"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

sábado, 13 de abril de 2013

O Brasil merece os políticos que tem?


Certa vez, Assis Chateaubriand irritou-se com os leitores cariocas. Ele achava feiíssima a cor do papel no qual era impresso um dos seus jornais, e mandou trocá-lo. No entanto, as vendas caíram, e ele teve que voltar atrás na sua decisão. “Cada povo tem o jornal que merece!”, bradou Chatô, referindo-se ao seu próprio vespertino.

Lembrei-me dessa história ao ouvir dois amigos discutindo sobre os atuais políticos. “O Brasil não merece esses políticos!” comentou o mais novo, ao que o outro rebateu: “Claro que merece! Os brasileiros continuam votando neles. Cada povo tem o governo que merece”.

Às vezes, o sistema democrático não produz resultados muito animadores, e não me refiro aqui à vitória, por exemplo, de uma determinada posição ideológica ou de um partido político. Falo a respeito da ética e do cumprimento das leis do país. Nessas ocasiões, o problema é dos nossos representantes? Ou os culpados somos nós, os eleitores?

Naturalmente, cada cidadão é responsável pelo seu voto, mas os políticos têm também a sua parcela de responsabilidade. Os votos que elegeram um deputado, por exemplo, não legitimam qualquer atitude sua. Ele não pode dizer: “fui eleito, logo posso fazer o que quero”.

A Constituição Federal garante juridicamente a democracia, mas ela também é feita de simbolismos. Não basta a lei para proteger o sistema democrático, é preciso um mínimo de senso comum e de ética por parte dos representantes.

Mas como exigir isso, se os políticos já estão eleitos e dão a impressão de que podem fazer o que querem? Aqui está o ponto fundamental: a democracia requer dos eleitores mais do que o simples voto. Ela pede participação, e seria um equívoco pensar que a urna é o único espaço democrático do cidadão comum.

A democracia não é uma mera pesquisa de opinião, uma aferição periódica das opções políticas da população. Não é algo estático. Quem deseja uma melhora da sociedade deve fazer valer politicamente os seus princípios e ideais.

Muitas vezes pretende-se que o Estado faça valer tais princípios, que eduque as novas gerações nesses ideais. “Quando a educação melhorar no país, aí sim teremos bons políticos”. É verdade, mas pode ser também uma grande mentira, nos casos em que esse raciocínio significar que se deve simplesmente esperar dias melhores.

Apenas reclamar dos políticos, ou do povo em geral, demonstra que não se entendeu como funciona uma democracia. Nela, a responsabilidade é pessoal, e não dos “outros”. Compete a cada um conseguir que os seus princípios e ideais não sejam princípios e ideais solitários: que muitas outras pessoas os compartilhem e os façam valer politicamente.
Por isso, as liberdades de expressão e de associação são tão importantes num Estado democrático. É aí onde se decide o jogo.

Merecemos mais, é verdade; mas também precisamos fazer por merecer. Uma boa sociedade não é resultado apenas do Estado, dos políticos. É fruto de instituições justas e de pessoas justas. E para ser justo não basta não atuar mal - não votar mal -, é preciso fazer o bem, convencer muitos outros a respeito daquilo que cada um considera como benéfico para a sociedade.


Nicolau da Rocha Cavalcanti

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