"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

quarta-feira, 6 de julho de 2011

BNDES e o socialismo de açougue


O governo brasileiro, ao inovar na economia, pode ter atingido seu intento de se fazer global, ao menos nos prejuízos. A grande novidade é, como virou tradição, bancada com dinheiro público. 

Trata-se do socialismo de açougue, o comunismo de churrasco em que a população entra com a carne, a companheirada comparece com o espeto e o Executivo participa com a brasa.

A conta na qual as fortunas esperam pela mão mais leve à disposição é a do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, a mamãe BNDES.

Para citar apenas cinco enroscos dos últimos quatro anos, o BNDES entrou com R$ 21 bilhões em compras de carne (JBS), linguiça (Sadia), chester (Perdigão), papel (Votorantim/Aracruz) e varejo (Carrefour/Pão-de-Açúcar). 
Esses negócios contrariam completamente a finalidade do banco e seu “Planejamento Corporativo”: "Desenvolvimento local, regional e socioambiental”. Que local, região ou área de proteção da natureza se desenvolvem investindo-se verba oficial em commodities e supermercados?

A resposta está escrita nas estrelas. Basta pertencer ao clube do bilhãozinho para entrar no cofre do BNDES (recebeu, em 2010, R$ 105 bilhões do Tesouro Nacional), seja como consultor, sócio ou lobista do esquema.

Um exemplo. O arquiteto da fusão dos secos e molhados, Abílio Diniz, integra a cozinha do governo e não é de agora. Cotado para ministro do Desenvolvimento nos mandatos de Lula e Dilma Rousseff, esnobou ambos. 

Para que ganhar salário se pode abocanhar R$ 4 bilhões de uma vez? Na dúvida, optou por tudo, o recurso e a vaga, como integrante da Câmara de Gestão, Desempenho e Competitividade.

O BNDES está sob o guarda-chuva da Pasta que o empresário recusou, o Planejamento. 

Na tal câmara, Abílio Diniz é conselheiro da presidente da República e colega de mesa do quarteto fantástico da Esplanada dos Ministérios: Fazenda, Desenvolvimento (de novo!) e as duas babás do escândalo dos Transportes (Planejamento e Casa Civil)

Portanto, nada mais fácil que conversar, de graúdo para graúdo, sobre um assunto mais graúdo ainda.

Para alcançar esse status, Diniz ofereceu reforçado lanche à então candidata. Era o único varão em meio a 40 luluzinhas – se fosse captação ilícita de sufrágio, cada voto das madames teria saído por R$ 100 milhões, em linguagem de BNDES.

A qualquer autoridade do Planalto ainda detentora de um pouco de decência cabe desfazer o acordo e mostrar que capitalismo implica risco maior que patrocinar acepipe.

Em linguagem de povão, o BNDES está levando o cano e quem entra por ele é a pele do brasileiro, a menos que o governo queira incluí-la no açougue com aves, bois e suínos.

A proteína carente de investimento é, em linguagem do verdadeiro empreendedorismo, a que transpira atrás de um balcão de mercearia, à frente de uma loja de roupas, enfim, o micro, o pequeno e o médio empresários, esfolados por juros e impostos, pendurados nos ganchos do socialismo de açougue.

Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM/GO)

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