"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A Peste Integralista no Brasil


É direito constitucional crer que os homossexuais queimarão no inferno. Ou que os negros descendem de macacos e os arianos, de cisnes brancos. É lícito crer que o fato de Karl Marx ter escrito O capital comprova que o judeu só pensa em dinheiro.

Ninguém pode ser reprimido por pensar que a mulher é um ser incompleto. Sequer há crime em sentir-se atraído por criança. As concepções e as pulsações individuais são direitos individuais inarredáveis, por exóticas e desviadas que sejam.

É socialmente inaceitável que homofóbicos, racistas, pedófilos, misóginos e assemelhados afirmem positivamente suas concepções e impulsos, com palavras ou ações, ferindo comunidades frágeis ou descriminadas e, através delas, à sociedade como um todo.

Realidade que a lei toma crescentemente consciência, ao punir em forma cada vez mais ampla o racismo anti-negro, o anti-semitismo, o sexismo, a pedofilia e, ultimamente, a homofobia.

Preceitos religiosos não justificam atos anti-sociais. Quem incentivar ou praticar o bíblico “Olho por olho, dente por dente” terminará diante do delegado.

Ninguém defende hoje a condenação à morte do adúltero e da adúltera – que despovoaria nosso país!

Todos concordam que não teríamos vereadora, governadora ou presidenta, se seguíssemos a ordem da Bíblia que as mulheres “sejam submissas aos maridos” e “fiquem caladas nas assembléias [...]”!

O integralismo – evangélico, católico, mulçumano, judaico, etc. – não nasce da vontade de respeitar estritamente preceito religioso. Ele exacerba a consciência alienada e ferida das populações, para propagandear conservadorismo que viabiliza seus objetivos políticos, ideológicos e econômicos.

A família real saudita é a mais pia, a mais conservadora e a mais rica do Oriente. Edir Macedo construiu reino nesta terra prometendo a salvação na outra. Se fosse pelo papa, ele seguiria mandando sobre Roma, onde ninguém teria votado neste domingo!

O proselitismo integralista luta para formatar a sociedade segundo o seu arbítrio e a sua autoridade, apoiado no que diz ser a vontade divina inquestionável.

Ancora seu reacionarismo na negação obscurantista da racionalidade como padrão de convivência e de organização social. Os integralismos comungam na defesa da superioridade da revelação, sobre a razão; da autoridade, sobre a autonomia; da tradição, sobre o progresso.

Em sua militância, recebem o apoio magnânimo dos grandes interesses econômicos, no Brasil e através do mundo, interessados na conservação dos privilégios social.

No Brasil, o integralismo mobiliza-se contra o divórcio; contra a interrupção voluntária da gravidez; contra o reconhecimento civil da homo-afetividade; contra a escola laica, pública, de qualidade; contra os direitos plenos da mulher, etc.

Tudo em defesa de ordem natural, determinada pelos céus, onde reinam indiscutidos o patriarca, sobre a mulher e os filhos; o patrão, sobre os trabalhadores; os governadores, sobre os governados; o pastor e o sacerdote, sobre os fiéis.

No Brasil, avança a galope desenfreado o integralismo religioso, expandindo sua peste, suas sombras e suas tristezas sobre a mídia, sobre a educação, sobre a política, sobre o lazer, sobre a educação, etc., com o apoio oportunista e interessado dos representantes e autoridades públicas.

Recua o laicismo acanhado, parido em 1889 pela República elitista, e apenas estendido, às custas de duras lutas, neste pouco mais de meio século.


MARIO MAESTRI, 62 anos, é historiador e professor do Curso e do Programa de Pós-Graduação em História da UPF.

E-mail: maestri@via-rs.net

Um comentário:

  1. Sou integralista e com certeza isso não tem qualquer ligação com pedofilia. Seu texto é demagógico.

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