O gráfico da Folha mostrando os estados onde Dilma e Serra venceram destacaram a diferença de perfil entre os estados do sul e do norte.
Os estados do Norte, exceção feita à Roraima, Rondônia e Acre, votaram firmemente com Dilma. Já os do Sul mantiveram sua posição tradicional.
Veja o gráfico
Mais do que uma divisão Dilma-Serra, este retrato mostra a recepção ao projeto de Lula com seu foco assistencial. O Norte, mais carente, recebe bem este projeto enquanto o Sul, mais próspero, possui outras prioridades.
A primeira vista poderia pensar-se que existe um verdadeiro conflito de interesses e mesmo de valores entre o Norte e o Sul. Mas será o caso?
Que existe uma diferença de interesses, contextos e valores não há dúvida. Mas e o conflito? O conflito existe, mas não por causa das realidades de cada estado. Ele existe porque o modelo administrativo atual concentra todos os poderes de ação na capital do país, independente do governo que esteja ali.
Não existe nenhum conflito entre o social e o progresso econômico. Mas é evidente que alguns estados precisam mais de um do que do outro. Assim com o poder centralizado, com a política da medida igual para todos, quando partidos com focos sociais estão no poder, é natural que os estados mais desenvolvidos economicamente fiquem ressentidos e suas classes médias se sintam esmagadas.
Igualmente, quando partidos mais focados no mercado estão no poder, os estados com infra-estrutura e mercado desenvolvidos se sentem mais a vontade enquanto os que valorizam e precisam mais do social se sintam esquecidos.
Os Federalistas propõe uma solução diferente que preserva os interesses e valores de cada um e ao mesmo tempo encerra o conflito. Para que isso aconteça é necessário multiplicar as iniciativas de solução de cada problema, de modo que onde a necessidade seja o foco no social, se possa investir nisto sem problemas, onde o foco for no mercado se possa desenvolver este aspecto sem prejudicar o social.
E como obtemos essa multiplicação?
Através de uma verdadeira redistribuição de poder no Brasil. Há apenas um centro de poder real no Brasil, para atender a todos: Brasília. Vamos multiplicar os centros de poder para cada estado brasileiro.
Os estados com grandes necessidades sociais terá plenas condições e autonomia para implementar políticas sociais convergentes com sua realidade e seus valores. Os estados com infra-estrutura de mercado terão igualmente autonomia para desenvolver seus serviços, indústrias e agro-negócio.
No Brasil, tanto a direita quanto a esquerda, com razão, temem que se o “inimigo” tomar o poder em Brasília, poderá de alguma forma tomar medidas autoritárias. O perigo é real, mas não é intrínseco de um lado ou de outro.
Tanto a direita quanto a esquerda possuem em seu currículo ditaduras terríveis e sucessos administrativos. O perigo real está no modelo de poder concentrado nas mãos de poucos no Brasil, o que se materializa na existência de apenas um centro de poder que é Brasília.
Multiplicando os centros de poder pelas capitais dos estados, pelos municípios e mesmo pelos cidadãos – pois democracia é o poder na mão de cada cidadão – iremos avançar com a democracia no Brasil, criando uma estrutura de redes de poder que é impermeável a ser tomada por qualquer autoritário que seja, de direita ou de esquerda, pois não possui um centro único a partir de onde dominar todo o país.
O Brasil “vermelho” e o Brasil “azul” são diferentes sim, graças a Deus. É totalmente verdade que possuem necessidades diferentes e que cada grupo que esteve no poder esqueceu ou esmagou os cidadãos do outro grupo.
O problema está no fato de que só há um centro de poder para que cada grupo ocupe de cada vez, obrigando-o a estrangular o outro, fazendo dos que poderiam ser aliados, inimigos. A solução está em simplesmente permitir que “azuis” e “vermelhos” possam ser protagonistas e agentes de sua própria história. Não precisamos ter um governo azul e depois outro vermelho e precisar esperar a alternância para que cada região viva sob o estilo de governo que melhor converge com suas aspirações.
Azul e vermelho pode governar simultaneamente se houver mais de um centro de poder. Isso só pode ser feito se lhes forem restaurados os direitos de auto-governo naturais concedidos por Deus. Não precisamos avermelhar os azuis, nem azular os vermelhos, mas aceitar todas as cores de cada estado, de cada município e de cada cidadão do Brasil. Cidadania se faz em cada cidade, e sem autonomia não há cidadania.
por: Fábio Lins
Analista de negócios, programador de mainframe e midrange, professor de inglês, Diretor de Relações Externas do Instituto Federalista
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