Em 1989 o professor René Dreifuss publicou “O Jogo da Direita na Nova República”, um clássico da análise política brasileira.
A obra disseca a trajetória do “Centrão”, o bloco conservador na Constituinte (1987-1988), além das manobras de Sarney e cia. Por ser este autor parte da leitura obrigatória na área, aporto ao termo conceitual empregado nos anos ’80 por Dreifuss um reverencial neologismo.
Já é de rotina receber informações, no formato de denúncias, afirmando haver nichos de corruptos em algum órgão da União. Até aí nenhuma novidade, nem de parte da mídia brasileira, e menos ainda do mau comportamento político de operadores com envergadura nacional.
Esta semana nos deparamos com a denúncia de suposto esquema de corrupção no Ministério dos Transportes, no primeiro escalão do ministro Alfredo Nascimento.
Simultaneamente, veio a notícia de que o BNDES pode entrar com alguma participação na fusão das redes de varejo Pão de Açúcar e Carrefour, apoiando a família Diniz na troca de sócios.
Se as denúncias forem verídicas, no MT, trata-se de mais do mesmo. De um lado do balcão, os detentores de cargos-chave maximizam negócios, também gerando dificuldades para vender facilidades. Do outro lado, o Estado que segundo os cânones do neoliberalismo deveria ser diminuto em seu poder de investimento, é na verdade sustentáculo de fusões e concentrações.
Assim, gera perda de concorrência capitalista, desnacionalizando setores inteiros, mandando divisas embora, possibilitando tanto a cartelização de preços como o desemprego decorrente da racionalização administrativa.
Se há algo surpreendente nisso tudo, não é o Tesouro Nacional bancar a conta sempre. A surpresa está no fato da oposição tucano-democrata chiar enquanto a suposta aliança de centro-esquerda, tenta contemporizar.
É um paradoxo atual.
Uma direita reclama da outra direita por haver se aliado com seus antigos adversários políticos, estes que em algum passado longínquo já foram de esquerda.
No fim, o pior da cultura política brasileira se une ao motor de concentração econômica em todos os governos – como no de Lula com a fusão da Brasil Telecom com a OI e no de FHC, com a criação da AmBev – gerando uma forma contemporânea de conservadorismo e desnacionalização.
No novo jogo da direita brasileira, ela tem o dom da ubiqüidade, pois está em todo o lugar, hegemonizando a oposição formal e condicionando os governos a aceitar pactos de governabilidade, pagando o preço que for preciso para isso.
Bruno Lima Rocha é cientista político
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