"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O novo jogo da direita


Em 1989 o professor René Dreifuss publicou “O Jogo da Direita na Nova República”, um clássico da análise política brasileira. 

A obra disseca a trajetória do “Centrão”, o bloco conservador na Constituinte (1987-1988), além das manobras de Sarney e cia. Por ser este autor parte da leitura obrigatória na área, aporto ao termo conceitual empregado nos anos ’80 por Dreifuss um reverencial neologismo.

Já é de rotina receber informações, no formato de denúncias, afirmando haver nichos de corruptos em algum órgão da União. Até aí nenhuma novidade, nem de parte da mídia brasileira, e menos ainda do mau comportamento político de operadores com envergadura nacional.

Esta semana nos deparamos com a denúncia de suposto esquema de corrupção no Ministério dos Transportes, no primeiro escalão do ministro Alfredo Nascimento. 

Simultaneamente, veio a notícia de que o BNDES pode entrar com alguma participação na fusão das redes de varejo Pão de Açúcar e Carrefour, apoiando a família Diniz na troca de sócios.

Se as denúncias forem verídicas, no MT, trata-se de mais do mesmo. De um lado do balcão, os detentores de cargos-chave maximizam negócios, também gerando dificuldades para vender facilidades. Do outro lado, o Estado que segundo os cânones do neoliberalismo deveria ser diminuto em seu poder de investimento, é na verdade sustentáculo de fusões e concentrações.

Assim, gera perda de concorrência capitalista, desnacionalizando setores inteiros, mandando divisas embora, possibilitando tanto a cartelização de preços como o desemprego decorrente da racionalização administrativa.

Se há algo surpreendente nisso tudo, não é o Tesouro Nacional bancar a conta sempre. A surpresa está no fato da oposição tucano-democrata chiar enquanto a suposta aliança de centro-esquerda, tenta contemporizar.

É um paradoxo atual.

Uma direita reclama da outra direita por haver se aliado com seus antigos adversários políticos, estes que em algum passado longínquo já foram de esquerda.

No fim, o pior da cultura política brasileira se une ao motor de concentração econômica em todos os governos – como no de Lula com a fusão da Brasil Telecom com a OI e no de FHC, com a criação da AmBev – gerando uma forma contemporânea de conservadorismo e desnacionalização.

No novo jogo da direita brasileira, ela tem o dom da ubiqüidade, pois está em todo o lugar, hegemonizando a oposição formal e condicionando os governos a aceitar pactos de governabilidade, pagando o preço que for preciso para isso.

 Bruno Lima Rocha é cientista político

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