"Representava-se ontem no Sant'Anna a "Escola dos Maridos", tradução de Arthur Azevedo, e nos intervalos apresentava-se ao público a prodigiosa violinista Giulietta Dionesi. S.M. o Imperador, que desejava conhecer a tradução, tanto que supondo-o impressa mandara procurá-la pelas livrarias, aproveitou o ensejo de ir ao teatro.
O Sant'Anna achava-se repleto: platéia e camarotes ocupados por pessoas da melhor sociedade; as galerias cheias da gente que de ordinário a freqüenta. No camarote imperial achavam-se, além de SS. MM. o Imperador e a Imperatriz, SS. AA. a Sra. Princesa Imperial e o Sr. D. Pedro Augusto e camaristas de semana. O espetáculo correu na melhor ordem. A atitude do povo era de todo o ponto pacífica e cortês. Nem se quer se poderia suspeitar que houvesse ali o elemento de desordem que mais tarde se revelou.
Terminado o espetáculo, o povo que enchia o teatro procurou as saídas. A família imperial dirigiu-se para a porta, indo na frente a Sra. Princesa Imperial, seguida de Sua Magestade o Imperador, que dava o braço a Sua Magestade a Imperatriz e do Sr. Príncipe D. Pedro.
O povo encostado para os lados, abria caminho a SS. MM., em silêncio. Ao chegarem ao vestíbulo do teatro, de um pequeno grupo de pessoas de baixa classe partiu um grito estentórico: "Viva o partido republicano".
O Imperador parou imediatamente. Começou então uma confusão extraordinária. Grande número de pessoas prorompeu em vivas ao Imperador, acercando-se dele. As senhoras, tomadas de pânico, precitavam-se para o interior do teatro, de onde refluiam, empurradas pela onda dos que saiam. O tumulto generalizara-se: tanto na rua do Espírito Santo, como no largo do Rocio, nas circanias do teatro, vivas desencontrados se ouviram. Finalmente, pôde S.M. tomar o carro, seguindo acompanhado do piquete, que o guardava de espadas desembainhadas.
Ao passar, porém, pela frente da Maison Moderne, foram disparados três tiros de revólver na direção do carro que o conduzia. Asseguram-nos que um desses tiros quase alcançou o Sr. D. Pedro Augusto.
Felizmente S.M. o Imperador passou incólume. O sentimento da mais profunda indignação pintou-se em todos os semblantes dos que foram testemunhas desse baixo atentado. (...)"
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