"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

quinta-feira, 19 de maio de 2011

GOVERNO RICO, POVO POBRE


Quando se afirma que o Brasil tem uma das mais altas cargas tributárias do mundo e que os mais pobres pagam, proporcionalmente à sua renda, mais imposto que os ricos, nem sempre é possível ter presente as exatas quantidades de dinheiro e de pessoas envolvidas nesse tipo de análise.

Ao permitir comparações entre a arrecadação de tributos, os gastos do governo e das famílias brasileiras, o software ProConsumo, desenvolvido pela Fecomercio em parceria com a Tendências Consultoria, revelou que os impostos diretos como o IR (Imposto de Renda), o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) e o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) já representam o quinto maior grupo de despesas da população.

Com efeito, os gastos com impostos somam R$ 35 bilhões por ano ou R$ 2,9 bilhões mensais, superiores às despesas com vestuário (R$ 2,8 bilhões mensais) e educação (R$ 2,1 bilhões mensais) e abaixo apenas de habitação, alimentação, transporte e saúde, que, nessa ordem, ocupam os quatro primeiros lugares.

Esse ranking registra apenas os impostos diretos. É impossível saber com exatidão o quanto é dragado pelos tributos indiretos, pois incidem nos diversos produtos e serviços com alíquotas muito diferentes. Se considerarmos que os preços trazem embutidos, em média, cerca de 30% de impostos e aplicarmos esse percentual sobre o total das despesas das famílias (R$ 62,7 bilhões mensais), teremos ao menos R$ 19 bilhões gastos todos os meses com a tributação indireta, o que desbancaria a habitação e seus R$ 18,2 bilhões do primeiro lugar.

Somando os impostos diretos aos indiretos, mais as contribuições e taxas, chegamos aos quase 40% do PIB que a carga tributária representa hoje, o que nos coloca no patamar dos países escandinavos na hora de pagar ao Estado, embora não ultrapassemos em muito as nações africanas na qualidade dos serviços públicos.

Em 2004, a renda das famílias que vivem com até dois salários mínimos por mês foi de R$ 3,5 bilhões mensais, enquanto as receitas fiscais do Tesouro totalizaram R$ 28,5 bilhões por mês. Isso significa que só o governo federal arrecada por mês aquilo que 54 milhões de pessoas levam oito meses para ganhar. E, na hora de gastar, a União despende R$ 7,3 bilhões com salários e encargos de seus funcionários, mais que o dobro do que os menos favorecidos dispõem para sobreviver.

Se houvesse uma redução de 12,5% na carga tributária, sobrariam recursos para dobrar a capacidade de consumo da classe E (renda familiar de até dois mínimos). Em outra comparação, o total arrecadado em impostos apenas pelo governo federal é maior que a soma dos rendimentos dos brasileiros que ganham até dez salários mínimos.

Quando verificamos que os recursos direcionados mensalmente para o Tesouro Nacional eqüivalem aos ganhos somados de 143 milhões de pessoas (82% da população), torna-se inevitável a constatação: ou o Estado brasileiro arrecada em demasia, ou os trabalhadores ganham muito pouco, ou ambas as coisas, uma em decorrência da outra.

A conclusão é que os recursos drenados pelo Estado são os que faltam para aumentar a renda dos consumidores e ativar as vendas do comércio, a geração de empregos e até a própria arrecadação, que deveria se pautar pelo princípio de tirar pouco de muitos, em vez de fazer o oposto.

O Brasil tem, de fato, um mercado consumidor invejável, mas mantém a imensa maioria da população alijada do processo de consumo ou condenada ao subconsumo. Esse mercado potencial deveria receber maior atenção da política econômica.

Quando o Plano Real acabou com o imposto inflacionário, aumentou a renda da população de menor poder aquisitivo. O mesmo pode voltar a ocorrer se a carga tributária se reduzir ou, ao menos, se o seu resultado for devolvido à população por meio de programas sociais, em vez de sustentar uma máquina governamental perdulária e ineficiente.

Abram Szajman, é empresário é presidente da Federação e do Centro do Comércio do Estado de São Paulo e presidente do Conselho de Administração do Grupo VR.  Folha Dinheiro - 04.05.2005

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