"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O legado de Lula


Há uma relação de causa e efeito entre a degradação da política brasileira e a ação do presidente Lula. Ele a deteriorou e comprometeu a democracia através do aparelhamento de tudo, da cooptação, da compra de votos com favores, do fracionamento e da descaracterização dos partidos.

Acabou! Não há bem que sempre dure (na perspectiva dos 87% que gostaram), nem mal que não acabe (segundo a ótica dos 13% descontentes). Faço parte do pequeno grupo que não se deixa seduzir por conversa fiada, publicidade enganosa e não sente atração pelos salões e cofres do poder.

Lula chega ao fim de seu mandato em meio a um paradoxo que cobra explicações: a política e os que a ela se dedicam despencaram na confiança popular para um índice de rejeição de 92%! Ora, como entender que os políticos valham tão pouco perante a opinião pública enquanto o grande senhor, o chefe, o mandante, o comandante da política, surfa nas ondas de uma popularidade messiânica? Ouço miados nessa tuba. Como pode? Quanto mais crescia a popularidade do presidente mais decrescia o prestígio da política! E ele nada tem a ver? 




Chefiou durante quase uma década o Estado, o governo, a administração, uma fornida maioria parlamentar, o numeroso bloco de partidos integrantes de sua base de apoio, nomeou 8 dos 11 ministros do STF, estendeu seu braço protetor sobre as piores figuras da cena nacional e é a virgem do lupanar?


Eu aprecio os governantes realistas. Sei que o realismo se inclui entre as características de todos os estadistas. Seja como homem do governo, seja como chefe de Estado, o estadista lida com os fatos. Ideais elevados e pés no chão. 





Causas e consequências, problemas e soluções. 




Realismo. Isso me agrada. Mas há um realismo cínico, desprovido de caráter, que desconhece limites éticos, que se abraça com o demônio se ele puder ser útil. A história está cheia de líderes assim e apenas os olfatos mais sensíveis parecem capazes de perceber o cheiro de enxofre que exalam. Há uma relação de causa e efeito entre a degradação da política brasileira e a ação do presidente Lula. Ele a deteriorou e comprometeu a democracia através do aparelhamento de tudo, da cooptação, da compra de votos com favores, do fracionamento e da descaracterização dos partidos. Assim como atuam os desmanches de automóveis, assim operou a política presidencial com os pedaços dos partidos nacionais, comprados das fontes mais suspeitas e pelos piores meios.




Quer dizer, senhores e senhoras arrebatados pela retórica lulista, que a democracia perdeu importância e pode ser uma coisa qualquer, apoiada por qualquer arremedo de política? Não se exige mais, de quem governa, um padrão mínimo de dignidade? De coerência e respeito?

Não! Pelo jeito, basta encher o bolso dos ricos e distribuir esmolas aos pobres para que surja um novo São Francisco em Garanhuns.

Ah, Puggina! Mas com ele a economia cresceu, o número de miseráveis diminuiu e se realizaram obras importantes. Vá que seja. Mas convenhamos: era preciso muita incompetência para que a economia ficasse travada em meio a um ciclo mundial extremamente favorável. 

Pergunto: não estavam diligentemente postas pelos antecessores as condições (privatizações, estabilidade monetária e jurídica, integração ao comércio mundial, credibilidade externa, responsabilidade fiscal e estímulo ao agronegócio)? 

Estavam, sim. Faltava o que Lula teve a partir de 2005: dinheiro jorrando, comprador e investidor, no mercado internacional. E ainda assim, entre 2002 e 2009, o crescimento do PIB per capita do Brasil teve um desempenho medíocre comparado com outros emergentes e, mesmo, com a maior parte dos países da América Latina.

O Partido dos Trabalhadores se construiu mediante três estratégias convergentes. Primeiro, a rigorosa adoção da cartilha gramsciana, assenhoreando-se dos meios de formação da cultura nacional, sem esquecer-se de qualquer deles - igrejas, sindicatos, movimentos sociais, universidades, meios de comunicação, material didático, música popular. 

Segundo, combatendo tudo, mas tudo mesmo, que os governos anteriores buscavam implementar como condição para que o país retomasse o crescimento: Plano Real, abertura da economia, privatizações, cumprimento de contratos, pagamento da dívida, responsabilidade fiscal, busca de superávits, agronegócio e Proer. Tudo era denunciado como maligno, perverso, antinacional, corrupto. Terceiro, destruindo de modo sistemático a imagem de quem se interpusesse no seu caminho para o poder, até restar, do imaginário de muitos, como a grande reserva moral da pátria. Dois anos no poder bastaram para que os véus do templo se rasgassem de alto abaixo e os muitos petistas bem intencionados arrancassem os cabelos num maremoto de escândalos.

Somente alguém totalmente irresponsável ou com desmedida ganância pelo poder haveria de desejar para a nação um governo social e economicamente desastroso. Não é e nunca foi meu caso. Não escrevo estas linhas para desconsiderar o que andou bem no governo do presidente Lula. Mas não posso deixar de expor o que vi - e como vi! - de sórdido e prejudicial em seu modo de fazer política. Para concluir, temperando os exageros de uma publicidade que custou ao país, na média dos últimos três anos, R$ 900 milhões por ano, considero sensata a observação a seguir. 

Quando Lula assumiu, em 2003, os principais problemas do Brasil situavam-se nas áreas de Educação, Saúde e Segurança Pública. Passados oito anos, haverá quem tenha coragem de afirmar que não persistem os problemas da Educação e que não se agravaram os da Saúde e da Segurança Pública? Haverá 87% de brasileiros dispostos a se declarar satisfeitos com a situação nacional nesses três pilares de uma vida social digna?

por: PERCIVAL PUGGINA  



À espera de Dilma

Os partidos já funcionam como verdadeiras máfias; com o financiamento público teriam o modelo de sonhos: quem estivesse no poder dificilmente seria dele apeado.


O que esperar o novo governo de Dilma Rousseff? Em tudo e por tudo teremos o continuísmo petista, juntamente com seus aliados. Mas o movimento em espiral descendente continuará no rumo aos ideais jacobinos dos revolucionários, pois estes jamais se satisfazem com a mera chegada ao poder. Precisam implantar sua ordem revolucionária.

Dois indicadores foram dados a público, sublinhando essa realidade terrífica. Em entrevista dada à Folha de São Paulo no último domingo o futuro ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, que é o secretário geral do PT, disse que a primeira ação da pasta sob seu comando será fazer a reforma política. Falou pouco em que consistiria essa reforma, enfatizando apenas o aspecto do financiamento público das campanhas. Nas suas palavras:

"Ela é imprescindível para o país e é a tendência da presidente eleita, Dilma Rousseff. Tenho uma série de convicções a respeito, mas, como ministro da Justiça, vou construir o que for possível. Estou absolutamente convencido de que o governo sozinho, sem diálogo com o Congresso e a sociedade, jamais fará uma reforma política. É tarefa inadiável. Defendo com vigor o financiamento público".

O que significa o financiamento público de campanha? A completa autonomia da classe política em relação à sociedade civil, dando poder desmesurado aos partidos políticos vis-à-vis aos empresários e outros agentes não estatais. Os partidos já funcionam como verdadeiras máfias; com o financiamento público teriam o modelo de sonhos: quem estivesse no poder dificilmente seria dele apeado. Estaríamos a meio do caminho andado para que o Estado adquirisse completa autonomia em relação à população, fazendo desaparecer mesmo o problema da representação política.

O segundo ponto não mencionado nesta entrevista, mas que está em outros documentos partidários, é acabar com o Senado Federal, instituindo o sistema unicameral. Cardozo não pôs a mão no vespeiro, pois sabe que qualquer decisão deste quilate envolve a concordância do próprio Senado, que jamais dará o seu endosso. O Senado é o feudo do PMDB, lócus de sua própria fonte de poder. É a reforma dos sonhos do PT. Penso que algo assim só será possível obter pela força, pelo golpe de Estado, e o PT não tem ainda essa força.

Outro indicador da agenda imediata da presidente eleita está no Estadão de hoje, na entrevista de Franklin Martins. Chega a me enternecer a candura do ex-perigoso guerrilheiro. Ele, como Cardozo e toda a cúpula do PT, sentem-se tão à vontade que não têm mais o cuidado de esconder suas más intenções. Franklin anuncia que o PT quer mesmo controlar o conteúdo da mídia, isto é, acabar com a liberdade de imprensa.

Essa é a nefanda agenda preliminar de Dilma para o exercício do poder em seus primeiro meses. O que cabe a nós, os amantes da liberdade, fazer? Temos que dizer como o personagem Durandarte, desde o fundo da Cova de Montesinos, no fabuloso Dom Quixote: "E quando assim não seja - respondeu o tristeDurandarte, com voz desmaiada e baixa - quando assim não seja, paciência, e toca a baralhar as cartas".

Paciência e baralhar! Aguardemos o que nos aguarda o destino. O mal jamais terá a vitória final. Vamos baralhar, pois eles tropeçarão nos próprios pés e cometerão erros fatais.

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