"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

sábado, 26 de novembro de 2011

Politicagens


O secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, utilizando-se, sem dar o devido crédito, de uma definição do deputado Miro Teixeira, do PDT do Rio, avisou publicamente que estamos em um regime presidencialista, e, portanto, quem nomeia e demite ministros é a presidente Dilma Rousseff.
Com isso, ele quis avisar aos partidos políticos que fazem parte da base aliada que, na reforma ministerial que vem por aí, não há lugar reservado para qualquer um deles, podendo a presidente decidir até mesmo encurtar o tamanho de seu Ministério, que, como já avisou publicamente o empresário Jorge Gerdau, é inadministrável com 40 cargos de nível de primeiro escalão.
Não quer dizer que a presidente terá condições políticas de enxugar seu Ministério, mas há uma tentativa nesse sentido em curso.
Mas o que Carvalho visava mesmo era avisar ao PDT que não adianta querer se adiantar à presidente e substituir o ministro atual, Carlos Lupi, por alguém da legenda a fim de escapar da reforma ministerial, garantindo o Ministério do Trabalho para o partido, com outro nome.
Tudo indica que essa capitania hereditária que o PDT herdou desde o segundo governo Lula não continuará sob o domínio dos pedetistas, assim como o PP pode perder o Ministério das Cidades depois de mais um escândalo envolvendo o ministro Mário Negromonte.
A presidente Dilma mudou de tática no tratamento que dá ao combate à corrupção, deixando os dois ministros da nova safra de condenados pela opinião pública a apodrecer em plena praça, sem remover o entulho político para longe.
Parece ser um passo a mais no processo de desmoralização dos partidos políticos, que vem dando à presidente um prestígio popular alto.
Pesquisas indicam que a população se convenceu de que qualquer presidente, de qualquer corrente ideológica, só consegue governar se atender às demandas dos congressistas.
A saída que a presidente Dilma teria encontrado seria expor as entranhas da classe política, e por isso é bem avaliada pela população.
Nessa mudança de maneira de agir – anteriormente ela demitira nada menos que cinco ministros envolvidos em corrupção, mas deixou que os partidos permanecessem em seus feudos, indicando um substituto -, há um risco, diante da constatação de que a maneira anterior estava sendo bem recebida pela população.
A limpeza ética torna Dilma uma presidente popular, sobretudo na classe média, cerca de cem milhões de pessoas que representam mais de 50% da população e o maior poder de compra, mais que A e B juntas, e que, em geral, dão importância a questões como valores morais.
Ao mesmo tempo, a oposição também tem pesquisas que indicam que toda essa discussão de controle da corrupção acabará por atingir a própria presidente, à medida que ficar claro para a população que ela é a verdadeira responsável por ter políticos corruptos em seu Ministério.
A corrupção teria chegado mais perto do PT, que perdeu a fama de ser um partido puro e estaria fragilizado nessa área.
A boa vontade com a presidente pode desaparecer com o tempo se a oposição conseguir marcar junto ao eleitorado que Dilma é seletiva nessa limpeza, por interesse partidário.
Ao mesmo tempo, o PSDB pretende manter uma posição moderada, fiscalizadora, sem radicalismos, que é a mais bem sintonizada com a expectativa da opinião pública.
O estudo demonstra que há grande relação entre as eleições intermediárias para prefeitos e vereadores e as das bancadas de deputados estaduais e federais subsequentes, o que dá às eleições municipais do próximo ano uma importância vital para a tentativa de soerguimento oposicionista, especialmente em relação ao DEM, que vive um período de baixa e vai ter como adversário direto o novo PSD, nascido basicamente de suas entranhas e que quer dominar o mesmo nicho eleitoral que um dia já foi do PFL e do próprio DEM.
Há uma grande expectativa, por isso, quanto às medidas que o governo venha a tomar para enfrentar a crise econômica internacional, que só faz piorar, principalmente na Europa.
Os efeitos da crise na economia brasileira, se semelhantes aos de 2008, podem trazer problemas para o governo justamente num ano eleitoral.
A queda da desigualdade sofreu um retrocesso em decorrência da crise, ficando praticamente estagnada em 2009, e os mais pobres foram atingidos mais diretamente.
Esse mesmo fenômeno pode voltar a acontecer se a crise deste ano vier com a mesma intensidade da anterior, possibilidade que já aparece nos cenários mais realistas dentro do governo.
O governo vinha sendo beneficiado nos últimos anos pelo crescimento econômico, o que permitiu ao ex-presidente Lula montar um esquema político amplamente majoritário em torno de sua candidata, a hoje presidente Dilma.
A crise econômica internacional só eclodiu em setembro de 2008, de modo que as eleições municipais daquele ano não foram afetadas por suas consequências.
Embora o ano de 2009 tenha sido de estagnação econômica, houve tempo para uma forte recuperação no ano passado, com um crescimento de 7,5% do Produto Interno Bruto.
Desta vez, porém, o timing da crise parece ser contrário ao governo, que está tendo que enfrentar este ano os efeitos da gastança governamental do ano da eleição presidencial, ao mesmo tempo em que começa a ser afetado também pela crise internacional.
O ano que vem promete ser menos propício a gastos, o que sempre é ruim em anos eleitorais e provoca em alianças políticas que vivem na base da fisiologia ambiente de instabilidade propício a traições.
Merval Pereira

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