"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Assim falou Joaquim Barbosa

O Ministro Joaquim Barbosa constatou o que pode parecer óbvio para muitos, mas é por outros tantos ignorado: a grande mídia brasileira carece de diversidade, e, com raríssimas exceções, segue uma linha ideológica de direita.

A ignorância aqui tem duas vertentes, a meu ver: há aqueles que realmente ignoram o fato acima mencionado por não se interessar por política, ou por não conseguir constatar esta realidade apesar das clamorosas evidências; há também aqueles escolhem a ignorância a seu bel prazer, talvez para justificar sua própria ideologia, e, porque não, a sua condição favorecida na sociedade – quem sabe com isso durmam mais tranquilos estes sábios ignorantes, e, a bem da verdade, o cinismo é um de seus aviltantes traços de personalidade. Pode-se dizer que neste último grupo se encaixa em grande parte alguns profissionais da imprensa, políticos e detentores do poder.

O fato é que, em minha modesta opinião, é inegável a pertinência do discurso de Joaquim Barbosa. Grande parte de nossa mídia, em especial os grandes veículos de comunicação em massa, são seguidores de uma linha de pensamento direitista, por demais estreita. O próprio Ministro Joaquim Barbosa já colheu os louros dos oligarcas da imprensa por se postar contra a cúpula do governo petista que se envolveu no escândalo do mensalão.

Durante e após o julgamento do mensalão, o ministro, que foi nomeado pelo presidente Lula, foi exaltado pelos grandes meios de comunicação como uma espécie de herói nacional pelo fato de ter se posicionado a favor da prisão dos envolvidos no caso. Do outro lado, fazendo o papel de vilão para boa parte da mídia nacional, estava o ministro Ricardo Lewandowski, o qual pugnava pelo respeito, durante o processo, a princípios constitucionais como o da ampla defesa e do in dubio pro reu.

Mas a mídia, astuta, jogou com o sentimento dominante na população brasileira de impunidade em relação aos corruptores. Deste modo, logrou o apoio de considerável parcela da população à postura agressiva e, por vezes, ameaçadora de Barbosa, o qual, em inúmeras ocasiões, se colocou no papel de representante do povo no Supremo Tribunal Federal, durante o referido julgamento.

De um lado o ministro Lewandowski pedia respeito aos princípios constitucionais: “São procedimentos relativamente demorados. E nós temos que garantir não apenas, segundo dispõe a Constituição Federal do Brasil, o mais amplo direito de defesa, que é um princípio universal. Portanto não devemos ter pressa nesse aspecto. Aliás não vejo por quê. Não há nenhum prescrição em vista. Então deixemos que o processo flua normalmente. É a minha perspectiva, o meu sentimento”. Este discurso contrasta com o que mais tarde diria, em plenário, durante o mesmo julgamento, o ministro Barbosa: “A nação não aguenta mais. Está na hora de acabar, está na hora. Como diriam os ingleses:Let´s move on [Vamos seguir em frente]“.

A pressa e sede de justiça de Joaquim Barbosa agradavam a considerável parcela do público. E, no final, a condenação dos envolvidos, ainda que algumas dúvidas pudessem pairar no ar.

Passado alguns meses, surgiram rusgas com os meios de comunicação devido à postura arrogante e autoritária do ministro Joaquim Barbosa, em algumas ocasiões. O relacionamento entre a grande mídia e o ministro Barbosa ainda me parece amigável, mas a paixão já não é a mesma, de ambos os lados.

Agora, em discurso proferido em São José da Costa Rica, durante a comemoração do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, o ministro surpreende. Comentando sobre o racismo ainda existente no Brasil, ele   relatou como, no seu entender, os negros são discriminados pelas emissoras de televisão: “Eles raramente são chamados para expressar suas posições e sua expertise, e de forma geral são tratados de forma estereotipada” O Poder Judiciário não ficou de fora de sua fala: “A justiça condena pobres e pretos, gente sem conexão. As pessoas são tratadas de forma diferente de acordo com seu status, cor de pele ou poder econômico”, concluiu Barbosa.

O ministro mencionou, ainda, que os grandes meios de comunicação não tem ou tem pouca diversidade de ideias, e que existem apenas três jornais de circulação nacional, “todos eles com tendência ao pensamento de direita”. A constatação do óbvio? Para mim sim, para outros seu discurso não condiz com a realidade.

De qualquer forma é de se ressaltar a importância do discurso, principalmente por ter vindo da boca de quem foi, a bem pouco tempo, glorificado por representantes da Casa-grande (do quilate da Revista Veja – a mestra da fanfarronice midiática nacional) como o mais digno membro de nossa Suprema Corte, oriundo das massas.

*Thiago Andrade 

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