"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O mundinho à parte de Brasília





Os palpites que escutei de Brasília revelavam um lugar à parte, que não existe. Uma burocracia maravilhada com suas regalias, alienada e envolvida com as propagandas do governo Lula ou mesmo prócer ou partidária das mentiras governamentais.
Se alguém com visão isenta e descompromissada tiver a oportunidade de ir à Brasília, perceberá um universo à parte do país. Não é por acaso que dizem que aquilo lá é a ilha da fantasia, dos políticos, dos funcionários públicos, dos áulicos, dos cortesãos, enfim, dos mandatários da nossa república. Seria mais ousado dizer que é um país usurpador que governa outro país. Nada do que escutei ou ouvi dos cidadãos de lá reflete realmente o que seja o Brasil. Paradoxo curioso, já que a cidade é feita de vários tipos regionais de toda a nação. Pelo contrário, eles são otimistas: qualquer governo para eles serve, contanto que ninguém mexa nos interesses sacrossantos do funcionalismo público. 


Até a visão da cidade é burocrática: monótona, uniformizada, padronizada, enfadonha, para não dizer feia. Há quem idolatre Oscar Niemeyer e Lúcio Costa e sua mais famosa produção, por assim dizer, "soviética". Brasília cheira a "realismo socialista", que de realismo não tem nada. Sobra à população o socialismo das mamatas privadas e dos riscos públicos. Se a cidade planejada queria ser democrática, Brasília consegue ser uma cidade completamente excludente: os pobres na periferia e, no centro, os donos do poder. E o transporte público, decadente e infernal. É um protótipo perfeito da nomenklatura dos países socialistas.
Além de enfadonha, Brasília costuma ser uma cidade muito cara pra se viver. Se não bastasse isso, como se explicaria que esta capital tenha o segundo maior PIB per capita do país, além de ser uma cidade que representa mais de 3% do PIB nacional? Brasília possui indústria, agricultura ou comércio pujante? Nada disso. É a capital do funcionalismo público, ou melhor, do déficit público. Como dizia o economista e ministro do planejamento Roberto Campos, Brasília é uma usina de déficits e bazar de ilusões. 


Malgrado ter dados estatísticos de cidade rica, é uma ilha cercada por cidades-satélites paupérrimas, tão feias quando a metrópole-mãe. Sem contar que a política do Distrito Federal não deixa a dever a nenhuma cidade do interior do nordeste, em matéria de escândalos, roubalheiras e clientelismo dos mais xucros. Cultura de dependência estatal é regra. Se o governo federal comprou milhões de almas com o bolsa-família, em particular, ganhando muitos votos no nordeste, não foi diferente a política do governador destronado do Distrito Federal, o Sr. José Roberto Arruda, do DEM. Ele também tinha sua dose de compra legal de votos, através de um bolsa-família distrital.
Apesar disso, os palpites que escutei de Brasília revelavam um lugar à parte, que não existe. Uma burocracia maravilhada com suas regalias, alienada e envolvida com as propagandas do governo Lula ou mesmo prócer ou partidária das mentiras governamentais. E crédula na sua autoridade sacrossanta de entidade estatal, como se os donos da papelada e da mesa do "bureau", no seu estreito mundinho da Esplanada dos Ministérios, do Congresso, do STF, STJ ou do Planalto, pudessem comandar e administrar os complexos problemas de uma nação continental, através de fórmulas prontas de portarias administrativas. Há funcionários públicos em Brasília que acreditam piamente nisso. Tal como o viés da cidade stalinista, eles acham que podem gerenciar a nação como se fossem segmentos de uma grande repartição pública da União ou de uma Gosplan soviética.


Claro que o problema do centralismo governamental é bem antigo. Porém, o governo Lula aumentou essa crença demiúrgica da burocracia onipotente sabe-tudo. Não foi por acaso que o governo criou mais de trinta ministérios, cada um mais inúteis do que outros. E como agora o Estado catou os louros da glória do crescimento econômico, o público de Brasília, que é feito de burocratas, acha que foi causador do aumento das vendas, do consumo e do boom do comércio internacional. E o pior é que muita gente acredita! Vai entender esses umbigos falantes!
Enquanto isso, eu me sentava à mesa com um amigo, que trabalhava para o Itamaraty: o sujeito elogiava a política externa do governo Lula, com relação ao Irã e à Coréia do Norte. Supostamente, em nome do livre comércio e da aliança do Brasil na Liga árabe (se bem que o Irã não seja necessariamente um país árabe, mas persa). 


Ainda que para isso o Brasil se transforme em inimigo político de quase todas as democracias ocidentais e bajule as piores ditaduras genocidas e terroristas, o meu querido amigo votou em Dilma Roussef porque ela criaria novas embaixadas nos países de terceiro mundo. O segundo turno das eleições presidenciais causou-lhe um pavor horroroso. Se José Serra se elegesse presidente, nas palavras dele, não haveria concurso público para a diplomacia. Pelo jeito que ele falou, seria capaz de se deslumbrar facilmente por conta de um carguinho diplomático na embaixada do Sudão!
Confesso que fiquei decepcionado com essas opiniões. Como alguém pode se dar ao luxo de falar tantas tolices? No entanto, talvez seja porque os neófitos da diplomacia queiram adquirir a linguagem petista e bajular os "barbudinhos", os diplomatas esquerdistas engravatados do Instituto Rio Branco. Vale tudo pra concurso público, inclusive, imitar as idéias patéticas dessa fauna caricatural. A diplomacia brasileira chegou ao seu pior momento no governo Lula. 


Meu amigo dizia que o Brasil ganhou respeito internacional. Onde? Quando? Como? A Bolívia confiscou o gasoduto da Petrobrás, aumentou a tarifa do gás e o país ficou caladinho, com um pontapé na bunda. O Paraguai aumentou artificialmente o preço da energia elétrica de Itaipu, rompeu contratos, como a Bolívia, e o Brasil arregaçou o traseiro. Inclusive, houve esquerdistas idiotas que diziam que nós éramos "exploradores" desses países.
A China gerou um boicote na soja brasileira, que gerou uma queda artificial no preço do produto, gerando um prejuízo de milhões de dólares às nossas exportações. Sem contar em nosso envolvimento patético nas relações Irã e Israel, ocasião em que o país serviu de chacota, tanto para os islâmicos, como para os judeus e os Estados Unidos. E, ainda, o Brasil se presta a usar de sua embaixada, para as políticas megalomaníacas de Hugo Chavez em Honduras. O país coleciona a cada ação diplomática, fracasso sobre fracasso. Mas isso não existe em Brasília. 


Levar chute na bunda é um caso curioso de vitória do país. Se um dia Evo Morales e os narcotraficantes da fronteira tomarem o Acre, é capaz de o governo Lula elogiar a invasão de suas fronteiras, porque supostamente os brasileiros roubaram o espaço boliviano, em troca de um cavalo. Alguém teve razão em dizer que o governo Lula é o auge do entreguismo, do rebaixamento moral e ético do povo a qualquer republiqueta hispânica. Isso não me espanta: a esquerda sempre odiou o país. Se a Ex-União Soviética, Cuba, China, Coréia do Norte, Irã ou mesmo a Venezuela de Hugo Chavez tomassem o poder neste país, a esquerda agradeceria, contrita, tal como a vadia da zona que apanha de malandro e gosta.
Brasília me causou um asco profundo. Ainda me pergunto como esse outro "país" nos governa? Captando alguns comentários e algumas idéias, agora dá pra entender, em parte, por que este país não vai pra frente. A estreiteza mental de uma cidade contamina todo um país continental.
LEONARDO BRUNO 

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