tipógrafo, depois como colaborador dos jornais da Corte. Sua primeira realização de vulto foi tornar-se o melhor crítico de teatro brasileiro do século 19. Mas fez carreira literária como cronista e, sobretudo, como contista e romancista.


A fortuna crítica (conjunto de artigos e livros escritos sobre a obra de um escritor) atravessa o século 20 com abundância. Todos os grandes críticos e pensadores da ficção brasileira se mediram, alguma vez, com sua obra: Sílvio Romero, José Veríssimo, Alcides Maya, Augusto Meyer, Lúcia Miguel Pereira, Astrojildo Pereira, Afrânio Coutinho, Mário de Andrade, Eugenio Gomes, Brito Broca, Raimundo Faoro, Antonio Candido, Roberto Schwarz, Alfredo Bosi, Jean-Michel Massa, John Gledson, apenas para citar alguns. Sua obra chegou ao século 21 envolta numa aura de contemporaneidade perene e incluída na pauta dos estudos acadêmicos europeus e norte-americanos.


Mais ainda: sua obra tornou-se pedra fundamental na reflexão não só sobre a literatura brasileira, mas sobre o próprio Brasil. Machado de Assis é hoje tido e lido como o escritor do século 19 que mais bem interpretou essa maldição que se abate sobre a vida de nossa sociedade de modo ao mesmo tempo intermitente e permanente: como no caso da Revolta da Chibata, o passado que não passa e o futuro que não chega.


Alicerces íntimos


Tradicionalmente, a crítica dividiu a obra machadiana em duas fases, a de um romantismo tardio e a de um realismo que permanece até hoje de vanguarda. Para ficarmos na ficção, à primeira pertenceriam os romances e contos escritos antes de 1881, como Contos Fluminenses, Ressurreição, A Mão e A Luva, Helena e Iaiá Garcia, entre outras obras. Na segunda estariam os grandes clássicos machadianos, como o conto O Alienista, os romances Memórias Póstumas de Brás Cubas, Histórias sem Data, Quincas Borba, Dom Casmurro, Várias Histórias, Páginas Recolhidas, Esaú e Jacó, Relíquias da Casa Velha, Memorial de Aires, este último publicado depois da morte da mulher, Carolina, e um pouco antes da sua. Machado de Assis passou em revista todo o Segundo Império, algumas vezes atravessando seus limites, seja para antes (raramente), seja para depois (como em Esaú e Jacó). Lido a partir de hoje vê-se que, embora levasse vida pública modesta e recatada, embora fosse monarquista liberal, ou melhor, republicano desiludido, em sua literatura não ficou pedra sobre pedra daquele mundo do século 19 e de sua “continuação” no 20.


Machado recorta o universo ético contraditório da elite brasileira, e expõe os alicerces íntimos da construção de um mundo onde tudo e nada valem ao mesmo tempo. Não há princípios, não há indivíduos, não há vontades fortes em conflito em nome de valores que julgam universais ou eternos. O que há é só e sempre acomodação, favor, clientelismo, oportunismos. Sem desmerecer os demais livros, pode-se ressaltar dois extremos, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro. No primeiro, o ponto de vista é o de um defunto que escreve suas memórias, evocando uma vida insossa, só movimentada por uma relação de adultério com sua paixão Virgília. Assim mesmo a paixão se realiza mitigada, pois a uma fuga romântica para a Europa ou para a roça, ambos preferem compartilhar o seu brilho na Corte (todos sabem do caso, até o marido “enganado”) com os encontros obscuros numa casinha suburbana, onde vegeta uma pobre senhora que acaba morrendo miseravelmente.


Em Dom Casmurro temos as memórias escritas por um rico herdeiro das propriedades maternas que se casa com a moça pobre (Capitu, uma das personagens mais fascinantes da literatura brasileira) que ele ama de verdade mas não compreende, em sua busca de ascensão e brilho na crepuscular Corte do século 19. Termina acusando-a de um adultério, num gesto onde se confundem observação e fantasia, onde a primeira fantasia e a segunda observa. O resultado é a trágica mas quieta dissolução de duas vidas, sem alardes, sem estrépito, sem vontades que se arrostam, apenas conveniências que se acomodam.


Esse mesmo “desossamento” ético fez parte dos contos, crônicas e do teatro de Artur Azevedo. Chegando à Corte em 1873, ele imperou num gênero que faria história até meados do século 20: o teatro de revista, que relia os acontecimentos do ano anterior, com números feéricos de dança, canto e correrias com dezenas de personagens. Além de, entre 1878 e 1908, produzir essas revistas anuais, Azevedo criou dezenas e dezenas de comédias, operetas, dramas, artigos e crônicas. Seus melhores testamentos teatrais são A Capital Federal, de 1897, em que atravessa o Rio de Janeiro com seu olhar clínico, mas bonachão e alegre, ao contrário do vetusto de Machado; e O Mambembe, de 1904, declaração de amor ao teatro, com a qual um grupo do Rio percorre o interior do Brasil.


Com a morte de ambos, cujo centenário é lembrado neste ano, começou a fanar-se o mundo intelectual do século 19, embora suas cicatrizes culturais, sociais, políticas e econômicas permaneçam vivas. Em 1909 morria tragicamente, num tiroteio movido a ciúme, Euclides da Cunha, autor de Os Sertões, espécie de summa teológica de interpretação do Brasil do ângulo do pensamento positivista do fim do século 19, inspirador do movimento republicano que desaguou na República Velha, dos Coronéis, que subjugou os marinheiros de 1910 e perdurou até 1930. Em 1910, no começo do ano, morrera em Washington, onde era embaixador, aos 50 anos, Joaquim Nabuco, o “Tribuno da Abolição”. Não testemunhou a traição do fim do ano que exterminou os marinheiros cujo sacrifício aboliu de vez a chibata.


Sobre o Brasil de herança escravista e emperrado, Machado e Azevedo deixaram, cada um a seu modo, seu legado – aquele mais engalanado hoje, este mais modesto. Seu brilho foi seu tribuno para a posteridade. Os marinheiros não tiveram seu tribuno. Mas nem por isso seu legado tornou-se menos importante, inclusive como marca tão indelével quanto a boa literatura e o bom teatro sobre esse Brasil do passado que não passa e do futuro que não chega.

Futebol e Politica


Artigo de Alberto Rosa,


28/09/2009.

Realmente irritado sobre o último incidente no Campeonato Brasileiro de Futebol, quando dirigentes da Portuguesa foram, juntamente com seguranças armados, ao vestiário dos jogadores para reclamar (e intimidar) os atletas sobre a má situação do clube no Campeonato Brasileiro (Serie B), Rogério Ceni, um dos mais famosos goleiros brasileiros na atualidade, jogador do São Paulo F.C disse: “Não entendo porquê as pessoas não vão ao Senado Federal para protestar da mesma forma contra os políticos. Isso só acontece quando o assunto é futebol.”


Após seu desabafo, eu estava pensando: “Porquê os brasileiros não agem do mesmo jeito sobre os problemas políticos?” Eu sei, é sempre errado (e um crime também) portar armas de fogo para intimidar pessoas, e certamente quem fez isso será severamente processado e possivelmente até preso. Mas o que eu estou falando é sobre a atitude, de exigir mudanças quando as coisas estão indo mal. Porquê só agimos assim quando o assunto é futebol?Eu posso responder estas questão com apenas uma palavra: DISTANCIAMENTO.


Explico:


A razão pela qual somos tão exigentes sobre futebol é a certeza de que, se fizermos isso, mudanças virão. Sabemos que podemos fazer a diferença, que podemos participar. Além do mais, é fácil, o estádio do nosso clube fica a poucas quadras de nossa casa, resumindo, o problema, quem é responsável, e quem sobre com ele, vivem na mesma comunidade.


Entretanto, ainda respondendo a pergunta de Rogério Ceni, o atual sistema político e eleitoral brasileiro foi feito para manter as pessoas distantes, contribuindo para a impunidade. O Brasil concentra todas as principais decisões políticas (o responsável) em Brasilia, esta, construída apenas para sediar o Governo Federal (o problema), e que fica muito distante para quase todos os brasileiros, principalmente dos grandes centros econômicos (quem sofre). Somando a distância geográfica entre Brasília e cidadão, com a distância legal entre políticos e eleitores, fica praticamente impossível para o povo brasileiro reclamar e ser ouvido sobre as demandas políticas de sua realidade. Resultado disto é o distanciamento, a descrença de que possa existir bons políticos. O povo está cansado desta impunidade que impera na capital.


O caminho mais fácil para fazer o povo brasileiro novamente acreditar e participar da política brasileira seria os políticos começarem a mostrar melhores resultados, e consequentemente reconquistar a confiança do cidadão, mas como isso poderia acontecer se este distanciamento é exatamente o que maus políticos desejam e precisam para continuar no poder, e continuar com suas praticas criminosas?Consigo ver apenas um caminho: REFORMA TOTAL. O Brasil precisa de um novo sistema político, que descentralize o poder do Governo Federal, dando-o para os estados e municípios. Os políticos precisam estar mais perto de suas comunidades. Somente quando isto acontecer (respondendo ao Rogério) é que o povo conseguirá realmente exigir e participar do destino político do Brasil, da mesma forma como no futebol.


Por muitos anos o cidadão brasileiro tem sido iludido com falsas promessas, com as mesmas e inúteis soluções para os velhos problemas, entretanto, um novo movimento intelectual que está crescendo rapidamente com uma proposta que poderá resolver o maior problema do Brasil; o distanciamento.


Trata-sedo Federalismo e este Instituto Federalista pode ser a melhor alavanca para se iniciar uma mudança de mentalidade no Brasil. Publicado originalmente em Instituto Federalista

Percepcao Politica


por. Regina Caldas*


A vida de Brunetto Latini (1220-1294), coincide com um dos períodos mais agitados da história política florentina. Tendo recebido formação para se tornar notário, Brunetto foi treinado para escrever em latim nas mais variadas formas de contratos e na redação de atos e documentos governamentais. Como praticante de notário, atestou mortes, atos de ultima vontade, acordos de negócios particulares e do estado, entre Florença e outras cidades.


Brunetto Latini foi uma proeminente figura da vida pública florentina. Ocupou vários cargos de confiança como chefe de chancelaria, conselheiro e por duas vezes, embaixador. Foi também escritor, e seus livros são relatórios baseados em experiências adquiridas na vida pública. Foi na França, durante um curto período de exílio, como Dante e Machiavelli, que escreveu seus melhores livros: “Li Livres dou Tresor” (no estilo das enciclopédias medievais), o inacabado “Il Tesoretto”, um trabalho alegórico e didático em versos, e “Rettorica”, um comentário do livro de Cícero, “De inventione”. Seus escritos revelam a sua maior paixão na vida pública: a palavra e seu efeito na vida comunitária.


Aos olhos de Brunetto, a vida urbana significava a verdadeira forma de sociedade civilizada. Exagerando uma visão de Cícero, ele considerava a retórica, a suprema ciência de governar uma cidade. A arte de falar sem a qual a cidade não existia, pois faltariam justiça e solidariedade. Para ele a civilização originava-se na palavra, unindo os homens e levando-os a viverem juntos em algum lugar e debaixo de leis.


“Li Livres dou Tresor”, foi a primeira enciclopédia a ser escrita para ensinar as leis, e dirigida aos burgueses. Entretanto isto também trata de teologia, ciências naturais e história, mas os temas centrais são a ética, retórica e governo urbano. Seus mentores intelectuais foram Aristóteles e Cícero. O primeiro ajudou o autor a perceber as conexões entre ética, vida comunitária e política, enquanto com o segundo aprendeu a importância da retórica. Mas ele foi além de endossar seus inspiradores revelando uma extrema preocupação com os problemas políticos e morais dos espaços urbanos. Discutiu a dinâmica dos negócios e do dinheiro, a civilidade, a usura, o serviço comunitário, os departamentos de estado, a autoridade política e a justiça civil. A parte mais importante do Tresor aparece no livro III. Aqui ele trata da retórica e da “boa fala”, e se envolve com as cidades italianas e seus regimes comunais durante o período central do século XIII, discutindo as funções do “podestà”.


Seus escritos nos oferecem uma percepção do homem como indivíduo e também uma visão acurada dos problemas de seu tempo. Ele aborda a natureza e origem dos governos, a ligação ideal entre o “podestà” e a comunidade, incluindo eleições e qualidades requeridas num bom governante. Trata também de todas as formalidades necessárias à chegada de um novo governante, a relação com o seu staff, reuniões com os conselhos comunitários, indicação de embaixadores, administração da justiça, suas responsabilidades sobre os direitos e propriedades dos cidadãos, preparo de seu sucessor, e tudo o que deve executar antes de deixar o governo. O livro é dirigido ao “podestà” e aos cidadãos. É um tratado prático e preciso, que além de ensinar as solenidades do cargo, também fala de justiça, imparcialidade, vontade divina e os benefícios da paz.


Uma preocupação de Brunetto a respeito das eleições para o cargo de governar uma cidade, referia-se a seleção dos candidatos, quase sempre de origem nobre. Ele recomendava aos cidadãos que, ao fazerem suas escolhas considerassem acima de tudo a nobreza do coração, uma vida de costumes honrados, seu trabalho e seu lar. Para tanto ele concluía: “Muitas pessoas não consideram os hábitos do candidato, mas sim o poder que ele comanda para a sua linhagem ou para os seus desejos. Eles estão, entretanto enganados, pois o ódio e a guerra têm se multiplicado entre nós, sendo isto o sinônimo de uma divisão entre os burgueses. E os cidadãos que amam uma facção odeiam as outras.” Tiranos como Ezzelino da Romano, Torriani e outros, desfilavam aos olhos de Brunetto como resultado da tendência popular de eleger candidatos na base do seu poder, de suas ambições ou sua popularidade. Para ele, o poder deveria ser partilhado entre a experiência, os bem sucedidos e as eminências. Nas sociedades fortemente marcadas pelo status, deferências e intelectualidade, a tendência é que as altas classes tornem-se elitistas e cuidem apenas de proteger seus próprios interesses.


Outra preocupação do notário, relativa ao governo, era de que os governantes deveriam manter afastadas suas relações de amizade enquanto ocupassem cargos de poder, já que isto diminuiria a dignidade do cargo, levantava suspeitas e estimulava a discórdia civil. A implicação era de que o “podestà” poderia ser tentado a ajudar os amigos violando as leis. Um podestà jamais deveria vender justiça ou receber presentes, afirmava ele. E concluía que sendo a comunidade sempre dividida pelos interesses dos vários grupos sociais, a melhor maneira de se impor barreiras à corrupção e às dissidias seria obedecer a lei e temer a Deus.


O código de Brunetto, a ser seguido pelo bom governante determinava:


* Não aceite um segundo termo;

*Não faça amigos enquanto estiver governando;

*Não mantenha contactos pessoais;

*Não adquira débitos com pessoa alguma;

*Não se permita ser louvado pelo conselho;

*Esteja acima das partes e facções;

*Sempre consulte os cidadãos mais capazes;

*Favoreça a opinião e o conselho da maioria;

*Obedeça estritamente a lei em todas as circunstancias;

*Não aumente as taxas e impostos deixando a população endividada, salvo por manifesto benefício à cidade e pela aprovação do conselho.


Como fica muito claro na concepção do notário, justiça não soluciona todos os problemas existentes dentro de uma comunidade, pois as pessoas diferem umas das outras e assim sempre será. O homem sempre tem uma concepção arbitrária ao reclamar para si os bens terrenos. Mas, estando a justiça no meio deles torna-se possível a convivência social.


Em vários aspectos de seus escritos, Brunetto manifestou pensamentos e atitudes que retrataram a percepção local própria do século XIII. Porém, quando fala de política e sociedade, seus pensamentos são extraídos de um forte apego à cidade tendo-a como um fim em si mesma. E, numa época em que todo ato de governo era considerado fruto da vontade divina, sua visão política vai além de seu tempo. A noção medieval de que todo poder político provinha de Deus não era uma abstração. Continuamente, nas falas públicas o homem era conduzido a aceitar plenamente a vontade divina em seu destino.


A doutrina era enunciada sob o juramento de que reis e governantes reconheciam a origem divina de sua autoridade. As conseqüências eram de ordem prática. Se toda a atividade política origina-se de uma concepção religiosa e sujeita à uma ordem de valores eternos, quem governava estava imbuído de um poder superior incontestável para criar as leis, julgar, administrar e decidir os destinos da cidade e de seus cidadãos, conduzi-los à guerra ou à paz.


E as conseqüências para os cidadãos eram claras, os heréticos eram condenados à morte. Foi Brunetto Latini que, durante o tempo em que esteve exilado na França, primeiro manifestou sua compreensão da necessidade de separar a gestão do Estado de suas origens de cunho espiritual tornando-o secular. Mas para que a semente de seu pensamento se espalhasse, e provocasse mudanças para governos seculares, levou tempo.



* Formada em Administração de Empresas; exerceu cargos de diretoria e Conselho na Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais do Estado de São Paulo (BPW), na União Cívica Feminina, no Voto Consciente, Federação Internacional de Amigos de Museus e fez parte do Instituto Liberal (SP).


FHC x LULA


01/11/2009


Lula exerce "autoritarismo popular", com "decisões esdrúxulas", diz FHC em artigo


O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso assina um artigo veiculado neste domingo (1º), em diversos jornais de circulação nacional e local, por meio do qual faz duras críticas à gestão Lula, que seria o responsável pela “enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas”. Segundo FHC, Lula exerce um “autoritarismo popular” velado, com a anuência de uma sociedade satisfeita por um contexto de avanços.


“Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo ‘Brasil-potência’. (...) Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo”, disserta o tucano.


Intitulado “Para onde vamos?”, o texto inicia a argumentação mencionando a suposta acomodação da opinião pública diante de um governo com alguns êxitos, e de um presidente com elevada aceitação popular e tido como um dos expoentes da nova ordem mundial. “(...) alguns estão de tal modo inebriados com ‘o maior espetáculo da Terra’, de riqueza fácil que beneficia a poucos”.


O ex-presidente desfila sua erudição de sociólogo formado na francesa Sorbonne e faz analogias a obras literárias como O príncipe, de Nicolau Maquiavel, e à famosa frase atribuída a Luís XIV de Bourbon, ‘L’État c’est moi’, na qual o monarca absolutista da França demonstra como encarava seu reinado. É quando FHC faz referência à “mal ajambrada” reforma na legislação do petróleo, um dos “pequenos assassinatos” supostamente perpetrados por Lula e “engolidos sem tempo para respirar” pelo Congresso Nacional.


“Por que anunciar quem venceu a concorrência para a compra de aviões militares se o processo de seleção não terminou? (...) Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do ‘autoritarismo popular’ vai minando o espírito da democracia constitucional”, diz FHC, citando episódios e ações de governo em nível nacional e internacional, como a relação com o presidente iraniano Ahmadinejah e às recentes rusgas em torno da gestão da Vale, maior empresa privada do país.


“(...) o presidente já declarou que em matéria de objetivos estratégicos (como a compra dos caças) ele resolve sozinho. Pena que estivesse esquecido de acrescentar ‘L’État c’est moi’. Mas não se esqueceram de dar as razões que o levaram a tal decisão estratégica: viu que havia piratas na Somália e, portanto, precisamos aviões de caça para defender ‘nosso pré-sal’. Está bem, tudo muito lógico”, arremata o tucano, retomando o título do artigo ao encerrá-lo.


“Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde.”