"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Democracia fomenta economia


Idealistas defendem a democracia pelo conforto de viver sem medo de expressar opiniões ou sem a coação para aceitar que um determinado grupo tenha se apropriado do poder. Acontece que empresários pragmáticos podem ter mais interesse em defender ideais democráticos do que vários idealistas podem supor.

A democracia amplia possibilidades de negócios. Por exemplo, se toda a população só pudesse vestir um macacão azul e ler um livro vermelho, haveria uma séria limitação para o desenvolvimento da indústria têxtil e do mercado editorial.

O regime político que privilegia a pluralidade de opiniões e aceita padrões de consumo díspares viabiliza negócios criativos com trabalhos diferentes, que podem inserir e ocupar uma população crescente nos mercados da economia. Ademais, a economia de mercados viabiliza a liberdade de escolha, considerando a existência de infinitas combinações de preferências, decorrentes da complexidade da alma humana.

Quando uma obra é censurada, o trabalho intelectual não é remunerado, gastos pagos antecipadamente não são reembolsados e várias pessoas são privadas de novas fontes de renda. As perdas econômicas podem ser substanciais com a falta de democracia. Todavia, mesmo num regime democrático, não se deve falar, escrever ou fazer, o que se quer, sem avaliar as conseqüências, ainda que o regime democrático impeça a punição arbitrária por discursos, textos ou atos.

Todos devem se interessar pela coesão social, pois as revoluções comprovadamente favorecem poucos em detrimento de muitos, sem proporcionar alguma transformação benéfica e sustentável para todos.
Tanto a eclosão de revoluções quanto a formação de bolhas especulativas nos mercados financeiros decorrem da possibilidade de haver efeito manada. Nem sempre é possível identificar a liderança capaz de fazer um grupo crescente de pessoas se envolver com um tema e apoiar uma orientação sem entender o porquê.

Como detalho com mais profundidade no meu livro “Crise e Prosperidade Comercial, Financeira e Política” (Probatus Publicações), formadores de opinião, agindo em uníssono, comunicando com calma e clareza argumentos incorretos e incompletos, porém encadeados com uma lógica difícil de refutar e com palavras bem escolhidas, podem insuflar uma massa a derrubar um governo ou a contribuir para a desvalorização de uma moeda.

Por isso, o funcionamento da democracia requer lideranças, que podem ter interesses e expectativas diferentes e até divergentes, porém os líderes precisam ter um compromisso com a governabilidade. Quando acordos são inviáveis e há desrespeito às decisões de consenso (ou da maioria), tem-se um preocupante sintoma de ausência de coesão social com reflexos sobre as atividades econômicas.

Crises políticas comprometem a prosperidade econômica e social, notadamente quando um excesso na concentração de poder – sendo a concentração de renda um sintoma – impede a realização de trocas favoráveis para todos. Quem se sente auto-suficiente não é estimulado a estabelecer transações de bens, serviços e idéias. Por outro lado, miserável é quem não tem oportunidades de inserção social para estabelecer trocas.

O conceito de miséria, considerando a ausência de oportunidades, é muito mais amplo do que a simples falta de acesso ao dinheiro. Assim, a fome não é um problema estritamente econômico e, sim, político. A doação de dinheiro, ou mesmo de alimentos, aos famintos pode até ser uma solução de curto prazo, para uma situação de emergência (após uma enchente, por exemplo), mas não equaciona o objetivo primordial de inserir excluídos em um grupo, estabelecendo trocas, quando a vida é mais fácil e prazerosa, em comparação à vida solitária.

Quem procura estabelecer trocas, na realidade está reconhecendo que os outros têm algo a oferecer, ao passo que aquele que, apenas, faz doações, na essência reforça superioridade, condescendência e auto-suficiência. Por outro lado, aquele que simplesmente recebe doações, sem precisar conquistá-las ou demonstrar merecimento, pode se sentir inútil e prisioneiro. Relações de troca devem demonstrar um respeito mútuo, além de ampliar mercados.

Concluindo, problemas financeiros de pessoas, empresas e países não são resolvidos com medidas exclusivamente “técnicas”, porque tais problemas resultam de interações sociais e relações de poder. Crise e prosperidade comercial e financeira de pessoas, empresas e países resultam, portanto, de relações políticas, e sua duração dependerá do resultado de negociações que avaliem interesses, expectativas e poder dos envolvidos.
19 de fevereiro de 2005, do Jornal do Brasil.

Marcelo Henriques de Brito

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