"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Brasil: corrupção e falta de exemplaridade


No Brasil, os exemplos comportamentais transmitidos, incluindo-se evidentemente os das elites dominantes (ressalvadas as devidas exceções), "conduzem ao crime e ao mais envilecido egoísmo".

De acordo com o levantamento de 2012 da ONG Transparência Internacional o Brasil melhorou 4 posições na percepção da corrupção e agora ocupa o 69º lugar (antes era o 73º), em 176 países. Condenações no mensalão, Lei de Acesso à Informação, demissões de alguns ministros e a efetiva vigência da Lei da Ficha Limpa teriam contribuído para a elevação (sazonal) do Brasil.

Por que sazonal? Porque uma coisa são as circunstâncias favoráveis em um dado momento, outra bem distinta é a tecitura ou estrutura cultural (fixa, permanente, imanente) e índole do brasileiro (há exceções honrosas, claro). José Bonifácio de Andrada e Silva, no seu Projetos para o Brasil, de 1823, organização de Mirian Dolhnikoff, São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 187, afirmou:

“Quando me ponho a refletir no estado e índole atual dos meus naturais [conterrâneos], e considero atentamente na sua educação e polícia, não me admiro que sejam maus e corrompidos; admiro-me decerto que o não sejam mais ainda – e pelos meios ordinários nenhuma esperança me fica da sua regeneração. Como podem ser eles virtuosos, se não são, para dizer assim, mecanicamente educados para a virtude; se desde a mais tenra mocidade os exemplos que os rodeiam os conduzem ao crime e ao mais envilecido egoísmo?”

A leitura mais acurada deste texto não deve nos conduzir, discriminatoriamente, a supor que a falta de educação seja tão-somente dos de baixo (dos pobres, marginalizados). Ela é generalizada no nosso país. Os de baixo não possuem escolarização (isso é certo). Porém, o que tanto os da underclass como os de cima não possuem, em geral, é “educação para a virtude”, que se transmite por meio da exemplaridade.

Ao contrário, no Brasil, os exemplos comportamentais transmitidos, incluindo-se evidentemente os das elites dominantes (ressalvadas as devidas exceções), “conduzem ao crime e ao mais envilecido egoísmo”. Ou seria diferente a podridão revelada no escândalo dos pareceres, capitaneado por Rosemary?

A Universidade Federal de Minas Gerais, em parceria com o Instituto Vox Populi, consoante informação de Eudes Quintino de Oliveira Júnior, realizou interessante pesquisa para avaliar como as atitudes ilícitas se desenvolvem e se enraízam na sociedade brasileira. “Uma determinada conduta que carrega carga ilícita ou um desvirtuamento ético, pela sua reiterada prática, passa a se incorporar na tábula social e ali se aloja como uma postura normal, fazendo parte do cotidiano.”

Assim é que, de acordo com a pesquisa, “não emitir nota fiscal, não declarar Imposto de Renda ou declarar a menor, tentar subornar o policial de trânsito para evitar multa, falsificar carteira de estudante, dar/aceitar troco errado, subtrair energia de TV a cabo, furar fila, comprar produtos falsificados, bater ponto para o colega de trabalho, falsificar assinaturas,” baixar música na internet sem pagar, violar regras do trânsito, levar divisas para fora do país, trazer mercadorias do exterior e não pagar impostos etc., “são atos indicativos de transgressão, mas contam com a aprovação popular, por ser a conduta plenamente justificável e receber a concordância quase que unânime.”

Os que não concordam se quedam diante da impotência de suas ações. De qualquer modo, não é virtuoso o povo (pobre ou rico) que não é educado mecanicamente para a virtude! Que, ao contrário, pelos péssimos exemplos, é educado para o crime, para a violência e para o egoísmo!


Por Luiz Flávio Gomes

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