O governo brasileiro, ao inovar na economia, pode ter atingido seu intento de se fazer global, ao menos nos prejuízos. A grande novidade é, como virou tradição, bancada com dinheiro público.
Trata-se do socialismo de açougue, o comunismo de churrasco em que a população entra com a carne, a companheirada comparece com o espeto e o Executivo participa com a brasa.
A conta na qual as fortunas esperam pela mão mais leve à disposição é a do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, a mamãe BNDES.
Para citar apenas cinco enroscos dos últimos quatro anos, o BNDES entrou com R$ 21 bilhões em compras de carne (JBS), linguiça (Sadia), chester (Perdigão), papel (Votorantim/Aracruz) e varejo (Carrefour/Pão-de-Açúcar).
Esses negócios contrariam completamente a finalidade do banco e seu “Planejamento Corporativo”: "Desenvolvimento local, regional e socioambiental”. Que local, região ou área de proteção da natureza se desenvolvem investindo-se verba oficial em commodities e supermercados?
A resposta está escrita nas estrelas. Basta pertencer ao clube do bilhãozinho para entrar no cofre do BNDES (recebeu, em 2010, R$ 105 bilhões do Tesouro Nacional), seja como consultor, sócio ou lobista do esquema.
Um exemplo. O arquiteto da fusão dos secos e molhados, Abílio Diniz, integra a cozinha do governo e não é de agora. Cotado para ministro do Desenvolvimento nos mandatos de Lula e Dilma Rousseff, esnobou ambos.
Para que ganhar salário se pode abocanhar R$ 4 bilhões de uma vez? Na dúvida, optou por tudo, o recurso e a vaga, como integrante da Câmara de Gestão, Desempenho e Competitividade.
O BNDES está sob o guarda-chuva da Pasta que o empresário recusou, o Planejamento.
Na tal câmara, Abílio Diniz é conselheiro da presidente da República e colega de mesa do quarteto fantástico da Esplanada dos Ministérios: Fazenda, Desenvolvimento (de novo!) e as duas babás do escândalo dos Transportes (Planejamento e Casa Civil).
Portanto, nada mais fácil que conversar, de graúdo para graúdo, sobre um assunto mais graúdo ainda.
Para alcançar esse status, Diniz ofereceu reforçado lanche à então candidata. Era o único varão em meio a 40 luluzinhas – se fosse captação ilícita de sufrágio, cada voto das madames teria saído por R$ 100 milhões, em linguagem de BNDES.
A qualquer autoridade do Planalto ainda detentora de um pouco de decência cabe desfazer o acordo e mostrar que capitalismo implica risco maior que patrocinar acepipe.
Em linguagem de povão, o BNDES está levando o cano e quem entra por ele é a pele do brasileiro, a menos que o governo queira incluí-la no açougue com aves, bois e suínos.
A proteína carente de investimento é, em linguagem do verdadeiro empreendedorismo, a que transpira atrás de um balcão de mercearia, à frente de uma loja de roupas, enfim, o micro, o pequeno e o médio empresários, esfolados por juros e impostos, pendurados nos ganchos do socialismo de açougue.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM/GO)
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