Vinicius Viana Gonçalves
09/07/2016.
O presente artigo trata da percepção, da conjuntura política e da visão do que é democracia, enaltecendo sua evolução no Brasil, observando as mudanças e os reflexos de situações políticas atípicas, como o processo de impeachment.
A democracia talvez seja um dos conceitos mais abstratos que
conhecemos, mas um dos mais vitais para as conquistas de direitos que a
humanidade conhece. O Brasil ainda é uma nação que experimenta a juventude de
uma democracia, e ainda necessita de muita cautela e dedicação para que
possamos amadurecê-la ao ponto de vislumbrarmos mudanças significativas, a fim
de nos distanciarmos novamente desta Republica Velha, ou Republica Velhaca. Com
isso, buscarmos ferramentas para solucionar problemas tão gritantes em nossa sociedade,
que ainda enxerga a política como algo negativo e soturno. Portanto, analisar
esta questão visa não só garantir a manutenção dos nossos direitos básicos como
a fortalecer os canais democráticos em todas instancias do poder público,
assim, propondo e realizando as significativas mudanças estruturais garantindo
os direitos básicos de nossa Constituição federal.
Análise do espectro
político brasileiro, na atualidade.
É possível dizer que o Brasil é um país que goza de uma
democracia jovem, ainda é um país que está aprendendo a caminhar, embora possua
mais de quinhentos anos, apenas cinco presidentes em noventa anos conseguiram
terminar seus respectivos mandatos.
Talvez a nossa frágil democracia tenha uma explicação no
fisiologismo, que ao longo dos anos tem se tornado tão aparente nas manchetes
jornalísticas, nas redes sociais e nos meios de comunicação em geral. Partidos
e coligações inacreditáveis no campo ideológico, mas que servem aos interesses
de uma casta política que necessita manter a direção do poder.
Para entendermos o Brasil, necessitamos de um pouco de
paciência, fazer uma digressão filosófica - e porque não poética -, porém é
fundamental introduzir, para, num breve momento, entendermos a seguir muito
concretamente do que se trata estrategicamente a questão política brasileira.
Até os anos 80, o ambiente onde se perseguia a tão sonhada
democracia, o país ainda era um ambiente soturno e carregado, e Isso acontecia,
enquanto o mundo passava por
convulsões extremadas, derivadas da
negação dos valores estratégicos, e nós tínhamos uma substancial crença
revolucionária na nossa capacidade de mudar o mundo, mudar o país.
Modernamente, se percebermos, houve uma transição dramática,
sobre aquilo que acreditávamos que aconteceria com todo espectro político de
nossa recente democracia.
A eleição de 2014 trouxe essa onda conservadora, o que
torna-se impressionante, após as manifestações
de junho de 2013, não acreditaríamos que nosso Congresso nacional se
tornaria um lugar pouco legítimo e
representativo da sociedade brasileira,
e que o mesmo ganharia uma força descomunal.
Essas mudanças na correlação de forças demonstra uma perda
de nossas bancadas progressistas da esquerda em nosso parlamento, e um
fortalecimento das bancadas conservadoras-reacionárias como observamos no atual
cenário político.
Apesar do prestígio, do ex-presidente Luís Inácio Lula da
Silva, que deixou seu governo com 87% de aprovação a degradação notável de seu
partido, o PT, que vem constantemente sendo associado com inúmeros casos de
corrupção, colaborou para essa crescente mudança no espectro político,
culminando nesse renascimento das forças conservadoras em nosso país.
Porem, temos que lembrar, que ao longo dos governos do PT,
este deu uma guinada ao “centro”, compactuando alianças com partidos mais
conservadores, inclusive em outros momentos com figuras políticas por exemplo,
o deputado federal pastor Marcos Feliciano (PSC-SP) , o ex-presidente da Câmara
Federal, deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) , deputado federal Paulo
Maluf(PP-SP), entre outros, que foram
importantes figuras no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
É sabido que o
Partido dos Trabalhadores, que fora talvez a mais importante representatividade
da esquerda neste país, acabou não promovendo importantes reformas estruturais,
propostas que eram apresentada nos anos oitenta, que mesmo o PT não se
apresentando como um Partido Socialista,
este defendia um reformismo forte e intrínseco, mudanças extremante importantes da sociedade
brasileira e no entanto , depois de 13
anos no governo, percebemos que
propostas como regulamentação da mídia
no país, uma reforma tributária
progressiva e uma real reforma agrária, ficaram muito deficitárias, se
compararmos com o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
assentando muito menos famílias do que o governo citado.
Com isso, decepcionando, inclusive os próprios movimentos
sociais, que foram os grandes articuladores para a eleição do então candidato
Lula e a manutenção dos governos petistas.
Outro importante fator para o desgaste do governo petista
foi calcado nas eleições de 2014, onde a então candidata a reeleição Dilma
Rousseff, defendia uma plataforma de esquerda, inclusive afirmando em campanha
que não mexeria em direitos trabalhistas e também reajustando tarifas entre
outras medidas contraditórias, logo após a confirmação da reeleição.
Dilma também sofreu até mesmo dentro de seu próprio partido,
onde não era vista como uma unanimidade, sendo criticada por correligionários
importantes como o Senador Lindbergh Farias (PT-RJ) por conta dos ajustes
fiscais, exigindo a saída do então ministro da fazenda Joaquim Levy e também por quadros extremamente
conservadores em ministérios como da Senadora Katia Abreu, que compõem a dita,
bancada ruralista.
Outro reflexo no governo foi o fortalecimento de bancadas,
como a bancada do agronegócio, a bancada “da bala”, composta de ultra
reacionários que defendem teses do século retrasado, e a bancada
religiosa, responsável pelo espetáculo
hediondo de citações religiosas na sessão de votação do impeachment da
presidente Dilma Rousseff além de
propostas vistas como retrocessos na luta de ampliação de conquistas sociais.
Casualmente a bancada religiosa, foi a que obteve o maior
crescimento, agrupando também movimentos similares pré-golpe de 1964 como a
“Marcha da família com Deus pela Liberdade, entre outros que defendem o retorno
dos militares ao poder, entre outras teses que representam um claro
retrocesso”.
De fato, o governo petista conseguiu projetar essa situação
delicada, não só por perder toda sua base de forma acelerada, como por conta do
fisiologismo e do sistema político, que embora seja o sistema vigente,
demonstra estar totalmente corrompido e arcaico, corroborando para
instabilidade democrática que vivemos.
Uma de nossas incoerências, sinteticamente, nos introduz ,
que a pouco mais de vinte anos atrás, a nossa democracia estava
infindavelmente ameaçada, ao passo que
atualmente, com o aumento da cultura e da informação da população, e excluindo
pequenos grupos, a nossa sociedade
entende e é incapaz de contestar a democracia em favor de regimes autoritários.
Outra que podemos citar refere-se a nossa dificuldade em
construir interesses gerais de modo que a representação se enxerga sem
representatividade caso a mesma não compactue com o atual sistema político, ou
seja, desta forma não se iguala as condições de representantes e representados,
apenas ressalta seus respectivos discursos, que partem de lugares distintos,
pois este mecanismo de separação entre representantes e representados é
primordial para que possamos, principalmente, delimitar os espaços da política;
sem isto , esse espaço obviamente não existiria.
Observação da crise política no Brasil.
Nossa crise política é uma construção que vem sendo feita
antes mesmo de podermos respirar nossos atuais ares democráticos. Isto acontece
desde os tempos de Getúlio Vargas, passando pelo golpe militar de 64 e
crescendo de maneira exponencial até chegarmos aos dias atuais.
Esta crise também é um reflexo óbvio de nossa sociedade,
ainda carente de cultura e de padrões de comportamentos contrários a
corrupção. Se partíssemos de uma tese de
que há uma crise política em nosso país desde os recentes anúncios de casos de
corrupção, esta não traria grandes dificuldades em ser desmentida.
Mas quais rumos nosso país seguirá?
A crise política que se agravou em nosso país e foi proposta
de alguma forma pelo governo de Dilma Rousseff, cai como uma luva na teoria de
“Luta de Classes” que Marx já debatia séculos atrás. Tal luta demonstra a
divisão aparente, mais acentuada agora com o impedimento da presidente.
A crise economia é outro fator de pessoa ser analisado. A
inflação e o alto desemprego são dois fatores que serviram como combustível
dentro do cenário interno, e mesmo com bons programas sociais como o “Bolsa
Família”, a falta de investimentos de infraestrutura, e nas cadeias
educacionais refletem na ampliação da crise que se instalou com certa
gravidade, somados a questões que deixaram a sociedade brasileira indignada,
como por exemplo, o Legado da Copa do Mundo, que deixaram centenas de obras
ainda em 2016 no status de inacabadas. Alguns deles viraram esqueletos
abandonados, um significativo descaso com o dinheiro publico.
No Brasil, nos de fato temos um problema estrutural, que se
dividem em dois tipos, onde um agrava a percepção e a tentativa de abordagem do outro. Uma coisa é a questão da conjuntura, e a
outra é a questão da estrutura do país, nossos problemas estruturais são
realmente graves, que tem a ver com nosso problema de tentar adiar eternamente,
nestes ciclos correntes de “Stop and Go!”, momentos razoavelmente
confortáveis, onde esquecemos do
problema e nos lembramos apenas nos momentos de grande dificuldades, sem
condições de resolve-los, e isto tem sido nossa prática de lidar com os
problemas recorrentes de crises e escândalos políticos.
Toda ou qualquer veleidade de uma reforma política, foi
jogada na lata do lixo, em torno da dinâmica de favorecimento da alta casta
política, como observamos no projeto proposto e votado em 2015 pelo congresso
nacional, e isto nos faz questionar: Será que por detrás do êxito civilizatório
há um padrão, a ser replicada, a pista de uma reforma estrutural que precisamos
celebrar, e de forma inadiável?
Isto parecer ser uma premissa do desenvolvimento, por trás
de uma institucionalidade deveras anárquica, pode ser inviável se não
encontrarmos um alto nível bruto, de formação de capital, porem, enquanto o
governo administrar muito mal as suas responsabilidades, continuará a passar um
sinal desagradável para a sociedade, que em sua maioria clama por governos mais
voltados a realização de reformas primordiais.
Isto gera uma raiva e um rancor, que fomentam o moralismo a
serviço da imoralidade e o golpismo oriundas das elites plutocratas
brasileiras, que já começam a formular suas estratégias de interrupção de nossa
democracia.
O preço caro é que a grande maioria da população mais pobre
estava em crescimento social, melhorando suas perspectivas de vida a cada dia
há pelo menos mais de 12 anos, visualizando com segurança ser para todo sempre,
prevendo sua prole livre das humilhações e condições que seus progenitores
jamais tiveram. E agora, em uma crescente decadência.
Também percebemos o Congresso, que deveria enfrentar as
despesas criminosas e imorais que são os financiamentos bancários, propõem
cortes em programas sociais, demonstrando assim, a face nefasta da plutocracia
escravagista brasileira, que além de perder o pudor na medida em que os atuais
governos de esquerda falham na tarefa de administrar a sociedade e a economia
como um todo.
O Brasil ainda é um país que tem um déficit de médicos,
professores, policiais e Forças Armadas do que realmente precisa. Há muitas
distorções sobre a falácia de que o Estado Brasileiro tem muito serviço pulico,
quando na verdade, este numero não chega a 6% da população.
A eliminação de ministérios, que começou no governo Dilma e
se estende para o governo do presidente interino Michel Temer, é uma medida que
talvez não se tenha tanta efetividade, além do símbolo, pois não é razoável
exigir austeridade da sociedade brasileira e permitir que os altos gastos do
congresso permaneçam como estão, tornando a pratica de austeridade apenas nos
setores críticos de nossa sociedade. O Governo aumentou a taxa de juros, sua
maior e mais conhecida despesa, e esta permitindo a queda da receita publica em
padrões nunca assistidos na historia democrática contemporânea.
Romper as instituições democráticas é introduzir em nosso
país uma perspectiva negativa de pelo menos 20 anos de instabilidade política
no País. Em uma democracia madura a impopularidade de um governo deveria ser
apurada nas eleições, pois é necessário que qualquer governante encare os
momentos de impopularidade, de incompreensão para que assim, tenha autonomia
para fazer o que necessita ser feito. E
com mais este processo, o Brasil chega lidera com o maior numero de presidentes
impedidos na historia do Direito Constitucional moderno. Talvez, este preço, mais adiante seja cobrado
de maneira muito cara por conta de uma visível imprudência patrocinada por uma
fração da elite brasileira.
A
grande tarefa dos pensadores neste momento é reunificar os compromissos
fundamentais e de totais interesses de nossa ainda imatura democracia.
Precisamos demonstrar a população que o mundo político não é um pardieiro de
pilantras sem exceção, e que democracia não é um regime de concessão, e sim um
regime de conquistas. Nosso povo necessita fazer um grande esforço, para
selecionar e separar o “joio do trigo”, pois somente com uma democracia
fortalecida e com participação popular, pois , para o bem, u par ao mal, nós
escolhemos nossos representantes, e nós somos responsáveis por moralizar ou não, nossos representantes.
Não
esqueçamos, para relativizar um pouco nosso drama, que o Brasil ainda não
inteirou 35 anos de democracia, e este, é o mais longo período de vivência
democrática que vivemos,.
Precisamos sim, fazer um esforço, não sermos levianos e lutar para que
tenhamos um país pleno e forte para gozo e evolução de nossos direitos
fundamentais.
Pois não existe
democracia sem informação, e somente a população poderá consertar os problemas
que nossa jovem sociedade precisa.
A presença forte do povo fortalecera demonstrando para as
estruturas representativas, a importância da participação política na condução
do desenvolvimento social da nação.
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