"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Futuro do Brasil


O Relatório da CIA passa ao largo dos intrincados problemas do presente, que são imensos e atravancam o pleno desenvolvimento, e não aprofunda a análise ou justifica com clareza a previsão de como o Brasil chegará ao nirvana em 2020.



Por Ipojuca Pontes 05 de março de 2007 MidiaSemMascara.org


Escrevi no artigo anterior que o futuro do Brasil era voltar ao passado. Para chegar a tal conclusão, me apoiei em dados substantivos de "Brasil, um país do futuro", lançado simultaneamente em nações da Europa e nos Estados Unidos, no ano de 1941, em que o autor do livro, o romancista e biógrafo austríaco Stefan Zweig, fugindo dos totalitarismos então reinantes nos via como uma gente fraterna, capaz de esboçar uma nova e pacífica civilização sobre a face da terra.


Segundo Zweig, o Brasil assegurava um porvir venturoso primordialmente pela tolerância racial, harmonia e o bom conviver entre as distintas classes sociais - muito diferente, óbvio, do Brasil da Era Lula, onde impera, a um só tempo, o estimulo ao conflito social, o predomínio ideológico "politicamente correto", a violência institucional e a deflagração da divisão e do estranhamento racial, cuja política de quotas, no plano da educação, pode ser visto como uma de suas distintas faces.


Por sua vez, em 2005, desprezando o presente e lançando um olhar otimista sobre o nosso futuro, o recém lançado (no Brasil) Relatório da Central Intelligence Agency dos Estados Unidos - para nós, simplesmente, a controvertida CIA -, fazendo uma previsão de como será o mundo em 2020, o Brasil figura entre os países que atingirão elevados índices de desenvolvimento econômico, sem exercer, no entanto, a influência política da Índia e da China. Na suas "especulações não-sigilosas", que projeta o futuro numa perspectiva geopolítica global, os analistas da central de inteligência americana profetizam que o Brasil será "um país-pivô com sua vibrante democracia, uma economia diversificada e uma população empreendedora", contando, ainda, com "um grande patrimônio e sólidas instituições econômicas".


E mais: para os agentes e observadores ("espiões do futuro") da CIA, avaliadas as nossas possibilidades dentro do contexto subcontinental, a partir do "sucesso ou o fracasso em equilibrar as medidas pró-crescimento com uma agenda social ambiciosa, que busca reduzir a pobreza e igualar a distribuição de renda, o Brasil terá um profundo impacto no desempenho econômico e político da região durante os próximos 14 anos".


No caso brasileiro, em particular, o Relatório da CIA passa ao largo dos intrincados problemas do presente, que são imensos e atravancam o pleno desenvolvimento, e não aprofunda a análise ou justifica com clareza a previsão de como chegaremos ao nirvana em 2020. Só para levantar alguns dos seus aspectos: os "espiões" não levam em conta de forma suficiente o nosso atraso científico e tecnológico, os efeitos maléficos do estatismo selvagem sobre as forças produtivas, os entraves para o real desenvolvimento da economia de mercado com a provável retração dos investimentos externos, a carência de uma infra-estrutura básica para o transporte das riquezas, a crise energética com os seus projetados "apagões", etc., etc. - para não falar na permanente crise do desemprego, na expansão da pobreza e até mesmo da miséria e, por efeito de conseqüência, no explosivo crescimento da violência e do descontentamento social.


Por outro lado, é subestimado pelo conveniente relatório da CIA o fato de que em 2020 o Brasil contará com uma população de cerca de 220 milhões de habitantes para comer, beber, habitar, trabalhar, estudar e se divertir; também não se toca na questão da previdência social em crise pelo aumento galopante do número de velhos aposentados, desproporcional ao número de pessoas economicamente ativas; não se aborda suficientemente o incontornável aumento da imigração; na ascensão irradiadora do castro-comunismo levado adiante pela ditadura energética de Hugo Chávez; não se aborda a inserção do Brasil na incerteza de um mundo externo conflagrado pela intensificação e ameaça do terrorismo global detentor de armas de destruição em massa; dos riscos irrecorríveis dos conflitos religiosos, ideológicos e ambientais - de perspectivas funestas para toda humanidade.


A principal falha dos analistas americanos consiste em desprezar os efeitos deletérios do estatismo selvagem promovido pelo PT e a propagação vertiginosa do crime organizado no Brasil. São problemas que afetam em definitivo o desenvolvimento nacional e que estão a merecer diagnósticos profundos e sistemáticos. Com efeito, nada pode ser mais daninho para a frágil democracia brasileira do que os métodos de predomínio do poder adotados pelo petismo e pelo governo: compra do voto parlamentar pelos esquemas do mensalão e das sanguessugas, ampla ocupação da máquina pública pelos militantes do PT e a busca sub-reptícia ou declarada do controle dos meios de comunicação para fins da imposição do pensamento único - são, todos eles, isoladamente ou em conjunto, sintomas de uma ameaça fatal.


Quanto ao crescimento e a estabilidade do crime organizado no País, ele é público e já se institucionalizou. Hoje, as grandes redes ilícitas, nacionais e internacionais, ocupam uma posição de vanguarda na vida econômica nacional, atuando não só no bilionário campo do narcotráfico, contrabando de armas leves e pesadas, lavagem de dinheiro, pirataria, prostituição e tráfico de órgãos e seres humanos, mas como agentes camuflados de muitas organizações não-governamentais filantrópicas, negócios considerados "lícitos", partidos políticos, parlamentares, empresas de comunicação, juízes, desembargadores e o próprio e mais importante aparelho de segurança do Estado: a Policia.


A expansão da corrupção política e o controle que o crime organizado exerce sobre os destinos da nação, decerto impossibilitam a materialização do cenário otimista traçado pela CIA, o que nos leva, ainda uma vez, ao refúgio de um Brasil visto e antevisto por Stefan Zweig que, curiosamente, suicidou-se (na companhia da mulher) em Petrópolis, Rio de Janeiro, no ano de 1942.


Voltaremos ao assunto.


O autor é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.

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