O brasileiro acredita que será a pessoa mais feliz do mundo, daqui a cinco anos: de 0 a 10, vai ser 8,78, maior nota atribuída por pessoas de 132 países considerados numa pesquisa mundial, citada pela FGV em seu mais recente trabalho sobre a classe média, divulgado nesta segunda, 21 de setembro.
Na verdade, empataram com o brasileiro os habitantes da Dinamarca, da Irlanda e da Jamaica, o país de Usain Bolt, lembra o titular do estudo, Marcelo Cortes Neri. O brasileiro vai estar melhor que seu país, segundo a mesma pesquisa: daqui a cinco anos, a nota do Brasil vai ser 6,7 e, aí, perdemos da Irlanda (8,14).
A pergunta de Neri: como pode um país ser o melhor para cada indivíduo e não ser bom para todos os seus habitantes? Essa dissonância é explicada por Neri à moda de La Fontaine: "somos mais cigarras que formigas; sempre esperamos um futuro melhor. Mas, ao contrário das formigas, não somos os melhores seres para viver em coletividade. As altas e históricas taxas tupiniquins de inflação, desigualdade e criminalidade refletem essa característica", explica o economista, que dá "uma boa notícia: estamos melhorado.
Mas, tal como na fábula, não nos preparamos para o futuro". A renda do trabalho explica apenas 67% da queda da desigualdade nos últimos sete anos, o Bolsa Família garante 17%, a renda de previdência, 15% e as transferências privadas, 1%.Estamos melhorando, pelo sim pelo não.
Com dados da mais nova Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad, do IBGE veja em www.ibge.gov.br), a FGV e Neri calculam ter o consumidor brasileiro crescido, em número, em quase 20% entre 2003 e 2008 e, com isso, cerca de 32 milhões de brasileiros passaram a fazer parte do mercado consumidor nacional. Está aí a boa notícia: no ano passado, com crise e tudo, a classe C perdeu 1,5 milhão de pessoas, que subiram para as classes AB.
A classe C ganhou nada menos de 5,3 milhões de pessoas, das quais 900 mil resgatadas da classe D, a pobre, e 3,8 milhões da classe E, a miserável. Outra notícia, senão boa, pelo menos, menos ruim: agora quase metade da população brasileira (49,2% ou 97,1 milhões de brasileiros) é da classe média, a C (renda de R$ 1,1 mil a R$ 4,8 mil/mês).
A classe alta (AB, renda acima de R$ 4,8 mil) soma 10,4% do total ou 9,4 milhões de pessoas. A pobreza caiu em 43,04%, ou o equivalente a 19,4 milhões de brasileiros resgatados. Na miséria, ainda estão 29,9 milhões de pessoas. A divisão de classes segundo a renda espanta muitas pessoas - para quem não se pode ser classe média com renda de R$ 1,1 mil mensais. Neri entra no assunto discutindo o que se chama hiato de renda, ou quanta renda falta para uma família viver ou sobreviver.
No estudo da FGV, calcula-se que, no ano passado, "o déficit médio expresso em termos monetários de cada brasileiro miserável seria de R$ 56,29 mensais." Façam as contas, senhores. Diz mais a FGV: calculando o custo da erradicação da miséria em 2008, seriam necessários R$ 9,01 em média por pessoa para aliviar totalmente a pobreza no Brasil. Ou seja, R$ 1,7 bi mensais. (21/09/2009)
por: Joelmir Beting
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