"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Precisamos disseminar ideias, não eleger políticos


O objetivo central dos liberais é continuar a luta para mudar o atual Zeitgeist brasileiro.


Em época de eleição, muitos perguntam por que não temos no Brasil um partido verdadeiramente liberal, fazendo órfãos alguns milhares de eleitores que certamente ficariam felizes de votar em candidatos cujas propostas espelhassem sua maneira de ver e pensar o mundo. Embora a ausência de tal partido no jogo político nacional seja algo deveras desanimador, não creio que essa seja a prioridade dos liberais, pelo menos no momento.
Os alemães utilizam o termo “Zeitgeist” para descrever o clima cultural, intelectual, ético ou político de um lugar, numa determinada época. Numa tradução livre, seria a mentalidade, o “espírito de uma época”. Pois bem, nada poderia refletir melhor o Zeitgeist brasileiro atual do que a recente vitória eleitoral de Dilma Roussef. 


Salta aos olhos, por exemplo, o completo relativismo moral instalado há tempos por estas plagas, fazendo com que a maior parte da sociedade pouco ou nada se incomode com a roubalheira e a falta de escrúpulos que grassam no interior dos gabinetes governamentais. Além disso, a maioria das pessoas tem uma imagem para lá de depreciativa, verdadeira ojeriza mesmo, do capitalismo em geral e do liberalismo em particular.
Tanto o relativismo moral quanto o sentimento anticapitalista impregnado na mente do cidadão comum não ocorrem por mero acaso ou geração espontânea. Ao contrário, são o resultado visível de anos e anos de doutrinação esquerdista, fincada principalmente na luta de classes e no insidioso sofisma de que o progresso e o desenvolvimento obtidos no livre mercado revertem em benefício exclusivo dos abomináveis capitalistas, enquanto os “excluídos” afundam cada vez mais na penúria e na miséria.
Por mais estranho que possa parecer a alguns, entretanto, a coisa já esteve bem pior. Embora a mentalidade socialista e estatizante ainda seja dominante, já começam a surgir, aqui e ali, algumas vozes contra o consenso esquerdista. A própria imprensa, antes tão estatista e antiliberal, hoje parece muito mais consciente de que o caminho é mesmo a livre iniciativa, e não o governismo. 


A linha editorial dos grandes jornais durante a campanha eleitoral é um exemplo claro disso. Também já não é tão fácil para o governo aumentar impostos, criar leis trabalhistas esdrúxulas ou gastar o dinheiro dos pagadores de impostos sem critério. Mesmo as privatizações, outrora tão criticadas, são hoje vistas com outros olhos por boa parte da mídia.
Acredito que o objetivo central dos liberais é continuar a luta para mudar o atual Zeitgeist brasileiro. E isso requer um trabalho árduo, paciente e ininterrupto no campo das idéias e da educação. Precisamos, acima de tudo, gerar argumentos bem fundamentados, claros e inequívocos. O nosso “mercado eleitoral” só vai aparecer quando conseguirmos mudar realmente a mentalidade das pessoas, pois o discurso político dominante não raro reflete a opinião da maioria. 


Se hoje o discurso dominante é de esquerda, com propostas exclusivamente estatizantes, assistencialistas e igualitaristas, é porque tal pensamento encontra-se disseminado nos quatro cantos do país, fruto de um trabalho incansável dos intelectuais de esquerda durante os últimos quarenta anos.
Essa cultura, infelizmente, não se muda da noite para o dia. É preciso que trabalhemos incansavelmente para mudá-la. É necessário engajar o maior número possível de indivíduos nessa verdadeira guerra cultural. Até pode haver, aqui e ali, alguns poucos políticos dispostos a defender a ética, o império da lei, a meritocracia, a livre iniciativa e o estado mínimo. Mas isso não é suficiente. 


Uma andorinha apenas não faz verão, já dizia o velho brocado. Já tivemos no Congresso, no passado recente, um político liberal da estirpe de Roberto Campos. E o que ele conseguiu? Praticamente nada, pois não era mais que um Dom Quixote lutando contra moinhos de vento.
Antes de pensarmos em representação política, por conseguinte, precisamos tentar reverter esta cultura esquerdizante que tomou conta da sociedade brasileira. 


Como ensinou Hayek,
"a menos que nós possamos fazer dos fundamentos filosóficos de uma sociedade livre uma estimulante questão intelectual, bem como da sua implementação um desafio que provoque a imaginação de nossas mentes mais jovens, as perspectivas da liberdade serão realmente negras. Por outro lado, se nós pudermos recuperar a velha confiança na força das idéias, que foram o marco do liberalismo no seu esplendor, a batalha não estará perdida."
Infelizmente, a servidão não é uma aberração na história da humanidade, mas o resultado esperado do crescimento incontrolável de qualquer estado. Se a população permanece mal informada, a opressão não encontra barreiras. Por outro lado, quando se defende a intolerância ao poder arbitrário e a disseminação das idéias corretas, a liberdade tende a prevalecer.
Só conseguiremos deter este monstro chamado estado, verdadeira negação da liberdade, se encorajarmos cada vez mais pessoas a pensar claramente, fazendo-as entender o real significado da liberdade e de como ela funciona. Estamos falando aqui, repito, de uma questão cultural e não exatamente política.
Os ideais de liberdade requerem um compromisso intelectual. O importante é desenvolver argumentos objetivos que combinem os princípios doutrinários com exemplos do dia-a-dia. Não podemos deixar que os socialistas dominem sozinhos nas repartições públicas, nos sindicatos, nas universidades, na grande mídia, nas igrejas e demais instituições. 


Precisamos combatê-los através das ideias, aproveitando cada espaço colocado a nossa disposição para mostrar ao público que eles representam a servidão — ainda que encoberta sob a máscara de pungentes ideais, como “justiça social” e “igualitarismo” —, enquanto nós representamos a verdadeira liberdade.

Por João Luiz Mauad

Nenhum comentário:

Postar um comentário