"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O LEGISLATIVO E A DEFESA NACIONAL


O presidente da República comanda as Forças Armadas e dirige a política externa, havendo pouco a compartilhar com o Poder Legislativo quanto à formulação dos conceitos e objetivos. No caso da Defesa Nacional, passa-se como se não devesse constar dos grandes temas que compõem a pauta parlamentar.


Convém entender este quadro e mudá-lo. Vigora entre nós a percepção social da ausência de riscos para a defesa do país, pois não temos vizinhos ameaçadores, não existe corrida armamentista na região e ruiu o sistema da Guerra Fria. Há quem pergunte para que existem as Forças Armadas.

A resposta cabe ao Executivo e ao Legislativo, que, no entanto, mal incluem a Defesa Nacional em suas preocupações principais. Ora, não é preciso um risco concreto para o Brasil manter os seus instrumentos militares adestrados e adequadamente orientados.

Basta olhar o nosso mapa e ver o mundo com os olhos no futuro: a subsistência da República Federativa do Brasil pressupõe a existência das Forças Armadas, nas quais nosso Estado soberano construiu um dos seus pilares mais importantes.

O outro pilar é formado pelo conjunto das instituições políticas, estando ambos os pilares amalgamados pelo contrato social que se expressa na Constituição.


Não percebendo perigo para a Defesa Nacional, os parlamentares ocupam-se de temas mais prementes aos quais oferecem respostas efetivas (recursos do orçamento) ou simbólicas (políticas); deste modo, criam condições para a sua reeleição, profissionais que são da política. Pois a Defesa Nacional raramente elege alguém e um especialista neste tema pouco interessará aos partidos, que são destituídos de conhecimento neste campo.

Para dedicar-se à Defesa, o parlamentar há que ser mais do que representante da sua região: é preciso encarar a dimensão nacional e internacional do Brasil.


Faltando ao Legislativo uma cultura estratégica (agradeço ao Almirante Mário César Flores esta expressão correta), as comissões de Defesa Nacional (que abrigam Relações Exteriores) subordinam este tema à segurança pública, que é grave e urgente. No entanto, sem uma especialização temática e sem comissões especializadas, o Legislativo continuará pesando pouco na Defesa Nacional.

Não basta convocar e reverenciar autoridades militares e o ministro da Defesa. É preciso ao Legislativo ser protagonista, criar fatos políticos, convidar a sociedade, as universidades e os centros de pesquisa até mesmo para assessorá-lo.


Fique à consideração dos parlamentares e partidos algumas sugestões que contribuirão para a ampliação da participação e responsabilidade do Legislativo na temática da Defesa Nacional.

Primeira, participar das decisões do emprego militar na segurança pública dos Estados; segunda, participar das revisões da Política de Defesa Nacional; terceira, pressionar o ministério da Defesa a produzir o Livro da Defesa Nacional; quarta, incluir parlamentares nos conclaves internacionais sobre Defesa; quinta, realizar seminários temáticos.

Ainda, visando conhecer a realidade da Defesa Nacional, visitar unidades militares, escolas e tropas, inclusive no exterior: em decorrência, o Legislativo votará o orçamento da Defesa com conhecimento de causa.


Em suma, se o Legislativo considerar a Defesa Nacional na sua dimensão estratégica, portanto, nacional, ampliará o seu poder neste domínio. Se não o fizer, permanecerá como Poder subalterno.




Eliézer Rizzo de Oliveira

*Artigo originalmente publicado no Correio Braziliense, Brasília, 02/05/2002.
*Fundador e membro do Núcleo de Estudos Estratégicos e professor do Departamento de Ciência Política do IFCH/Unicamp.

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