"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

domingo, 3 de abril de 2011

Domicílio eleitoral: o pastor e as ovelhas, o candidato e o eleitor


Tématica relacionada a fragilidade do instituto eleitoral do domicílio eleitoral. 10/nov/2008

O Art. 42 do Código Eleitoral, vem dispor sobre o Domicílio Eleitoral, onde mesmo surge de forma liberal e subjetiva, sendo tratado por vários autores como uma ficção jurídica por não dispor de forma clara e objetiva sobre o assunto que deveria ser demais prático e pacífico. Contudo, em viés de elucidativo, o Art 42 em questão, abre espaço para vários questionamentos doutrinários, entre um dos principais o conceito de domicílio. 

Se na doutrina o discurso é por  muitos encarado de forma acirrada, no dia-a-dia, esta questão é colocada conforme a oportunidade e conveniência de alguns eleitores, sendo muitos guiados pela voz viril e encantadora de muitos candidatos mal intencionados. 


A brincadeira da dança das cadeiras, é registrada através de fontes do IBGE, onde em alguns lugares a quantidade de eleitores supera a de habitantes. 


2. O Pastor e as Ovelhas 

Na Judéia, ainda é costume de muitos sobreviver em virtude da criação de ovelhas. Ser pastor de ovelhas é profissão respeitada e muito bem vista. Cada pastor tem um cuidado especial com sua ovelha, pois é ela que traz o sustento para si e sua família. 



Durante todo o dia ele anda com um grande rebanho a procura do melhor pasto, deixando que as ovelhas  se alimentem. Com o cair da noite, quando precisa descansar, reúne as ovelhas e leva-as para ficar em um redil onde um pastor pago irá tomar conta das mesmas. 


No aprisco as ovelhas de diferentes pastores ficam reunidas. Durante a noite, freqüentemente, lobos e ladrões se aproveitam do desleixo  do guardador de ovelhas (que se preocupa apenas com o que vai receber) para matar e roubar ovelhas. Pela manhã , o pastor chama as ovelhas pelo nome, pois ele as  conhece, e elas o reconhecem e o seguem. 

3. O Domicílio 

É de relevância logo de pronto diferenciar o conceito de domicílio civil para o domicílio eleitoral. O Código Civil no seu artigo 31 utiliza-se da expressão: “o lugar onde a pessoa estabelece sua residência com ânimo definitivo”. Neste, fica bem claro a vontade definitiva de ali morar. 


Civilmente, o conceito de domicílio utiliza-se de atributos objetivos – a morada – e subjetivos – o ânimo definitivo de ali ficar. 


No artigo 32 do Código Civil, quando há pluralidade de domicílios, dispõe da seguinte forma: “se porem à pessoa natural tiver diversas residências onde alternativamente viva, ou vários centros de ocupações habituais, considerar-se-á domicílio qualquer um destes ou aqueles”. 




Desta forma é necessário fazer a diferenciação nos conceitos de domicilio, residência e habitação. 


Domicílio: possui dois elementos em seu conceito: objetivo -  a morada - e o subjetivo -  o ânimo definitivo de ali ficar; 


Residência: sinônimo de moradia, local em que a pessoa vive e centraliza suas atividades, sendo inescusável a habitualidade; 


Habitação: Não se vincula com a habitualidade, ou com o centro das atividades de uma pessoa. 


Sendo assim, o conceito de Domicílio Eleitoral mescla-se do conceito de residência (habitualidade da moradia) e habitação (moradia, casa, lar no qual se vive com a família). Não se encontra coincidência entre o Domicílio Civil (domicílio natural) e o Domicílio Eleitoral (Domicílio Legal). 



4. O Domicílio Eleitoral e suas facetas 

Tomando-se por base o conceito de Domicílio Eleitoral, vislumbra-se claramente a diversidade de entendimentos  a esse  respeito. Afinal, onde fica o Domicílio Eleitoral? Basta que o eleitor o escolha, é a resposta, demonstrando e provando a justiça eleitoral. 


No mais, o ato do eleitor de demonstrar e provar onde fica seu domicílio eleitoral, restringi-se a tão somente declarar o lugar que melhor lhe convir, havendo a faculdade de dispor da opção que melhor lhe parecer. É fato que para muitos eleitores o município onde se trabalha é diferente de onde se estuda ou mora, trazendo uma idéia no âmbito eleitoral da possibilidade de pluralidade de domicílios eleitorais (legalmente não previsto)



Confirma-se desta forma que a idéia de domicílio eleitoral exterioriza-se de uma forma frágil e oportuna para os candidatos inescrupulosos e aproveitadores. 

É imperativo que se encontre critérios balizadores e norteadores que definam o Domicílio Eleitoral para que desta forma possa se combater o tráfico de eleitores. Tráfico este que é mais comumente percebido em períodos que antecedem as eleições. 



5. Mudança no Domicílio Eleitoral 

A mudança do Domicílio Eleitoral fica a critério do eleitor, ou em muitas vezes a oportunidade e conveniência do momento. Nada vincula o eleitor a determinado local, basta ao mesmo requerer sua inscrição como eleitor do novo município para o qual se mudou. 


A matéria esta disciplinada no artigo 55 do Código Eleitoral e no artigo 15 da resolução TSE n. 20.132, de 19.3.1998. 


Fica desta forma evidente a possibilidade de ilicitudes nas transferências dos domicílios eleitorais em face de sua fragilidade, e mais ainda quando os eleitores são motivados por interesses diversos, sendo inscritos em municípios onde não possuem ligação alguma a sua pessoa, a não ser a do político que angariou seu voto. 



6. O pastor e as ovelhas; O candidato e o eleitor 

O Pastor guia suas ovelhas e procura dia-a-dia  as melhores pastagens que lhe tragam uma melhor condição de vida. 


O eleitor, guiado pelo seu candidato, procura a cada eleição melhores condições de vida. 


Durante a noite, enquanto o pastor entrega as suas ovelhas para serem cuidadas enquanto pode descansar, o candidato inescrupuloso, depois que vê terminado a eleição, não mas lhe dá atenção, entrega-lhes aos ladrões e lobos da noite, e espera pelo fim do mandato. 


O pastor logo pela manhã chama cada uma das suas ovelhas pelo nome, pois as conhece, e retorna ao pasto. O candidato, ao aproximar-se o fim do mandato, procura seus eleitores e conduze-os novamente a onde melhor lhe convir.



Karlos Eduardo Gomes dos Santos 
karloscomk@hotmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário