"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Rousseau e o patriotismo: em teu seio a liberdade, pátria amada Brasil?



Análise acerca da obra "O Contrato Social".


Rousseau via o amor próprio como sendo o grande vício do homem; desencadeou a propriedade privada (“isso é meu”) e, conseqüentemente a desigualdade no mundo.


Enquanto homem natural, não havia noção de propriedade, nem havia noção de coisa alguma, senão aquela agregada aos instintos de sobrevivência. O único sentimento do homem primitivo era a piedade, mas, mesmo ela, não havia da forma como a conhecemos hoje. Assim como nos animais, a piedade no estágio primata era a simples concepção de não querer mal ao outro, não significando necessariamente querer-lhe bem.

Rousseau afirma que toda a desigualdade da espécie humana deu-se a partir do advento da propriedade privada. Deve-se a esta visão de Rousseau a principal fonte de inspiração da doutrina socialista, e o motivo pelo qual é tido como precursor desta.

Percorrendo sua obra, percebe-se muitas vezes uma certa contradição. Dentro do enfoque “patriotismo”, ao mesmo tempo em que afirma que a posse originou toda a desigualdade no mundo, defende o amor pelo Estado como sendo o elixir da salvação de um povo, em seu “O contrato social”.

A defesa voraz da pátria, o respeito à lei local e à vontade geral traduz claramente o que Rousseau pensava acerca da união do povo contra as mazelas da desigualdade. Talvez ele sonhasse com o retorno do homem ao seu estado natural, já que descrevia esse tempo como sendo o mais feliz. 


Sabia de certo, porém, que tais primórdios já haviam se transformado em vaga lembrança, guardada tão somente nos instintos mais íntimos e selvagens do “bicho-homem”; preferiu então se ater, depois de denunciar sua revolta romântica, claro, ao pacto social já firmado.

Em seu “O contrato social”, Rousseau revela os caminhos a percorrer para livrar-se dos laços da dependência, fruto da desigualdade gerada primeiro pelo mais forte, depois pelo mais belo, astuto e rico. 


Mas, para atingir o “nirvana” da convivência social e, senão destruir, diminuir ao máximo o domínio de um homem sobre o outro, é preciso que o próprio homem queira libertar-se. O homem nasceu livre e, no entanto, não encontra forças para se desvencilhar das grades que o aprisionam, assim como o passarinho que vive num cativeiro e que desaprendeu a voar.

O patriotismo segundo Rousseau segue o mesmo caminho, o raciocínio é igual. Um cidadão que perde o amor pela sua pátria torna-se um homem vazio, sem lar, sem família, pois sua casa, que outrora já foram os campos, as cavernas, hoje é seu país, que o abriga e o protege dos predadores estrangeiros (bichos, povos bárbaros, ataques terroristas, neocolonialismo: a diplomacia nos protege mesmo das feras estrangeiras?)


Seus irmãos são seus compatriotas, e não mais a solidão nômade da selva ou quiçá um animal errante esperando tão somente as sobras de sua caça.

Não é raro ouvir que ser um apátrida é a condição mais indigna que pode haver. Um apátrida não tem quem o acolha, quem o defenda, quem proteja seus direitos com a soberania nacional (até quando?), quem o receba como filho depois de uma longa viagem, quem aqueça seu coração na hora da chegada, sussurrando ao pé do ouvido “você está em casa agora”, quem lhe dê um sobrenome na forma de nacionalidade. 


Um apátrida não possui um lugar para onde ir, sequer um para onde voltar, um lugar onde possa simplesmente ser clichê e dizer “lar, doce lar”.

A pátria é mais que um lar,é uma mãe, mãe gentil, como sabiamente declama nosso hino nacional. Assim como a mãe protege seu filho em qualquer condição, a pátria não abandona nenhuma de suas milhares de crias. Ela está sempre à espera, de braços abertos, mesmo quando renegada ou esquecida.

Rousseau afirma que a sociedade ideal é aquela que funciona sob convenção, assim como a família, primeiro exemplo de sociedade, e em sua forma talvez mais perfeita . Aliás, a família é um ótimo exemplo de como a dependência pode influir na construção de pactos sociais ou mesmo de determinada forma de governo; ali, enquanto há dependência, há submissão e muitas vezes o autoritarismo impera. 


Quem nunca ouviu o pai dizer: “Enquanto comer da minha comida, terá que fazer o que eu quero.” ? É fato que, enquanto o filho depender do pai para sua subsistência, deve, até porque não tem outra escolha, submeter-se à sua vontade. Mas, uma vez cessada essa relação de dependência, o filho se vê livre para ir embora, permanecendo no clã apenas se se sentir confortável para isso, apenas se esta for a sua vontade.

O mesmo ocorre com o povo e seu governo. Quando o governante domina seu povo, este não vê outra solução senão obedecer, submetendo-se então aos desmandos daquele. É o que podemos facilmente perceber nos governos de hoje; governos de um lado opressores e de outro puramente assistencialistas, que, como nos lembra a filosofia bíblica, “dá o peixe ao homem, mas não o ensina a pescar”. 


Ou seja, passam-se eras inteiras, e o governo nunca liberta o dependente de sua condição, ao contrário do pai, que deixa seu filho seguir o caminho que melhor lhe convir.

A questão é que, como já dito anteriormente, o homem ainda preserva em seu íntimo sua condição de animal. Absurdo? Então reparemos o “cio” mensal da fêmea, o feromônio que atrai o macho para o acasalamento e o porque de as mulheres voluptuosas estarem sempre no topo das listas das mais sensuais, mesmo num tempo onde magreza é status. 

Da mesma forma que o homem se inspira na própria mãe quando procura uma companheira, quando ele nasce desprovido de liberdade simplesmente desaprende a ser livre; o mesmo ocorre com uma criança que fora mimada, ela não consegue caminhar sozinha. 


Iria até mais longe, numa rompante ousadia filosófica: O homem busca sempre de um norte, uma crença em algo maior para não se sentir perdido (até mesmo um cientista ateu se curva diante da mágica da física nuclear e dos enigmas da natureza esboçados em equações complexas que tentam provar a existência da antimatéria, assim como um humanista sente o coração bater mais forte quando viaja pelo emaranhado labirinto da mente humana).

Um cardume de golfinhos, até onde se sabe, não pratica nenhum culto religioso, vivem muito bem com isso, e, para a nossa surpresa, seu sonar lhes proporciona o maior senso de direção dentre os mamíferos – eles não devem se sentir perdidos como nós, certamente. Seria, então, a religião mais um grilhão que o homem não consegue se desvencilhar?

Portanto, não é difícil imaginar o por quê de os escravos terem demorado tanto tempo para fugir para os kilombos, ou a “juventude terrorista” não ter contado com o apoio da grande massa para despor o regime violento instituído pela ditadura militar. Ao acusar a neoesquerda como “populista”, dissimulando o sentido da palavra e transformando-a em sinônimo de “oportunista”, o movimento conservador aponta para o mesmo aspecto: a dependência e a dificuldade de livrar-se dela. 


A liberdade é magnífica, quanto a isso não há o que discutir; é o tesouro do homem e, como todo tesouro guardado por piratas, é muito difícil resgatar e quase sempre é preciso muito suor e muito sangue para tê-la de volta.

O caminho longo e tortuoso em busca da liberdade tem uma rota, uma estrada: o patriotismo. É somente com amor à causa e perseverança que se derrota o inimigo. Quando o inimigo em questão se encontra dentro de nossas mentes, a trilha se torna muito mais complexa. Uma vez que a descrença e a baixa auto estima usurpa o lugar da esperança e do amor próprio, o trajeto rumo à liberdade e à harmonia torna-se quase impossível. 


Quase, porque o inimigo está dentro de nós; não é impossível aniquilá-lo, é só um pouco mais difícil. Difícil porque não se trata de umas lutas com armas, estratégias militares nem tecnologias mortíferas, mas sim uma luta de flores, amor e fé. Absurdo? Não nos esqueçamos de Ghandi, que libertou seu país sem levantar a voz nem pegar numa arma sequer.

A nossa mãe nunca vira as costas para nós; nós quem muitas vezes viramos para ela, ao desistir de lutar, ao parar de acreditar, ao desmerece-la. Nossa mãe tem fibra, passou por 500 anos de violência, escravidão, ditaduras, saques (pau-brasil, ouro, café, laranja, mão -de -obra barata, Amazônia..), ingratidão de todo tipo. E, no entanto, continua linda, majestosa, abençoada por Deus com seu clima tropical, com a beleza heterogênea de seu povo, com um futuro promissor que nunca chega.

O Brasil é o país do futuro dizem. Por que não fazer dele o país do presente? Por que não agradecer a nossa mãe da melhor forma, protegendo-a e cuidando para que ela não pereça?

Sou Brasileiro e não desisto nunca, dizem. Por que estamos desistindo agora, agora que podemos gritar sem correr o risco de sermos presos ou torturados em algum porão imundo? Por que nos deixamos submeter?

A culpa é da falta de percepção, dizem. Mas como adquirir percepção se não temos educação? E se tivermos educação, ainda sim, como detectar quem é o lobo e quem é o cordeiro, se estamos todos contaminados, se estamos todos surdos?

É por isso que esse país não vai pra frente, dizem. Por causa da ignorância. Ignorância de quem, afinal? Do povo, que quer sobreviver num mundo palpado pelo egoísmo neoliberal? Ignorância daquele que enxerga, mas não vê? E se a pedra do gênesis estiver em solo tupiniquim?

Meus heróis morreram de overdose, dizem. A solução será votar no menos pior? Esperar pelo messias? Intitular um indigno como mártir? Até quando esperaremos a chegada do “cavaleiro da esperança” ?

Assim como o antídoto é criado a partir do veneno da serpente, Rousseau defendia a busca pelo amor próprio como remédio que salvaria o povo do veneno da dependência.

Reescreveremos nossa história a partir de hoje, nós também somos responsáveis pelo conteúdo dos livros de amanhã. Pegando carona na rosa dos ventos, que ecoa em todas as direções, levemos nossa mensagem, fazendo-se entender pela língua universal, com o orgulho de quem pode tê-lo: somos “made in brazil”


Olivia Ricarte 
olivia_ricarte@hotmail.com

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