"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Nossa nação não está dividida pelo preconceito e pela intolerância


Estou estarrecido e surpreso com as reações virulentas de uma minoria de pessoas diante do resultado da eleição presidencial. O que já li, vi e ouvi são manifestações deprimentes e ao mesmo tempo revoltantes.  Sinceramente, não sabia que ainda existia no nosso País tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, gente que apregoa a segregação e a discriminação.

A OAB nacional, historicamente vocacionada para a defesa da liberdade e da igualdade, reagiu em defesa da democracia e da dignidade humana. A advocacia e a imensa maioria da sociedade brasileira não aceitam esses ataques inconsequentes e medievais contra os nordestinos.

A raiva e o ódio espumam pelos lábios da intolerância, transfiguram suas faces e biografias, verbalizam palavras de baixíssimo calão que humilham e atentam contra a dignidade e a autoestima dos nordestinos e dos pobres. São sandices semelhantes às dos senhores de engenho praticadas no século XIX, diante da inevitável libertação da escravatura.

Os impropérios injuriosos afrontam a fraternidade cristã.

Passei a refletir sobre o porquê de tanto ódio e de descabida intolerância.

Por que essa gente prepotente se acha no direito de desferir palavras toscas e praticar atos criminosos? Será mesmo que tudo isso é movido pela indignação à corrupção e à falta ou deficiências de políticas públicas estruturantes e transformadoras nos setores da saúde, educação e segurança públicas?

Para esses feudalistas, todos aqueles que não rezaram em suas cartilhas, ou melhor, não depositaram nas urnas os seus “santinhos” ou “chapinhas” são complacentes ou coniventes com a corrupção; são pessoas inferiores que merecem limpar o chão que pisa com as sandálias da empáfia e lavar a latrina que dejeta a sua arrogância.

Respeito a todos que votaram em Dilma ou em Aécio ou até mesmo protestaram anulando o voto ou se abstendo de votar. Mas não consigo ver e ouvir todo esse absurdo infamante e aceitar calado. Sou nordestino, sou cristão, sou advogado, fui eleito conselheiro federal da OAB pelo voto dos meus colegas advogados de Sergipe e sou ativo militante no combate à corrupção e às discrepâncias sociais. E conheço muita gente com igual conduta republicana que votou democraticamente na situação, na oposição ou anulou o voto.

Será que toda essa cruzada anticorrupção visa ao rompimento com esse sistema de poder que produz corruptos e corruptores, independente do governo de plantão? Essa mobilização visceral prega a revolução social no nosso País? Não! O que essa gente raivosa quer não é mudança, é exclusão. Pois sempre conviveram passivamente com a corrupção, a impunidade e a vergonhosa desigualdade social.

Esses intolerantes menosprezam e achincalham os homens e as mulheres que se beneficiam do bolsa-família. Combatem com hipocrisia e com voracidade. Hipocrisia porque votou e defendeu com a faca nos dentes candidatos que asseveravam manter e até ampliar o bolsa-família; voracidade porque não conhece a fome e nem se compadece com aqueles que passam privações.

Considero o bolsa-família um programa social importante para resgatar milhões de pessoas da agonia da fome e da escuridão da ignorância, mas que deva servir de transição para o estágio da dignidade da inclusão social, do pleno emprego e do irrestrito acesso à cultura.  

Tenho certeza de que a nossa nação não está dividida pelo preconceito e pela intolerância. A grande maioria dos brasileiros, dos amigos meus, vários colegas advogados sergipanos e de todo o Brasil e até parentes que optaram votar em Aécio no segundo turno da eleição presidencial não concordam e, da mesma forma, estão indignados com esse comportamento degradante.

É fundamental a união de forças para combatermos esse aviltamento criminoso, denunciando à OAB e ao Ministério Público, para o fim de aplacar, com veemência, qualquer espécie de preconceito e discriminação. Assim estaremos ativamente contribuindo para a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. Uma nação verdadeiramente democrática e civilizada que conviva harmonicamente com as diferenças.

 Henri Clay Andrade

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