"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

sábado, 17 de agosto de 2013

O segundo casamento do imperador D.Pedro I

Com a morte de D. Maria Leopoldina, um grande vazio se instaurara na corte carioca, devido à perda de uma figura muito bem quista tanto por fidalgos quanto pelas classes populares, e de escravos. Dias de luto procederam à morte da paladina da Independência do Brasil, enquanto seu viúvo permanecia ao lado daquela à qual o povo creditava toda a culpa pelo sofrimento e morte da soberana.

Com o cargo de Imperatriz vago, Domitila de Castro Canto e Melo passara a concentrar em si, se não o título, pelo menos as funções de consorte real, organizando bailes para a aristocracia, recebendo embaixadores e comissionando cargos no governo para seus amigos e familiares. Tais prerrogativas faziam da marquesa de Santos uma provável candidata ao trono. Possuía-a um caráter extrovertido, além de uma linhagem que, mesmo incomparavelmente inferior à de D. Leopoldina, se podiam distinguir nomes importantes, como o de Inês de Castro. Todavia, ciente da extrema impopularidade que seu relacionamento com Domitila lhe valera perante os súditos, D. Pedro I estava disposto a tomar medidas para restaurar sua própria reputação, e a alternativa mais óbvia para tanto seria um novo casamento, não com uma nascida da terra, mas com uma princesa europeia.

Através de seu matrimônio com a arquiduquesa Leopoldina de Habsburgo, D. Pedro ligara-se à nobre casa d’Áustria, uma das potências mais importantes do período. Uma segunda união, por sua vez, permitir-lhe-ia estreitar ainda mais os laços com o continente europeu. Diante disso, redigiu uma missiva a seu sogro, o imperador Francisco I, na qual dizia:

“Prezadíssimo sogro e meu amo,”

“Posto que no meu coração exista ainda muito vivamente a lembrança de minha prezada Leopoldina [...] que arranca de meus olhos lágrimas de externa saudade, contudo, vendo a necessidade de segurar bem o trono brasileiro e tomando o exemplo de Vossa Majestade já por três vezes dado vou pedir-lhe licença para efetuar segundas núpcias. Permita-me que agora lhe patenteie meu plano e peço ajudar-me a pô-lo em práticas…”.

Entretanto, as negociações não se mostrariam tão fáceis para o primeiro soberano do Brasil, uma vez que seu caso com a marquesa de Santos, aliado às causas então suspeitas da morte da primeira esposa, desacreditara-o de forma considerável perante as demais monarquias da Europa. Desse modo, era preciso livrar-se de Domitila o quanto antes, para se conseguir alcançar o fim desejado. Só que essa não seria uma tarefa tão fácil como se poderia prever.

Mulher de um temperamento extraordinário, Domitila de Castro possuía uma caráter determinado e não ia abrir mão tão fácil de tudo o que conquistara até então. Não obstante, Pedro I ainda encontrava-se apaixonado pela mesma, embora não com a mesma intensidade demonstrada nos anos iniciais do relacionamento. Enquanto tentava lidar com seus sentimentos, encarregara Felisberto Caldeira Brandt, marquês de Barbacena, juntamente com Domingos Borges de Barros, visconde de Pedra Branca, para procurar pelas principais casas dinásticas da Europa uma princesa digna dos desejos do imperador.

Todavia, poucas demonstraram interesse em fazer uma viagem extremamente cansativa rumo à América para se casar com um homem de quem se acreditava ser o responsável pela morte da consorte. Sendo assim, o mercado de alianças matrimoniais não se mostrava favorável ao Brasil. Era preciso afastar a sombra da marquesa, pelo menos diante dos olhos do público. Mas não demorou muito, e as pessoas começaram a descobrir que o afastamento de Pedro da amada era apenas superficial, pois secretamente ainda continuavam a trocar cartas apaixonadas e a manter encontros noturnos no solar de Domitila.

Não obstante, um novo acontecimento viria acumular o vão das frustrações dinásticas de D. Pedro I: seu irmão, D. Miguel, prometido em casamento à primogênita do imperador, D. Maria da Glória, iniciara em 1828 uma revolta contra a autoridade do irmão mais velho, na qual almejava a coroa de Portugal. Aliado a esse infortúnio, o marquês de Barbacena começara a tomar os primeiros “nãos” das pretendentes. Conta-se que a princesa da Lombarda chegara mesmo a se ajoelhar, pedindo para não vir ao Brasil. As únicas candidatas que se prontificaram à tarefa foi uma sueca, albina; e uma princesa do Haiti, filha de rei afrodescendente. As duas, por sua vez, foram recusadas. Por fim, diante das sucessivas negações, o soberano dirigiu novas instruções ao marquês, nas quais dizia:

“O meu desejo, e grande fim, é obter uma princesa que por seu nascimento, formosura, virtude, instrução venha fazer minhas felicidade e a do Império. Quando não seja possível reunir as quatro condições, podereis admitir alguma diminuição na primeira e na quarta, contando que a segunda e a terceira sejam constantes” .

O que podemos entender a partir das exigências do monarca é que a noiva poderia não ser tão bem nascida ou mesmo ignorante, contanto que fosse bonita e recatada. Seria necessária então alguma paciência para esse imperador de quase 30 anos até que se encontrasse uma mulher que atendesse suas exigências.

Da Europa, Felisberto Caldeira tentava tranquilizar o Imperador dizendo-lhe que “brilhante casamento no estado atual das coisas não se consegue sem tempo, paciência e muita desteridade, visto que presentemente princesas só há na Alemanha, onde a influência de Matternich é decisiva”. 

Tanto Francisco I quanto seu chanceler Matternich queriam encontrar para D. Pedro I uma noiva que servisse às pretensões austríacas no solo brasileiro, tal como a finada imperatriz. Porém, a situação de Portugal exasperava Pedro de tal forma, que, por hora, decidira se preocupar em primeira instância com o trono de sua filha, do que com o segundo casamento. Não obstante, a teimosia da marquesa de Santos em se mudar para São Paulo o exasperava. Desse ponto em diante, o relacionamento entre ambos fora se esfriando. O “Demonão” das antigas correspondências fora dando lugar a assinaturas como “teu amigo” e “O Imperador”. Só depois de muito protelar, aquela que fora a mulher mais influente da corte decidira acatar a decisão do ex-amante, partindo do Rio de Janeiro estando grávida da futura condessa de Iguaçu¹.

Foi quando a situação estava já em estado vergonhoso para D. Pedro I, que o visconde de Pedra Branca encontrou na casa dos Beuharnais uma candidata que atenderia aos desejos do soberano. Amélia de Leutchtenberg era uma linda moça de 17 anos, alta para sua época, pele rosada, olhos azuis e cabelos escuros. Satisfeito com o resultado, o marquês de Barbacena enviara para o seu amo outra missiva, bem mais positiva que as anteriores:

“Aí tem, V.M.I., o retrato da linda princesa que, aconselhada por seu tio, o rei da Baviera, inimigo de Matternich e doador, como V.M., de constituições liberais, ousa passar os mares para se unir a um soberano que todos os ministros austríacos da Europa pintam como o assassino de sua mulher. O original é muito superior ao retrato”.

Por nascimento, Amélia de Leuchtenberg não chegava nem perto da primeira Imperatriz do Brasil: era filha de Eugênio de Leuchtenberg (enteado de Napoleão pelo casamento deste com Josefina), ex-vice-rei da Itália, e Augusta, uma princesa Bávara. Tal ligação poderia ser especialmente danosa para as pretensões austríacas, uma vez que os Beuharnais ganharam destaque com a ascensão de Napoleão Bonaparte, e declinaram com a derrocada do mesmo. Dessa forma, um casamento com um soberano de vastíssimo Império seria uma proposta tentadora para a família da jovem Amélia.

A reação de D. Pedro ao retrato da futura consorte foi muito satisfatória. Conta-se, inclusive, que teria se apaixonado por ela no mesmo instante. Seu entusiasmo pode ser medido pela carta que enviou ao marquês de Barbacena dando provas de sua imensa satisfação pelo negócio do casamento ter ido até o fim, e pedindo-lhe “com lágrimas nos olhos, que diga à imperatriz e até o que lho digo com lágrimas nos olhos: meu coração pertence à querida Amélia e, se eu não tivesse tido o prazer de ver essa negociação bem-sucedida, o túmulo seria meu repouso eterno; é o coração que fala e o tempo me ajudará a prova-lo”.

Não obstante, o fato de a jovem noiva ser neta da primeira mulher de Napoleão, exercia um fascínio a mais sobre D. Pedro, uma vez que era grande admirador deste general. Além disso, D. Amélia passara a ser instruída sobre a geografia do Brasil por ninguém menos que Friederich von Martius, naturalista que estivera no país e catalogara muitas das peculiaridades do território, como sua fauna, flora e costumes.

Em 30 de maio de 1829, Barbacena assinava em segredo o contrato de casamento entre seu amo e a princesa Amélia Augusta Eugênia Napoleona, negligenciando assim uma série de anúncios que eram exigidos pela etiqueta; e em dois de agosto o casamento por procuração era celebrado em Munique. Era já, então, a Imperatriz do Brasil. 22 dias depois, embarcava para o reino de seu consorte, passando antes em Plymouth (Inglaterra), para pegar D. Maria da Glória, que na ocasião estava pela Europa. A noiva, porém, só aportaria no Rio de Janeiro em 16 de outubro. Conta-se que, ao vê-la pela primeira vez, o consorte real teria desmaiado no convés do navio. Estava profundamente enamorado daquela moça 14 anos mais nova que ele. Para comemorar sua chegada, criara para ela a “ordem da rosa”, cujo lema era “Amor e Felicidade”. Toda a corte carioca ficara encantada com sua nova soberana. O Marquês de Resende assim a descreveu:

“Um ar de corpo como o que o pintor Corregio deu nos seus quadros à rainha de Sabá e uma afabilidade que aí há de fazer derreter a todos fizeram com que eu exclamasse, na volta para casa: valham-me a cinco chagas de N. S. Jesus Cristo, já que pelos meus enormes pecados não sou o imperador do Brasil”.

As bodas oficiais do casamento tiveram lugar no dia seguinte à chegada da Imperatriz, sob uma forte chuva que em nada atrapalhou a emoção do monarca. Em seguida, deu-se lugar à tradicional cerimônia do beija-mão, e ao banquete do casamento. O matrimônio ficara imortalizado pelos olhos atentos de Jean-Baptiste Debret, em uma tela (a cima) na qual vemos a noiva toda de branco, recebendo do consorte a aliança e do bispo, a benção. Era o início de uma nova fase na vida de D. Pedro I, bem como na do Império do Brasil.

De imperatriz do Brasil a Duquesa viúva de Bragança

Apesar de ter saído de um continente considerado pelos seus habitantes como cultural e intelectualmente superior ao Brasil, a jovem Amélia de Leuchtenberg tinha plena consciência do papel que deveria desempenhar como futura soberana daquela nação localizada abaixo da linha do Equador.

Ela, assim como tantas outras princesas de diferentes casas dinásticas (inclusive como aconteceu com a Imperatriz D. Leopoldina), fora enviada para uma terra distante, para se casar com um homem que dantes só havia conhecido por pinturas que, como se sabe, realçavam as boas qualidades do retratado e escondiam os prováveis defeitos físicos.

Se por acaso nutria esperanças de um dia retornar à pátria, essas talvez pudessem ser bem desanimadoras. Entretanto, Amélia viria para mudar de uma vez por todas a vida de D. Pedro I e da corte brasileira. Desde que aportara na baia de Guanabara em 16 de outubro de 1829, fora recepcionada com muito carinho pelo povo brasileiro e pelo apaixonado marido, além de ser a personagem central das festas que se seguiram em louvor ao casamento real e à sua florescente beleza, mencionada por muitas testemunhas do período e sempre lembrada por seus posteriores biógrafos.

Ao se analisar os retratos da bela Amélia no tempo de mocidade, poderemos notar um conjunto de características que formam um quadro agradável aos olhos de quem observa: uma pele rosada, porte ereto, e um busto avantajado que sustentava o rosto em formato de coração, com lindos olhos azuis, lábios carmim e bochechas vermelhas, emoldurados por uma basta cabeleira de tons escuros. Era como se fosse uma dessas donzelas dos romances da Era Vitoriana, virginal e inalcançável em seu recato. Todavia, esse ideal de passividade seria uma coisa da qual a nova Imperatriz não poderia contar, uma vez que várias reformas precisavam ser feitas no paço real, não necessariamente de cunho arquitetônico, mas sim nos costumes de seus habitantes. Muitos foram os cronistas que reclamaram da falta de organização na corte do Rio de Janeiro e sem dúvida esse foi um fator que desagradou àquela jovem acostumada ao luxo e ao requinte do reino da Baviera. Não obstante, deveria ocupar no coração dos filhos do imperador o lugar que estava vago desde a morte de D. Leopoldina: o de mãe.

Sendo assim, seria árdua a tarefa daquela jovem, que, apesar das dificuldades, guiou com maestria todos os seus deveres. Não só conseguiu instaurar um protocolo na corte, como também soube cultivar o amor de seus enteados, que carinhosamente passaram a chamá-la de “querida mamãe”. Foi com horror que havia constatado que qualquer indivíduo poderia ter acesso ao paço da Quinta e à figura do Imperador. Destarte, ordenou que para falar à D. Pedro I, antes se deveria marcar antecipadamente uma audiência. Nas palavras de Mary Del Priore,

“… Feminina, belíssima e moça, Amélia não só inspirou a Ordem da Rosa, condecoração criada pelo marido em sua homenagem, com a legenda “Amor e Fidelidade”, como consolidou nos trópicos um savoir-vivre característico das cortes europeias – algo que Leopoldina se esquecera de trazer na bagagem, com os livros de botânica e mineralogia”.

Se empenhara, pois, em disciplinar o funcionamento do palácio, impondo horários a serem cumpridos com rigor por seus servos e habitantes, introduzindo também o refinamento dos serviços e da indumentária, além de impor o francês como língua oficial da corte.

Aos filhos de D. Pedro, tratara de administrar o ensino que lhes era dado para garantir que esse fosse o melhor possível, adequado aos moldes de outras crianças reais da Europa. Sempre que podia, tentava agradá-los, e fazer de tudo para lhes ser uma boa mãe. O Imperador, pelo que se sabe, em tudo consentia no comportamento de sua esposa, que para ele era “minha salvadora” e a do Brasil.

Todavia, diferentemente do lema da Ordem da Rosa, Pedro não se manteve totalmente fiel à sua adorada Amélia, embora seus casos extraconjugais houvessem diminuído consideravelmente se comparados com os tempos em que era casado com D. Leopoldina. Em fato, é possível dizer que a nova Imperatriz tinha mais fibra do que sua antecessora para controlar o gênio explosivo do marido, sempre que podia. Mas a popularidade que o novo casamento real traria para o soberano duraria pouco, pois no coração de seus súditos pairavam dúvidas acerca de suas verdadeiras intenções para com o Império. E essa, por sua vez, era uma questão que estava muito longe de ser solucionada por aquela belíssima princesa bávara.

Por concordar em pagar uma indenização ao reino de Portugal em troca do reconhecimento da independência do Brasil, as pessoas achavam que D. Pedro I estaria dividido entre sua pátria de nascimento e a sua de adoção. Não obstante, a culpa pela morte da primeira Imperatriz ainda lhe recaia sobre os ombros. Desse modo, o soberano acreditava que uma viagem deveria ser feita pelas outras províncias, juntamente com a nova consorte, para que sua reputação fosse devidamente restaurada, e então partira para Minas, na esperança de lá ser tão bem recepcionado quanto o fora em 1822.

Infeliz engano! Encontrou entre a população um clima tão hostil, que lá só permaneceu por dois dias. Ao retornar para o Rio em 11 de março, sua chegada fora saudada por uma querela entre portugueses, que desejavam uma monarquia sem parlamento, e os brasileiros, num episódio que ficou conhecido como “A Noite das Garrafadas”. Não obstante, a deposição do rei Carlos X da França (primo de Pedro pelo lado Bourbon), naquele ano de 1830, e a substituição do mesmo pelo burguês Felipe de Orleans, fizeram com que aqui no Brasil aumentasse a animosidade para com o regime. Estava claro, então, que não só a vida do Imperador e de sua família corria risco, como também a da instituição monárquica.

Diante de tais demonstrações de ódio, não restara a D. Pedro outra opção que não abdicar em favor de seu filho de cinco anos; e a bela Amélia, que talvez esperasse passar todos os seus dias seguintes neste solo, se viu mais uma vez a caminho da Europa, juntamente como a enteada D. Maria da Glória e o esposo, que retornava à Portugal para reconquistar o trono de sua filha das mãos do irmão. Ao futuro Pedro II, a ci-devant Imperatriz dirigia as seguintes palavras:

“Meu filho do coração e meu Imperador. Adeus, menino querido, delícia da minha alma, alegria de meus olhos, filho que meu coração tinha adotado! Adeus para sempre! [...] Ah, querido menino, seu eu fosse tua verdadeira mãe, se meu ventre te tivesse concebido, nenhum poder valeria para me separar de ti, nenhuma força te arrancaria dos meus braços! [...] Mas tu, anjo de inocência, e de formosura, não me pertences senão pelo amor que dediquei a teu augusto pai. Adeus pois, para sempre!”.

Um fato curioso desta missiva consiste na forma como a escritora a assina: “Amélia, Duquesa de Bragança”. Esse título fora conferido a Pedro após sua abdicação do trono brasileiro e do português.

Tendo permanecido pouco mais de um ano no Brasil, agora ela já não mais seria Imperatriz reinante daquelas terras, nem tampouco rainha de Portugal, mas sim duquesa de Bragança, título esse que a colocava abaixo apenas de D. Maria II da Glória. A partida fora marcada para a madrugada do dia sete de Abril de 1831, no silêncio da noite, para não despertar a curiosidade da população. D. Pedro deixava para trás com um beijo de despedida seus quatro filhos (Januária, Paula, Francisca e Pedro), e rumava com a primogênita e a mulher para a fragata Warspites que os conduziria à Paris. Uma vez lá, participou de muitos eventos e reuniu-se com generais para planejar a derrocada de D. Miguel.

Não obstante, pode se rejubilar com a notícia de que sua esposa estava finalmente grávida, permanecendo ao lado dela até o nascimento da filha, em primeiro de dezembro daquele ano, batizada de Maria Amélia. Após o ocorrido, o duque de Bragança dirigiu-se para seu país de origem, enquanto a bela duquesa permanecia na capital francesa, cuidando da filha e da enteada, e tratando de conseguir apoio para a causa do marido junto às tropas que um dia serviram ao seu pai Eugênio, assim como de outras casas monárquicas.

Foram batalhas sangrentas as que se seguiram entre Pedro e Miguel, porém o duque de Bragança sairia vitorioso da querela, reencontrando em 1833 suas filhas e consorte. O que ele não sabia, contudo, é que sua longa carreira de intensas atividades físicas e militares acabariam por cobrar o seu preço. Tendo duas costelas fraturadas, e com o coração e o fígado hipertrofiados, D. Pedro faleceu na tarde de 24 de setembro de 1834 no palácio de Queluz (o mesmo em que nascera), nos braços de sua esposa. Com tão só 22 anos, a bela Amélia já era viúva e o único consolo que lhe restara era a educação da herdeira, a quem ela se dedicou de corpo e alma. Conta-nos sua biógrafa, Claudia Thomé Witte, que,

“A educação de Maria Amélia era a preocupação fundamental da ex-imperatriz, que não media esforços para que a filha tivesse acesso aos melhores professores portugueses e bávaros. A princesa correspondia às expectativas da mãe e desde cedo se tornou exímia pianista, fluente em português, francês e alemão, chegando a estudar física e se formar no gabinete da Universidade de Munique, aos 19 anos”.

Juntas, mãe e filha ainda empreenderiam inúmeras viagens pelo continente europeu, afim de que a educação da princesa fosse a mais esmerada possível. Mas, infelizmente, a vida aplicaria outro duro golpe na vida da viúva duquesa de Bragança: em fevereiro de 1853, com apenas 21 anos, falecia Maria Amélia, na ilha da Madeira, após ter contraído tuberculose.

A partir de então, os dias seriam nada felizes para aquela mulher de 40 anos. Guardara um luto fechado tanto pelo marido quanto pela filha, dedicando-se a obras de caridade como a criação de um hospital para tuberculosos carentes, na ilha da madeira (instituição ainda existente). Todavia, mesmo na velhice e na solidão, é possível dizer que aquela outrora linda jovem Imperatriz ainda conservava a graça e a postura de seus primeiros tempos, como se pode observar nas fotografias tiradas da mesma durante esse período.

O corpo embalsamado da duquesa de Bragança, estudado em 2012 pela arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel, nos mostra que ela padecia de muitas dores, quando de sua morte em janeiro de 1873, aos 70 anos de idade: sofria de escoliose, dores de cabeça e no peito. Fora sepultada originalmente no panteão de São Vicente, junto de seu consorte e da princesa Maria Amélia, até ser trazida em 1982 para a cripta Imperial, localizada no interior do Monumento ao Centenário na Independência, no bairro Ipiranga (SP). Com efeito, se faz necessário um resgate da memória de nossa segunda Imperatriz, com o intuído de que ela não fique apenas conhecida como a esposa mumificada de D. Pedro I, mas sim como a grande dama que foi; mulher de fibra e maravilhosa desenvoltura, que viveu em um período conturbado e contribuiu de forma significativa tanto para a História do Brasil, quanto para a de Portugal.

 Renato Drummond 

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