"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Oligopólio no poder


Movidos por similares doses de populismo, pouca cerimônia ante os limites constitucionais, irreverência agressiva aos opositores, jactância de seus atos, conivência com a corrupção e “otras cositas más”, um gênero peculiar de lideranças instalou-se no poder na América Latina, sob diversas aparências e em diferentes momentos.

Ao contrário das ditaduras implantadas no passado através de golpes militares, esses líderes foram democraticamente eleitos. Mas, uma vez acomodados nos respectivos palácios presidenciais, recorrem a comportamentos ilegítimos para lá permanecerem ou promover sua substituição por aliados.

Deixando de lado casos como Venezuela, Nicarágua, Bolívia e Equador, assim como o Peru da era Fujimori, este artigo aborda duas das semelhanças entre o peronismo da Argentina e o petismo no Brasil.

Apesar das diferenças entre os dois fenômenos, o que há de comum entre eles serve de advertência a nós brasileiros.

O primeiro ponto em comum refere-se à atitude de lançar mão do aparelho estatal com intuito de manter o comando do país. É óbvio que, ao alcançar o poder, qualquer partido político do mundo usa os instrumentos públicos em seu benefício eleitoral.

Porém, o que vem se verificando no Brasil (sobretudo no mandato Lula) e na Argentina é a exacerbação abusiva dessa prática, arranhando as fronteiras da legalidade. Basta lembrar o comportamento do presidente Lula durante as campanhas de sua reeleição e de sua sucessão: desrespeitou as regras da propaganda eleitoral e, em tom desafiante, ainda disse que não se importava em pagar as multas cabíveis.

Em ambos os países verificou-se a inchação da estrutura governamental como veículo em prol do continuísmo. Em outras palavras: compra de apoio político às custas do contribuinte. Apesar da solidez das instituições democráticas, essas duas nações encontram-se sob a égide de uma modalidade de oligopolização do poder. Criou-se assim um ente difícil de ser enfrentado, pois se fortalece mediante a excessiva infiltração de interesses partidários na administração pública.

O segundo ponto em comum entre Argentina e Brasil, e resultado do primeiro, é o esmaecimento da oposição. Assim como o PJ quase monopoliza o cenário político argentino, os partidos oposicionistas brasileiros vêm gradualmente perdendo repertório, espaço e lideranças empolgantes. Em nosso país, montou-se uma coligação situacionista rocambolesca, juntando agremiações de todas as cores ideológicas, inclusive as incolores, com o único propósito de apegar-se ao poder. Enquanto isso, os partidos ditos de oposição renunciaram a agir como tal.

No limiar da campanha sucessória, corremos o risco de as candidaturas rivais à de Dilma Rousseff serem sugadas pela força centrífuga gerada pela conjugação Estado & PT/aliados. E, pior ainda, a maior parte da sociedade brasileira, entorpecida, aceita essa realidade.

Marcello Averbug

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