"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

domingo, 1 de janeiro de 2012

Mentiras, Golpes e República

Quem vê a estátua eqüestre do Marechal Deodoro nas imediações do final da Avenida Rio Branco, na cidade do Rio de Janeiro, certamente terá uma impressão de grandeza naquela imponente figura, no entanto se analisarmos o que de fato aconteceu as vésperas do 15 de novembro de 1889, veremos que o ato que a estátua tenta retratar foi movido por expedientes sem a mínima grandeza, ou melhor, com total baixeza.

A movimentação dos republicanos ao confabularem com os militares se deu pelo "renascimento" da questão militar, fomentado por jornais republicanos, que se aproveitaram de um ato do Visconde de Ouro Preto, que Presidente do Conselho e também Ministro da Fazenda, ao chegar ao ministério de sua pasta se depara com um oficial subalterno em desalinho e fora do seu posto na guarda do ministério. 

Essa propaganda nas folhas republicanas deu uma dimensão aumentada artificialmente, gerando uma animosidade dos quartéis para com o Presidente do Conselho de Ministros. Ardilosamente os republicanos fomentam entre os líderes militares um mal querer para com o poder civil. Toda a ação dos republicanos ajudados pelo coronel Benjamin Constant Botelho de Magalhães, se volta para indispor o Mal. Deodoro da Fonseca, líder da categoria, com o chefe do ministério. Mas Deodoro hesitava, curiosamente em outubro de 1888 em carta ao seu sobrinho, futuro gal. 

Clodoaldo da Fonseca lhe diz “não te metas em questões republicanas, porquanto a república no Brasil e desgraça completa são a mesma coisa", hoje sabemos que isso era uma premonição. Aí começam as mentiras criadas pelo major Frederico Sólon Sampaio Ribeiro, cria o referido oficial o boato que o ministério mandou prender o Mal. Deodoro e mandar unidades sediadas na Corte para o interior. 

Diante dessa notícia que tomou corpo, o marechal que estava mal de saúde, se dispõe a derrubar o ministério, e com a dissimulação do Mal. Floriano Peixoto (ajudante general do exército) que simula até o último momento apoio ao ministério, para em seguida aderir ao movimento. 

Preso o Presidente do Conselho, o Imperador desce de Petrópolis para tomar pé da situação, mas frente às circunstâncias o Ministério apresenta ao soberano a sua demissão, SM chama o Senador Conselheiro Saraiva a formar novo Ministério. Os republicanos frente à indecisão de Deodoro, e sentindo que tinha de ser naquela hora ou não seria, inventam outra mentira, e informam ao mesmo que o Imperador chamou para formar no Ministério o Conselheiro Silveira Martins, quem teve essa brilhante idéia foi novamente o major Sólon, pois Silveira Martins, expoente do partido liberal, era um desafeto de Deodoro desde quando perdera para ele, a disputa por uma formosa beldade, lá no Rio Grande do Sul, quando era governador de armas da província.

Foi a gota d`agua, e com a sinalização de que seria chefe de Estado do novo regime, o marechal concorda se tornar um traidor e fazer a república, logo ele que de político não tinha nada, e no governo provisório chegaria a desafiar Benjamin Constant para um duelo, como desfecho de uma discussão. Como um cão, Deodoro morde a mão que o alimentara, pois devia não poucos favores ao Chefe do Estado que estava derrubando.

Mas naquele dia maldito, Sólon leva ao Chefe de Estado de direito, uma carta do movimento, protagonizando cena constrangedora, ao chamar o Imperador de Senhor Pedro de Alcântara, frente à indiferença do mesmo se emenda e chama-o de Alteza, D. Pedro ainda indiferente, Sólon nervoso se emenda uma vez mais e chama-o de Majestade chorando (lágrimas de crocodilo), pois sabia que da atitude dele dependia o sucesso daquela quartelada. 

O desfecho todos nós conhecemos, o Imperador cede às circunstâncias e forçado, parte para o exílio com sua família, não sem antes recusar a fortuna de cinco mil contos de réis que o governo golpista lhe oferece.

À custa de mentiras, sem grandeza a república é imposta aos brasileiros, em pouco tempo (1891), o generalíssimo Deodoro será forçado a renunciar a presidência, por tentar fechar o Congresso, poder que a nova constituição não lhe dava, frente à oposição da Marinha. E em 1892, morreria e fez questão de ser enterrado em trajes civis e sem qualquer honra militar. No dia de sua morte seu irmão gal. 

João Severiano da Fonseca, envia carta ao ajudante general do exército, onde frisa "Sr. general: fui encarregado pela viúva do Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, falecido hoje, de comunicar-vos que foram suas últimas vontades, terminantemente expressas, que não queria nenhuma demonstração militar oficial, por ocasião do seu enterramento. O que tenho a honra de levar ao vosso conhecimento". 

Maior prova de arrependimento e vergonha, daquele que encarnava a virtude do exército não poderia existir. A república foi "proclamada" sem grandeza, à custa de mentiras, e seu "proclamador" quis ser enterrado sem a farda que caracterizava a instituição que dizia liderar. E hoje temos o paradoxo, do Brasil se pretender democrático e sério, e fazer um feriado nacional em dia de golpe de estado. 

Creio que nos países desenvolvidos, de verdade, não existe coisa semelhante. O que se comemora no dia 15 de novembro, é o dia da Alta Traição, talvez seja por isso, que seja um feriado ao qual o povo brasileiro não dá a mínima importância, inconscientemente, nós sabemos que não há o que comemorar, na verdade quem tem um pingo de dignidade e honra, sabe que temos que nos envergonhar dessa data, pois a história do Brasil republicano, fala por si própria e a realidade republicana que vivemos é a prova viva da tragédia começada naquela infeliz data. 

A maior prova de que os protagonistas daquele movimento sabiam que estavam traindo aquele que juraram defender, é a atitude do Mal. Floriano, nos movimentos de consolidação do regime, agindo com arbítrio e violência, numa seqüência de prisões e assassinatos de opositores, pois sabia o marechal, que restaurada a Monarquia, seu destino seria a forca, que está destinada aos traidores, então de ferro o marechal não tinha nada, pensava somente em garantir a integridade do seu pescoço.

O major Sólon, morreu em 1900, nove anos antes da tragédia que se abateria sobre a sua família, quando o amante da sua filha Ana de Assis, mata em legítima defesa, o seu genro Euclides da Cunha e mais adiante nas mesmas circunstâncias seu neto que queria vingar o pai. Logo o pobre Euclides, que em 1886 na escola militar joga a sua espada no caminho do Ministro do Exército, conselheiro Thomáz Coelho e grita "viva a república", como punição foi transferido para a escola politécnica. No panteão republicano, cremos que o major Frederico Sólon, deva ser cognominado o Mentiroso da república, para lhe fazer justiça.

No advento da república o único sincero foi Aristides Lobo, ao declarar que o povo assistira a tudo "bestializado", como está ainda hoje, diante dos níveis de corrupção que a república chegou, na atualidade da realidade republicana que vivemos.

por: Luís Severiano Soares Rodrigues
Economista, pós-graduado em história, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Niterói e Artista Plástico

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