Estou estarrecido e surpreso com as reações virulentas de uma minoria de pessoas diante do resultado da eleição presidencial. O que já li, vi e ouvi são manifestações deprimentes e ao mesmo tempo revoltantes. Sinceramente, não sabia que ainda existia no nosso País tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, gente que apregoa a segregação e a discriminação.
A OAB nacional, historicamente vocacionada para a defesa da liberdade e da igualdade, reagiu em defesa da democracia e da dignidade humana. A advocacia e a imensa maioria da sociedade brasileira não aceitam esses ataques inconsequentes e medievais contra os nordestinos.
A raiva e o ódio espumam pelos lábios da intolerância, transfiguram suas faces e biografias, verbalizam palavras de baixíssimo calão que humilham e atentam contra a dignidade e a autoestima dos nordestinos e dos pobres. São sandices semelhantes às dos senhores de engenho praticadas no século XIX, diante da inevitável libertação da escravatura.
Os impropérios injuriosos afrontam a fraternidade cristã.
Passei a refletir sobre o porquê de tanto ódio e de descabida intolerância.
Por que essa gente prepotente se acha no direito de desferir palavras toscas e praticar atos criminosos? Será mesmo que tudo isso é movido pela indignação à corrupção e à falta ou deficiências de políticas públicas estruturantes e transformadoras nos setores da saúde, educação e segurança públicas?
Para esses feudalistas, todos aqueles que não rezaram em suas cartilhas, ou melhor, não depositaram nas urnas os seus “santinhos” ou “chapinhas” são complacentes ou coniventes com a corrupção; são pessoas inferiores que merecem limpar o chão que pisa com as sandálias da empáfia e lavar a latrina que dejeta a sua arrogância.
Respeito a todos que votaram em Dilma ou em Aécio ou até mesmo protestaram anulando o voto ou se abstendo de votar. Mas não consigo ver e ouvir todo esse absurdo infamante e aceitar calado. Sou nordestino, sou cristão, sou advogado, fui eleito conselheiro federal da OAB pelo voto dos meus colegas advogados de Sergipe e sou ativo militante no combate à corrupção e às discrepâncias sociais. E conheço muita gente com igual conduta republicana que votou democraticamente na situação, na oposição ou anulou o voto.
Será que toda essa cruzada anticorrupção visa ao rompimento com esse sistema de poder que produz corruptos e corruptores, independente do governo de plantão? Essa mobilização visceral prega a revolução social no nosso País? Não! O que essa gente raivosa quer não é mudança, é exclusão. Pois sempre conviveram passivamente com a corrupção, a impunidade e a vergonhosa desigualdade social.
Esses intolerantes menosprezam e achincalham os homens e as mulheres que se beneficiam do bolsa-família. Combatem com hipocrisia e com voracidade. Hipocrisia porque votou e defendeu com a faca nos dentes candidatos que asseveravam manter e até ampliar o bolsa-família; voracidade porque não conhece a fome e nem se compadece com aqueles que passam privações.
Considero o bolsa-família um programa social importante para resgatar milhões de pessoas da agonia da fome e da escuridão da ignorância, mas que deva servir de transição para o estágio da dignidade da inclusão social, do pleno emprego e do irrestrito acesso à cultura.
Tenho certeza de que a nossa nação não está dividida pelo preconceito e pela intolerância. A grande maioria dos brasileiros, dos amigos meus, vários colegas advogados sergipanos e de todo o Brasil e até parentes que optaram votar em Aécio no segundo turno da eleição presidencial não concordam e, da mesma forma, estão indignados com esse comportamento degradante.
É fundamental a união de forças para combatermos esse aviltamento criminoso, denunciando à OAB e ao Ministério Público, para o fim de aplacar, com veemência, qualquer espécie de preconceito e discriminação. Assim estaremos ativamente contribuindo para a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. Uma nação verdadeiramente democrática e civilizada que conviva harmonicamente com as diferenças.
Henri Clay Andrade
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