"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Rumo à maturidade política. Será?

Nas vésperas de completar 25 anos, a Constituição de 1988 dá claros sinais de vitalidade política. 

Como se fosse obra de um milagre, a chamada “geração Y” saiu do mundo virtual e tomou conta do espaço público real, mostrando que a suposta alienação política da juventude era, na verdade, uma energia em estado de latência que apenas aguardava um estopim para romper a barreira do silêncio. Sim, a democracia brasileira está viva, quer e clama por mudanças que nos levem a uma vida melhor. E serão os jovens do Brasil a força originária que pautará as justas e legítimas reivindicações de um povo que cansou de ser tratado como tolo.

Ora, dar Bolsa Família é fácil; difícil, é governar bem. E o que é governar bem? É, simplesmente, aproximar a realidade ao mundo ideal da Constituição. Em outras palavras, o hiato da política é o espaço de realização democrática dos direitos individuais e sociais traçados na Lei Maior.

Nesse contexto, quanto maior a qualidade política, mais próxima a vida das pessoas está do nível constitucional; por outro lado, se a política for ruim e defectiva, ao invés de um hiato, passamos a ter um fundo fosso de ilegalidade. E, no vazio da lei, os demagogos fazem a festa. Sim, o “mensalão” foi uma grande orgia; um grande carnaval com o dinheiro do povo. O problema é que, depois da noitada, vem a ressaca que, no caso, está literalmente sacudindo o país.

Não vamos ser hipócritas: é lógico que o povo gostou de receber gratuitamente o dinheiro que a engenharia eleitoral do Planalto montou para criar uma ilusão de inclusão social via consumo. As pautas assistencialistas deram popularidade e massagearam o ego das celebridades políticas brasileiras. A questão é que o governo subestimou o povo; pensou que poderia comprá-lo com trocados e, ainda, iludi-lo com uma furiosa máquina de propaganda de um país maravilhoso que só existe no delírio dos que tratam o cidadão como um néscio. Sem cortinas, a arrogância do governo (“nunca antes na história deste país”, lembra?) fez o rei subir aos céus, deixando o rojão estourar no colo da rainha…

Obviamente, os excessos de indignação devem ser contidos, pois a vida civilizada impõe caminhos institucionais de aperfeiçoamento do sistema político. Aqui, não adianta querer viver a infantil ilusão de que a política melhorará da noite para o dia. E mais: a vida pública nacional somente chegou a este estado de degeneração porque nós – como cidadãos responsáveis pelo país – nos afastamos do protagonismo democrático, entregando o domínio das instituições brasileiras a políticos de meia pataca. Se nossos políticos são ruins, então, de duas, uma: ou escolhemos mal ou os bons cidadãos abdicaram da política.

Parte da culpa é nossa e não adianta querer negá-la.

No entanto, ao invés de culpados, devemos buscar construir alternativas possíveis. O fundamental é que, a partir deste momento histórico, cada um nós assuma a responsabilidade de participar mais ativamente da vida política brasileira. Democracia é muito mais que voto; é luta diária por moralidade pública e eficiência governamental. Ao mesmo tempo, temos que evitar soluções milagrosas que prometem muito, mas, no fim, entregam muito pouco.

Objetivamente, antes de uma nova constituinte, precisamos simplesmente cumprir, sem medo, a Constituição de 1988. Não podemos recair no insistente erro de pensar que mudando a lei, os hábitos também mudarão.

Não mudam, pois são as pessoas e não a lei, que fazem os hábitos. Na verdade, o Brasil gosta muito de mudar a lei, mas não gosta de cumprir as regras existentes. Será que dessa vez daremos um passo adiante rumo a maturidade política ou recairemos no vício circular de mudanças no papel que apenas levam o nada a lugar nenhum?

Sebastião Ventura Pereira Da Paixão Jr

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