O Relatório da CIA passa ao largo dos intrincados problemas do presente, que são imensos e atravancam o pleno desenvolvimento, e não aprofunda a análise ou justifica com clareza a previsão de como o Brasil chegará ao nirvana em 2020.
Por Ipojuca Pontes 05 de março de 2007 MidiaSemMascara.org
Escrevi no artigo anterior que o futuro do Brasil era voltar ao passado. Para chegar a tal conclusão, me apoiei em dados substantivos de "Brasil, um país do futuro", lançado simultaneamente em nações da Europa e nos Estados Unidos, no ano de 1941, em que o autor do livro, o romancista e biógrafo austríaco Stefan Zweig, fugindo dos totalitarismos então reinantes nos via como uma gente fraterna, capaz de esboçar uma nova e pacífica civilização sobre a face da terra.
Segundo Zweig, o Brasil assegurava um porvir venturoso primordialmente pela tolerância racial, harmonia e o bom conviver entre as distintas classes sociais - muito diferente, óbvio, do Brasil da Era Lula, onde impera, a um só tempo, o estimulo ao conflito social, o predomínio ideológico "politicamente correto", a violência institucional e a deflagração da divisão e do estranhamento racial, cuja política de quotas, no plano da educação, pode ser visto como uma de suas distintas faces.
Por sua vez, em 2005, desprezando o presente e lançando um olhar otimista sobre o nosso futuro, o recém lançado (no Brasil) Relatório da Central Intelligence Agency dos Estados Unidos - para nós, simplesmente, a controvertida CIA -, fazendo uma previsão de como será o mundo em 2020, o Brasil figura entre os países que atingirão elevados índices de desenvolvimento econômico, sem exercer, no entanto, a influência política da Índia e da China. Na suas "especulações não-sigilosas", que projeta o futuro numa perspectiva geopolítica global, os analistas da central de inteligência americana profetizam que o Brasil será "um país-pivô com sua vibrante democracia, uma economia diversificada e uma população empreendedora", contando, ainda, com "um grande patrimônio e sólidas instituições econômicas".
E mais: para os agentes e observadores ("espiões do futuro") da CIA, avaliadas as nossas possibilidades dentro do contexto subcontinental, a partir do "sucesso ou o fracasso em equilibrar as medidas pró-crescimento com uma agenda social ambiciosa, que busca reduzir a pobreza e igualar a distribuição de renda, o Brasil terá um profundo impacto no desempenho econômico e político da região durante os próximos 14 anos".
No caso brasileiro, em particular, o Relatório da CIA passa ao largo dos intrincados problemas do presente, que são imensos e atravancam o pleno desenvolvimento, e não aprofunda a análise ou justifica com clareza a previsão de como chegaremos ao nirvana em 2020. Só para levantar alguns dos seus aspectos: os "espiões" não levam em conta de forma suficiente o nosso atraso científico e tecnológico, os efeitos maléficos do estatismo selvagem sobre as forças produtivas, os entraves para o real desenvolvimento da economia de mercado com a provável retração dos investimentos externos, a carência de uma infra-estrutura básica para o transporte das riquezas, a crise energética com os seus projetados "apagões", etc., etc. - para não falar na permanente crise do desemprego, na expansão da pobreza e até mesmo da miséria e, por efeito de conseqüência, no explosivo crescimento da violência e do descontentamento social.
Por outro lado, é subestimado pelo conveniente relatório da CIA o fato de que em 2020 o Brasil contará com uma população de cerca de 220 milhões de habitantes para comer, beber, habitar, trabalhar, estudar e se divertir; também não se toca na questão da previdência social em crise pelo aumento galopante do número de velhos aposentados, desproporcional ao número de pessoas economicamente ativas; não se aborda suficientemente o incontornável aumento da imigração; na ascensão irradiadora do castro-comunismo levado adiante pela ditadura energética de Hugo Chávez; não se aborda a inserção do Brasil na incerteza de um mundo externo conflagrado pela intensificação e ameaça do terrorismo global detentor de armas de destruição em massa; dos riscos irrecorríveis dos conflitos religiosos, ideológicos e ambientais - de perspectivas funestas para toda humanidade.
A principal falha dos analistas americanos consiste em desprezar os efeitos deletérios do estatismo selvagem promovido pelo PT e a propagação vertiginosa do crime organizado no Brasil. São problemas que afetam em definitivo o desenvolvimento nacional e que estão a merecer diagnósticos profundos e sistemáticos. Com efeito, nada pode ser mais daninho para a frágil democracia brasileira do que os métodos de predomínio do poder adotados pelo petismo e pelo governo: compra do voto parlamentar pelos esquemas do mensalão e das sanguessugas, ampla ocupação da máquina pública pelos militantes do PT e a busca sub-reptícia ou declarada do controle dos meios de comunicação para fins da imposição do pensamento único - são, todos eles, isoladamente ou em conjunto, sintomas de uma ameaça fatal.
Quanto ao crescimento e a estabilidade do crime organizado no País, ele é público e já se institucionalizou. Hoje, as grandes redes ilícitas, nacionais e internacionais, ocupam uma posição de vanguarda na vida econômica nacional, atuando não só no bilionário campo do narcotráfico, contrabando de armas leves e pesadas, lavagem de dinheiro, pirataria, prostituição e tráfico de órgãos e seres humanos, mas como agentes camuflados de muitas organizações não-governamentais filantrópicas, negócios considerados "lícitos", partidos políticos, parlamentares, empresas de comunicação, juízes, desembargadores e o próprio e mais importante aparelho de segurança do Estado: a Policia.
A expansão da corrupção política e o controle que o crime organizado exerce sobre os destinos da nação, decerto impossibilitam a materialização do cenário otimista traçado pela CIA, o que nos leva, ainda uma vez, ao refúgio de um Brasil visto e antevisto por Stefan Zweig que, curiosamente, suicidou-se (na companhia da mulher) em Petrópolis, Rio de Janeiro, no ano de 1942.
Voltaremos ao assunto.
O autor é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.
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